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Rússia e Ucrânia iniciam conflito pela Crimeia

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R7

O pró-europeu Arseni Yatseniuk assumiu na última quinta-feira (27) o governo de uma Ucrânia ameaçada de quebra e em plena queda de braço com a Rússia, enquanto a preocupação dos ocidentais com a situação na Crimeia aumenta.

A nomeação de Yatseniuk coincidiu com o reaparecimento do presidente deposto Viktor Yanukovich, que deve conceder uma entrevista coletiva à imprensa na sexta-feira em território russo.

Crimeia

O Parlamento ucraniano designou na quinta por unanimidade Yatseniuk como primeiro-ministro do governo de transição.

Aos 39 anos, este ex-ministro da Economia e das Relações Exteriores vai comandar o governo de união nacional até a eleição presidencial antecipada prevista para 25 de maio, para a qual afirmou que não será candidato.

Sem rodeios, Yatseniuk falou da gravidade da situação em que o país se encontra em várias frentes. "A integridade territorial está ameaçada. Vemos manifestações de separatismo na Crimeia",declarou.

"Eu disse aos russos: não nos enfrentem, somos amigos e parceiros", acrescentou.

No âmbito econômico, "os cofres públicos estão vazios, tudo foi roubado. Não prometo melhorias, nem hoje nem amanhã. Nosso objetivo principal é estabilizar a situação", disse Yatseniuk.

Segundo ele, a dívida pública atinge R$174 bilhões (75 bilhões de dólares) agora, ou seja, o dobro de seu nível de "2010, quando Yanukovich chegou ao poder".

"Não temos outra solução, a não ser adotar medidas impopulares", disse.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) recebeu nesta quinta-feira um pedido de ajuda oficial da Ucrânia e está "preparado para responder", indicou sua diretora geral Christine Lagarde. A Ucrânia havia indicado anteriormente que precisava de uma ajuda de 35 bilhões de dólares nos próximos dois anos.

Depois de uma queda de 5% na quarta-feira, a moeda ucraniana, a hryvnia, afundou quase 7% nesta quinta. Ela perdeu um quarto de seu valor desde o início do ano.

Crimeia desperta preocupações

Com a situação mais calma em Kiev, as atenções se voltaram para a república autônoma da Crimeia, uma península de maioria russa do sul da Ucrânia, que provoca grande preocupação entre os ocidentais.

No início do dia, dezenas de homens armados tomaram as sedes do Parlamento e do governo locais, em Simferopol, capital da Crimeia, e hastearam uma bandeira russa.

O Parlamento, controlado por pró-russos desde o início desta quinta, votou pela realização de um referendo por mais autonomia marcado para o dia 25 de maio. Ele também afastou o governo provincial após uma votação a portas fechadas.

A Crimeia, povoada majoritariamente pela etnia russa, é a região da Ucrânia onde o risco de rejeição às novas autoridade em Kiev é maior. Ela já pertenceu à Rússia antes de ser anexada à Ucrânia soviética em 1954.

A ação do grupo armado foi classificada de "perigosa e irresponsável" pelo secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen. Ele manifestou sua preocupação com os recentes acontecimentos na Crimeia, e exortou a Rússia a evitar "qualquer ação que possa provocar uma escalada" na crise ucraniana.

O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou nesta quinta que a Rússia se comprometia a "respeitar a integridade territorial da Ucrânia", durante uma conversa por telefone com seu homólogo russo Serguei Lavrov.

Nessa conversa entre os dois ministros na manhã desta quinta, Moscou também deixou claro que não está por trás da situação na Crimeia, declarou Kerry.

A Lituânia, que ocupa a presidência mensal do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pediu que a Rússia converse "diretamente" com a Ucrânia com o objetivo de evitar um "conflito regional".

O ministro ucraniano do Interior interino, Arsen Avakov, anunciou que a Polícia e as forças especiais estão em alerta com o objetivo de evitar "um banho de sangue em meio à população civil" e confrontos armados.

No Parlamento ucraniano, o presidente interino Olexandre Turchinov advertiu Moscou para uma tentativa de utilizar sua frota, com sede na cidade de Sebastopol. "Falo aos líderes militares da frota do Mar Negro: todos os militares devem permanecer no território previsto pelos acordos. Qualquer movimentação de tropas armadas será considerada uma agressão militar", declarou.

A Rússia indicou que vai respeitar os acordos assinados com a Ucrânia. "Atualmente, todas as divisões e unidades realizam suas atividades cotidianas, incluindo as relacionadas à preparação para o combate. Esses atos não representam ameaça alguma. Não há limitação jurídica alguma para isso", declarou o vice-ministro russo da Defesa, Anatoli Antonov.

Coletiva de Yanukovich

Enquanto isso, o ex-presidente Viktor Yanukovich, que não dava sinal de vida desde a sua destituição pelo Parlamento no sábado, reapareceu na Rússia, onde ele pediu e conseguiu proteção contra os "extremistas".

O ex-presidente é procurado na Ucrânia por "assassinatos em massa", depois da morte de 82 pessoas, incluindo 15 policiais, em Kiev na semana passada.

Ele deve conceder uma entrevista coletiva à imprensa nesta sexta-feira às 17h (10h de Brasília) em Rostov-sur-le-Don, cidade situada perto da fronteira com a Ucrânia, a cerca de 200 quilômetros de seu reduto em Donetsk.

"Eu ainda me considero o chefe de Estado ucraniano legítimo", disse ele em uma discurso "ao povo ucraniano" divulgado pelas agências de notícias russas.

"O que acontece hoje no Parlamento da Ucrânia é ilegítimo", acrescentou. "Vejo-me obrigado a pedir às autoridades da Federação da Rússia que garantam a minha proteção pessoal frente às ações praticadas por extremistas", acrescentou.

Consultado a respeito, o porta-voz do presidente americano Barack Obama, Jay Carney, considerou que ele "renunciou as suas responsabilidades e comprometeu sua legitimidade" ao fugir de Kiev depois de ter assinado um acordo com a oposição.
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