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Alvarenga: Barão da Maré impõe medo e assistencialismo

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Alvarenga,Favela da Maré
Com uma arma na cintura, Alvarenga conversa tranquilamente na rua com comparsa armado de fuzil

Diogo,Favela da Maré
Diogo (E), irmão de Alvarenga, teria pedido para fazer foto com Adriano
Vânia Cunha, O Dia

Rio, RJ. A polícia caça uma mulher, traficante da Favela Nova Holanda, acusada de recrutar outras jovens, inclusive menores, para fazer o transporte de munições do Paraguai para a Favela Parque União, no Complexo da Maré, reduto do traficante Alvarenga, conforme O Dia noticiou nesta quarta-feira.

Ontem, Kathleen Priscila Marques Barbosa, de 19 anos, e Angélica Moreira Chaves, de 18 anos, além de duas menores, foram presas a caminho da comunidade com duas mil munições de fuzil 5.56. Elas foram presas por policiais da 21ª DP (Bonsucesso), juntamente com PMs do Grupamento Transportado em Ônibus Urbano (Gptou), quando iam entregar a carga.

Segundo as investigações, as mulheres recrutadas vão para o Paraguai de avião, pegam a mercadoria e retornam ao Brasil de ônibus. Na chegada, param em um hotel e montam um colete, usando a munição e fita adesiva. Ainda de acordo com o delegado José Pedro Costa, foi constatado que o esquema é facilitado por funcionários de companhias aéreas e rodoviárias, que emitem as passagens e evitam qualquer impedimento para que as jovens viajem e possam trazer o material para o Rio.

O delegado disse que cerca de seis mulheres realizam esse trajeto toda semana, e recebem R$ 2 mil por cada entrega. Kathleen e Angélica vão responder por corrupção de menores, formação de quadrilha e porte ilegal de munição de uso restrito. Já as menores foram autuadas por fato análogo aos crimes de formação de quadrilha e porte ilegal de munição de uso restrito.

Tudo é feito com aval do chefão Alvarenga, o que consolida o Parque União como maior reduto do Comando Vermelho atualmente, conforme O DIA mostrou.

Favela da Maré
Mulheres faziam 'colete' com as munições, prendendo-as com fita adesiva

Barão da Maré

Enquanto forças de segurança do Rio não ocupam o Complexo da Maré, traficantes de drogas da região vão fortalecendo o mundo paralelo em que vivem. E nesse reino — logo ali na Avenida Brasil —, vive o ‘intocável’ Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, barão das drogas na Favela Parque União. Procurado pela polícia desde 2006 e com seis mandados de prisão ativos, ele é um dos únicos líderes da facção criminosa Comando Vermelho que nunca foi preso.

Protegido por um séquito de 150 bandidos armados em sua quadrilha, Alvarenga é escorregadio e quase não circula pela favela, para não ser visto. Tanto que, nos bancos de dados da Segurança Pública, a foto existente do criminoso é a de sua primeira carteira de identidade. Suas aparições públicas são raras e por isso ele é tido como um ‘fantasma’ na favela. Nas escassas vezes em que circula, o barão está acompanhando o movimento das bocas de fumo, armado e cercado por seguranças.

São pouquíssimas as pessoas que sabem onde o criminoso mora. Para manter o sigilo de seu endereço, ele pede aos seguranças que o deixem a metros de distância da casa e manda esvaziar a rua: enquanto ele entra, ninguém pode ficar nas janelas para ver qual é o imóvel. A obediência dos moradores não foi algo difícil para Alvarenga conquistar porque, além do poder bélico, ele faz a linha assistencialista e ajuda muitas pessoas.

No domínio de Alvarenga, desfile de armas e drogas é mais do que permitido, é quase obrigação. As bocas funcionam a todo vapor dia e noite, sempre protegidas por homens fortemente armados. Os fuzis e metralhadoras são ostentados como troféus durante e depois dos bailes funk da favela, um dos mais concorridos da cidade. Regados a drogas e bebidas, os eventos promovidos por Alvarenga recebem frequentadores de vários lugares, de moradores da favela a ‘patricinhas’ da Zona Sul.

O Parque União é hoje um dos maiores distribuidores de drogas da facção. De lá, saem carregamentos que abastecem favelas como a Cidade Alta, em Cordovil; Vila Kennedy, em Bangu, e Antares, em Santa Cruz, bem como comunidades de Duque de Caxias e São João de Meriti, na Baixada. O faturamento mensal da quadrilha é de mais de R$ 5 milhões, sendo que só uma das cargas transportadas para as demais comunidades custa em torno de R$ 2 milhões.

Alvarenga é um dos poucos traficantes que tem autonomia dentro da facção e não recebe ordens. Boa parte de seu status foi adquirida pelo fato de ter sido cunhado e homem de confiança do traficante Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, morto pela polícia em 2011. Na ocasião, Alvarenga era um dos alvos da operação policial, mas conseguiu escapar.

Crack entregue no asfalto

Uma das pedras no sapato das autoridades, a cracolândia do Parque União também faz parte do domínio de Alvarenga. O efeito devastador do crack — que transformou centenas de pessoas em ‘zumbis’ que povoam a Avenida Brasil, em torno da favela que alimenta seu vício — não impede o traficante de manter seu negócio. Somente a venda das pedras movimenta para a quadrilha cerca de R$ 700 mil por semana.

Para manter a alta lucratividade, Alvarenga ordenou apenas que os ‘zumbis’ não entrem na favela, para não espantar a freguesia dos outros entorpecentes. Mas o dinheiro dos viciados, ao contrário da presença deles, é sempre bem-vindo. O traficante mandou criar um sistema ‘delivery’ para continuar vendendo aos viciados na Avenida Brasil: uma pessoa da quadrilha vai lá fora, pega o dinheiro arrecadado e entrega as pedras para o consumo. O crack vendido no Parque União vem de fora do estado, basicamente de São Paulo, destino final de uma conexão que começa na Bolívia.

Irmão frequenta boates

Família que trafica unida, permanece unida. Este é o lema na casa do barão do crack, que tem nos dois irmãos seus seguidores mais fiéis. Na hierarquia da quadrilha, Diogo de Souza Barbosa é o segundo homem, que assume o comando na ausência do primogênito Alvarenga.
Considerado sanguinário e problemático, ele é temido pelos moradores da favela porque impõe seu poder na ponta do fuzil. Prova disso é sua extensa ficha criminal, com anotações por roubo, tráfico e homicídio.

Na comunidade, nada acontece sem o aval do irmão do meio de Alvarenga que, ao contrário do mais velho, gosta de ostentação e circula em hotéis e boates badaladas, inclusive frequentadas por famosos, como o jogador Adriano, com quem Diogo não tem vínculo, mas fez questão de pedir para tirar foto ao seu lado. Na árvore genealógica do tráfico, há ainda José de Souza Resende, o Zezinho, 18 anos, caçula que também atua no bando.
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