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Secretaria de Saúde comprou leite especial que crianças rejeitam

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Jully Camilo e Oswaldo Viviani, Jornal Pequeno

São Luís, MA - Mães de crianças portadoras de alergia alimentar múltipla, incluídas no Programa do Leite do governo do estado, reclamam da substituição do produto Neocate, feita neste mês pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), pelo leite especial Aminomed, ao qual pelo menos dez crianças apresentaram rejeição. Segundo as mães, a rejeição se dá porque o Aminomed é feito à base de óleo animal, enquanto o Neocate é produzido com nutrientes de origem vegetal.

As mães disseram ao Jornal Pequeno que a SES informou que a troca do produto foi embasada em “orientações médicas” e que não haveria mais o fornecimento do leite Neocate.

Hospital Juvêncio Mattos
Fachada do Hospital Juvêncio Mattos, que distribui o leite 'especial'

A representante comercial Danielle Melo Diniz, de 28 anos, mãe de Ian Benício Diniz Garreto, de apenas um ano e nove meses, contou que o menino nasceu com o problema, mas a doença só foi diagnosticada aos cinco meses de vida.

Danielle contou ao Jornal Pequeno:

“Há um ano, o Ian foi incluído no Programa do Leite do governo, uma vez que a dieta dele é exclusivamente à base do Neocate, que é uma fórmula de aminoácidos adequada às necessidades de uma criança da idade do meu filho, e com um risco mínimo de intolerância. Eu recebia, no Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos, 14 latas do produto por mês, sendo que cada lata dura dois dias. No entanto, durante os meses de março e abril, o fornecimento do Neocate foi suspenso, por problemas burocráticos, já que estava sendo contratada uma nova empresa fornecedora. Precisei comprar o leite na farmácia, pagando cerca de R$ 180. Em maio, a situação foi normalizada, mas agora, em julho, eu e outras mães fomos pegas de surpresa com a suspensão do fornecimento do produto. Recebi 14 latas de Aminomed, mas apesar de a composição química ser a mesma, o novo leite tem na composição óleo animal, e meu filho é intolerante a este tipo de alimento. Bastou ele ingerir três latas para apresentar urticária, inchaço e sede constante, tendo de ficar hospitalizado”.

Situação semelhante ocorreu com o bebê Arthur Benjamim Diniz Barreto, de um ano e dois meses, filho da vendedora Érika Barreto, 29. Portador da mesma alergia alimentar, o menino está internado no hospital UPC – Unidade Pediátrica e Cirurgia, no Apicum, desde o último dia 17, após ter ingerido o leite Aminomed.

Érika disse ao JP que não tem condições financeiras de comprar o Neocate na farmácia e que não sabe mais a quem recorrer, pois, enquanto a SES diz que não pode fazer nada porque foram compradas 10 mil latas de Aminomed para todo o ano, seu filho corre risco de vida. “Ele está debilitado e continua com náuseas e dificuldade para respirar”.

Segundo a mãe, a troca do Neocate pelo Aminomed foi feita pela SES “por causa do custo mais baixo para o Estado que o Aminomed apresentou”.

Já a professora Madalena Marinho Barros, 36, teve de apelar para parentes e doadores, para conseguir duas latas de Neocate, já que seu casal de filhos – João de Deus Ferreira de Sousa Neto, 5, e Ana Vitória Barros Sousa, 3, também mostraram reação ao Aminomed.

“Eu nem vou buscar o leite porque não adianta, eles não podem tomar o Aminomed de jeito nenhum. Com a falta do Neocate fornecido pelo Estado, a minha família fez uma cota e comprou uma lata do leite, além de outra que ganhei por meio de doação. Mas precisei reduzir a quantidade ingerida, e agora eles tomam só 60 ml, pois preciso fazer render o pouco que temos. E enquanto os meus filhos correm riscos, pois estão tendo que tomar uma medida abaixo do que foi recomendado, o governo do estado prefere se preocupar com o bolso do que com a saúde das crianças”, afirmou Madalena.

Ela contou, ainda, que no dia 14 de junho entrou com um pedido junto à Promotoria da Infância e da Juventude de São Luís, para que a Justiça garanta a manutenção do tratamento de seus dois filhos por meio do fornecimento do Neocate.

A mesma providência foi tomada por Danielle Melo Diniz, que protocolou seu pedido na mesma promotoria no dia 10 passado.

As mães afirmaram que foram solicitados pelo Ministério Público laudos médicos que comprovem a rejeição ao leite Aminomed. Depois disso, segundo informou o MP, o procedimento judicial será executado com a maior brevidade possível.

Outro lado
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que todas as formulas de leite, fornecidas para crianças com alergia à proteína do leite de vaca (APLV), são prescritas por médicos gastropediatras do Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos. E que a aquisição dessas fórmulas é feita atendendo a todos os processos legais com base no seu descritivo e não pela denominação comercial do produto.

Desse modo, para qualquer mudança no produto dispensado pelo programa do leite especial, se faz necessária uma apresentação de relatório médico atestando a necessidade da mudança.

O programa vem sendo ampla e continuamente desenvolvido com recursos estaduais atendendo atualmente 847 crianças, acrescenta a nota.

Nota do editor da Aldeia: Para a secretaria de Estado da Saúde, o fabricante e o respectivo distribuidor da marca do leite especial em nada deve ser investigado, desde que ele apresente a fórmula e vença a licitação, pode apresentar o produto com a qualidade que bem entender.
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