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Morre Jorge Ferreira, o feiticeiro de Brasília

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Redação

O correspondente da Aldeia em Brasília, Fred Cunha, acaba de informar sobre a morte de Jorge Ferreira, aos 53 anos, agora há tarde. Ele foi o idealizador, produtor e dono do Feitiço Mineiro, uma das casas mais conceituadas de Brasília e do Brasil onde passaram diversos ícones da Música Popular Brasileira.

Empresário, poeta, professor, sindicalista e agitador cultural, Jorge Ferreira também era dono do Bar Brasil, Bar Brasília e do Armazém do Ferreira. Ele não resistiu a dois AVCs e estava internado havia 15 dias.

Conheça mais sobre Jorge Ferreira nesta reportagem de 2009 quando ele completava 50 anos.

Jorge Ferreira, do Feitiço Mineiro
Há aproximadamente 50 anos, nascia em Cruzília, cidade do sul do estado de Minas Gerais, um cidadão que faria a diferença em vários momentos da vida cultural e política, de Minas Gerais, de Brasília, do Brasil. Com uma formação obtida em colégio Jesuíta, o atual empresário Jorge Ferreira, sócio-proprietário de restaurantes e bares (com especial destaque na Capital), entre eles o Feitiço Mineiro e o Mercado Municipal, tem uma história que, certamente, orgulha mineiros, brasilienses, enfim, cidadãos de bem.

Aos 16 anos, Jorge saiu de Cruzília, foi para Juiz de Fora, passou um período em Belo Horizonte e voltou para Juiz de Fora para fazer o curso superior na Federal de Minas Gerais. Em 1985, chegou em Brasília e começou como professor da Fundação Educacional do Distrito Federal. Orgulha-se por ter sido coordenador do grupo que implantou as cadeiras de sociologia e flosofa para o 2º grau, atual ensino médio. Dois anos depois, começou a atuar na Universidade Católica de Brasília e, de 1989 a 1993 esteve à frente do Sindicato dos Professores do Distrito Federal - Sinpro-DF.

Seu envolvimento com restaurantes começou em 1988, quando recebeu o convite para administrar a filial do restaurante Gordeixos, no Plano Piloto, com mais quatro sócios. A experiência foi tão gratificante, que em 1989, Jorge se uniu com outros sócios para então montar um dos bares restaurantes que mais conta a história de Brasília e das pessoas que vieram de outros estados para construir a Capital, tendo inclusive já sendo várias vezes por isso reconhecido:

O Feitiço Mineiro... E lá se vão 20 anos!
Quando em 1995 se viu obrigado a deixar a Fundação Educacional e a Católica, Jorge assumiu inteiramente seu viés empresarial, “me tornei empresário por incompreensão da burguesia para com as ações dos movimentos, aprendi a separar cada instância da minha vida, a política, a privada e a empresarial, mas eu precisava sobreviver, meus ideais estão comigo onde eu estiver”, registra com certo incômodo.

O viés político de Jorge teve por início o ano de 1976, com o ingresso no movimento estudantil e com a participação atuante na campanha a favor da Anistia. Esteve com o movimento Trotskista, quando a Organização Socialista Internacionalista decidiu pela fundação do PT. Também participou da criação da Central Única dos Trabalhadores – CUT – e, quando chegou a Brasília, utilizou a experiência para auxiliar a luta pelas questões políticas do Distrito Federal.

“Separei muito bem a minha postura de cidadão, da minha vida empresarial e, nela, procuro estar próximo dos meus funcionários, para ter uma visão social que corrobore com o que acredito, em todas as empresas das quais sou sócio, as políticas de RH são uma máxima”, conta. Essas e outras histórias levaram Jorge ao título de Cidadão Honorário, em 2001, pelo trabalho cultural realizado por Brasília. E o que foram os 20 anos do Feitiço Mineiro? A excelente repercussão foi resultado de uma paixão do brasiliense pela cultura, somada ao incessante trabalho de Jorge Ferreira, em uma Casa que já teve mais de sete mil shows e pela qual mais de nove mil artistas e músicos já passaram.

Outro reconhecimento para o homem que transpira cultura foi a Revista Tira Prosa, que circulou por dois anos e meio e foi listada como uma das melhores revistas culturais do país. A redação da Tira Prosa funcionava na mesa do Feitiço. Atualmente, Jorge está na sociedade de 19 das melhores Casas de Brasília.

Entre os projetos mais atuais, um grande carinho pela proposta do retrocesso modernizante do Mercado Municipal, que completou três anos agora em 2009. E Fazimento, livro lançado em coautoria com Ziraldo, pela comemoração dos seus 50 anos. Inicialmente foi idealizado como um presente para os seus amigos – “pois sempre busco estar em equilíbrio para com o meu trabalho, minha família e amigos” -, mas que superou expectativas e, tendo os direitos autorais doados para a editora Geração, já foi lançado em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Tiradentes, Ribeirão Preto, Vitória, Curitiba e Foz do Iguaçu.

E já tem previsão de lançamento em Belo Horizonte e Rio Branco. O livro que traz “causos” de Minas Gerais e poemas já pode ser encontrado em várias livrarias, e também na internet. “Vale à pena ver o brilhante trabalho de Ziraldo, no trato gráfico, nos desenhos, fiquei muito feliz com o lançamento”.

E quando pedi que ele se definisse em uma palavra, além dela, ele me deu uma expressão que eu acredito ser um diferencial entre “as pessoas de bem”:
Generosidade e ser amigo dos amigos.

“Tenho grandes ideais de justiça e fraternidade, continuo um marxista que acredita no socialismo democrático, por isso trabalho 15 horas por dia, tenho as grandes amizades que tenho e minhas Casas são frequentadas por pessoas que pensam a cidade, o país!”, se orgulha.
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