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Alemão: No Twitter a prova de que começa uma nova era

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Após narrar guerra, na Internet, eles relatam a chegada da paz

Débora, Igor e René (blusa listrada) são os donos do perfil @vozdacomunidade.
Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia
por Adriana Cruz, Beatriz Salomão, Diogo Dias, Francisco Édson Alves, Isabel Boechat, João Noé, Leslie Leitão, Luarlindo Ernesto, Lúcio Natalício, Mahomed Saigg, Marco Antonio Canosa, Maria Inez Magalhães, Maria Mazzei, Ricardo Albuquerque e Thiago Feres

Por meio do microblog Twitter, na Internet, Renê Silva dos Santos, 17 anos, foi nos últimos dias a ‘voz’ do Complexo do Alemão em vários cantos do mundo. Diante do computador, o adolescente, que mora no Morro do Adeus, uma das favelas de lá, relatou com detalhes e em tempo real o desenrolar da guerra entre traficantes e forças de segurança.

Ontem, os cerca de 28 mil seguidores do jovem na rede social começaram a ver uma nova história ser escrita naquela comunidade carente, onde milhares de pessoas aos poucos voltam à rotina.

Em vez de ‘fuzis’, ‘bandidos’, ‘tiroteio’ e ‘perseguição’, as mensagens de Renê têm outra conotação. Traduzem sensibilidade e fraternidade.

O adolescente aproveitou o status de quase celebridade para divulgar ações de solidariedade, como a distribuição de sopas para pessoas carentes, e campanha de Natal para arrecadar brinquedos que serão entregues a famílias pobres. Sua iniciativa já conta com o apoio de famosos.

“‘Bora’ ajudar a criançada!”, postou a apresentadora de TV Astrid Fontenelle, que passou a seguir o jovem no Twitter, assim como a atriz global Fernanda Paes Leme, a dramaturga Glória Perez e o apresentador Marcelo Tas, do CQC, da Band.

Tímido e modesto, Renê disse que, só após o conflito no Alemão, percebeu o poder da comunicação. “Estou feliz em poder usá-la a favor das pessoas que moram aqui e precisam de mais investimentos em educação, saúde, saneamento básico e segurança”, comentou o adolescente, que há cinco anos criou o jornal ‘Voz da Comunidade’.

Cinco mil exemplares
Renê conta agora com a ajuda dos amigos Jackson Alves, 13, Débora Mendes Lima, 11, e Igor Santos, 15. No sábado, o perfil ‘@vozdacomunidade’ no Twitter tinha menos de 200 seguidores. O número cresceu de forma impressionante desde que Renê e sua ‘equipe’ começaram a narrar na Internet os fatos que ouviam e viam no Alemão.

“Intenso tiroteio neste momento no Complexo do Alemão, gente! O comércio está fechado!”, descreveu num post. “Os traficantes jogaram uma granada nos policiais! Tenso”, relatou em outro.

Durante a guerra, ao ver telejornal, ele aproveitou seu canal de comunicação para fazer correções. “Essas imagens que estão aparecendo de destruição na Rua Joaquim de Queiroz não são tiros. São obras do PAC!”

Após a entrada das forças de segurança no Complexo do Alemão, domingo, ele voltou a ‘tuitar’. E, naquele momento, a mensagem era de esperança em dias melhores: “Espero agora não ouvir mais disparos de tiros”.

Renê está ansioso pela próxima edição da ‘Voz da Comunidade’, que terá tiragem de cinco mil exemplares e vai relatar dramas e as alegrias dos moradores do conjunto de favelas. “O próximo número sai na semana que vem e vai ser uma edição muito especial. A manchete vai ser escolhida pelos moradores”, adiantou Renê, que recentemente visitou a redação de O DIA.

Meninos ganham fama internacional - Veja próxima postagem
Durante a meia hora em que receberam a equipe de O DIA ontem à tarde, os tuiteiros da #vozdacomunidade atenderam a pelo menos 15 solicitações de entrevistas, inclusive por órgãos de imprensa do exterior, como a rede de TV BBC, de Londres. Cristina Moura da Silva, 38, mãe de Renê, virou secretária da equipe, que usa sua casa como redação.

“No começo, achei que fosse só brincadeira. Hoje, vejo que eles levam jeito mesmo para o jornalismo”, disse. “Quando minha mãe não me deixa ir a algum lugar para apurar, convenço meu padrasto a me levar”, conta Igor.

Conservação, saúde e urbanização
Além dos serviços de conservação prometidos para as favelas dos complexos da Penha e do Alemão, com reparos de pavimentação e iluminação, a Prefeitura do Rio anunciou que montará bases operacionais nos dois conjuntos, com assistentes sociais oferecendo tratamento para traumas e dependência química.

Já nesta semana, serão inauguradas uma clínica da família, na Vila Cruzeiro, e duas tendas também de atendimento em saúde no Alemão. Estão previstas mais quatro unidades da família na região e uma UPA na Penha.

O transporte da região merece atenção: seis linhas de Kombis serão regulamentadas e estarão integradas ao sistema Bilhete Único — que tem duas passagens por R$ 2,40 no intervalo de duas horas.

Hoje sairá a licitação para urbanização do Parque Proletário da Penha, uma das comunidades da região. As intervenções somam R$ 144 milhões. Projetos de urbanização para Vila Cruzeiro e Vila Cascatinha estão em andamento.

A Geo-Rio investirá R$ 10 milhões em obras de contenção no Complexo da Penha e, nos próximos 15 dias, chegará às comunidades o projeto Empresa Bacana, para regularizar o comércio. Algumas ações dependem da aprovação da Secretaria de Segurança Pública.

Fonte: O Dia Online
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