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RJ: deputado estadual mais votado, Wagner Montes sonha com governo

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Wagner Montes (PDT) foi o deputado estadual mais votado do Brasil e o mais votado da história do Rio de Janeiro
Foto: Isaac Ismar/Especial para Terra
por Issac Ismar

Carismático, Wagner Montes (PDT) foi reeleito deputado estadual no Rio de Janeiro como o mais votado com 6,38% dos votos válidos e conquistando o recorde nacional de 526.628 votos. Admirador de Leonel Brizola, um dos principais fundadores do PDT, ex-prefeito da capital carioca e ex-governador do Estado, Montes sonha alto. Se tiver oportunidade, futuramente pretende ser candidato a prefeito ou governador. Nos próximos anos, ele quer agradecer a confiança dos fluminenses cumprindo o mandato na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

O deputado e apresentador de televisão (Balanço Geral, na Rede Record Rio) promete cobrar do governador reeleito, Sergio Cabral (PMDB), os compromissos assumidos com o partido durante a campanha, principalmente na área de educação. A volta dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), ou Brizolões, como foram apelidados na capital fluminense durante o governo de Brizola, é uma das metas.

"Sou a favor dos Cieps em horário integral para que a caneta e o papel de hoje não se tornem o fuzil ou metralhadora nas mãos dos jovens. Apenas Unidade de Polícia Pacificadora não resolve o problema. Se não tiver o apoio social, o problema continua", afirmou.

Em seu primeiro mandato na Alerj, Wagner se orgulha de não acumular faltas. Momentos antes de receber a reportagem do Terra, almoçava um sanduíche com refrigerante já no início da noite. Nas paredes do seu gabinete, onde segundo ele Tiradentes recebeu a sentença de morte, vários quadros mostram números da audiência do programa de televisão local que apresenta de segunda a sexta à tarde, visto por quase dois milhões de pessoas diariamente.

"Não tem como separar o político do apresentador, pois na televisão o meu trabalho também é político, pois faço prestação de serviços à medida que cobro das autoridades um fato exposto pela reportagem. As pessoas perceberam que eu não sou um apresentador que virou político para fazer gracinha. Não vivo do salário de deputado estadual, pois eu não teria o padrão de vida que tenho. Estou levando a sério o trabalho como deputado. Acredito que o Brasil tem chances. Essa é a minha contribuição. Os jovens precisam participar mais da vida política desse Estado", disse.

Presidente da Comissão da Segurança Pública e Assuntos de Polícia na Alerj, Wagner confessou que já foi a favor da pena de morte no Brasil, mas mudou de ideia.

"Já fui visto como o cara que prega a violência. Olho por olho, dente por dente. Verdadeiramente, na minha juventude, pensei que esse seria o caminho. Eu era a favor da pena de morte. Hoje, sou a favor da pena de vida. Se houvesse pena de morte nesse País seria para sacrificar os pobres. Eles já são sacrificados quando não têm cidadania para viver dentro das comunidades carentes", lamentou.

Assim como os milhares dos seus telespectadores e eleitores, o deputado estadual é adepto do Twitter. Através da tela do celular ele responde mensagens e mais uma vez se comunica com a audiência. "É uma maneira de interagir com a população, de estar mais próximo do povo".

Leia a entrevista com Wagner Montes:

Terra - Você, juntamente com o deputado Marcelo Freixo (Psol), atuou na CPI das milícias. De que forma essa facção criminosa pode se alastrar ainda mais pelo Estado se as autoridades competentes não apertarem o cerco? 
Wagner Montes - Nós não vamos deixar de lado. Eu, o deputado Marcelo Freixo e outros deputados estaremos aqui para manter as autoridades vigilantes. Vou usar a televisão também no combate, como sempre usei. As pessoas às vezes interpretam de forma errada as milícias. Esse tipo de crime não é de agora, tem aproximadamente dez anos. Antes eram militares que moravam em comunidades carentes e não deixavam que os moradores desses locais fossem aviltados nos seus direitos. Alguns passaram a ver isso como um futuro promissor, obtendo recursos ilícitos e fazendo justiça com as próprias mãos. Comecei a criticar os milicianos em 2006 na televisão. Quando o Marcelo Freixo teve a ideia de abrir a CPI das milícias em 2008, o meu parecer foi favorável. Acho que as milícias cresceram na marginalidade quando começaram a extorquir os moradores, cobrando taxa para segurança. Isso é 'bitributação', pois o cidadão paga os impostos para ter segurança e paga o miliciano para ter proteção. Aí mostraram o lado bandido, marginal. Tem que tirar as milícias e entrar com o poder do Estado. Não adianta apenas prender os milicianos. O Estado tem que se fazer presente, senão o tráfico de drogas volta ou as células que ficaram de fora das milícias retornam para esses mesmos locais.


Terra - Com a reeleição do governador Sergio Cabral, as milícias tendem a acabar? 
Wagner Montes - Acabar com o tráfico de drogas e as milícias não é um trabalho fácil. Temos um Estado em que a própria topografia, o baixo efetivo policial, além dos baixos salário dos militares contribuem para esses problemas. Precisamos evitar que os tentáculos das milícias atinjam os poderes. A Alerj já deu prova disso com a CPI. E vamos continuar vigilantes. Acredito que os deputados que estão chegando também participarão dessa luta contra as milícias e o narcotráfico.


Terra - Quais são seus principais planos para os próximos quatro anos? 
Wagner Montes - Fazer com que o governador cumpra a carta-compromisso assinada com o PDT nas áreas de educação e trabalho, com a revitalização dos Cieps e fiscalização na saúde, principalmente com as Unidades de Pronto Atendimento. Elas são um projeto maravilhoso, mas precisam ter médicos especializados de acordo com as regiões. Cobrança pelas Unidades de Polícia Pacificadora sociais. E fazer com que os moradores entendam que a chegada dessas unidades é para o bem das comunidades. Os marginais precisam ser punidos, mas os moradores devem ser respeitados. Por fim, colaborar para que o Estado continue merecedor do investimento federal. O Rio de Janeiro era o 20º Estado da federação em recebimentos de recurso federal. Hoje, é o primeiro. Precisamos preparar as cidades fluminenses para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O Rio de Janeiro tem tudo para ser um destaque internacional nos próximos quatro anos. Vou trabalhar para evitar que o Rio seja tão massacrado no assunto violência, pois esse é um problema que há em vários estados. A cidade do Rio é a sexta capital mais violenta do País, mas as pessoas só batem no Rio.


Terra - Você almeja ser candidato a prefeito ou governador futuramente? 
Wagner Montes - Quando eu tinha um ano e meio de mandato como deputado estadual o meu nome apareceu em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para prefeito do Rio de Janeiro sem eu ter dito que era candidato. Depois isso voltou a acontecer em pesquisas para o governo do Estado. Eu também não era candidato. Fui a favor da candidatura própria do PDT ao governo, mas em uma eleição interna ficou decidido que o partido apoiaria a reeleição do Sergio Cabral. Sou um político de partido. Apoiei o Sergio Cabral. Consegui ser reeleito como deputado estadual. Daqui a pouco teremos eleição para prefeito. Estou à disposição do meu partido. O poder pelo poder não me fascina nem um pouco. Primeiro porque é difícil o prefeito ser mais famoso do que eu em popularidade, pois estou todo dia duas horas e meia na televisão. Se for bom para o PDT e para a população, mas ruim para a minha família, eu não vou ser candidato. Se for da vontade de Deus, serei candidato. Sou político e sonho ser governador e presidente da República. Se sou político e jogo no time deles, automaticamente quero ser convocado para a seleção brasileira. A população do Estado fará a convocação daqui a quatro anos.

Terra - Como você pretende ajudar a reconstruir o PDT no Rio de Janeiro durante os próximos quatro anos? 
Wagner Montes - Em várias cidades fluminenses o partido não existe. Não era isso que o Brizola e o professor Darcy Ribeiro queriam. No dia em que eu perceber que o PDT não serve para minha linha de conduta, vou embora. Quero saber o motivo dos antigos pedetistas terem saído do partido. Felizmente, recentemente, o ministro do trabalho Carlos Lupi (PDT) me agradeceu em público pela colaboração ao partido. Precisamos aproveitar essa fase boa.

Terra - Como é viver em uma cidade tão violenta como o Rio de Janeiro e criticar o narcotráfico diariamente em um programa de TV visto por quase dois milhões de pessoas? 
Wagner Montes - É uma missão. Faço isso desde 1979. Tenho 31 anos de televisão e durante todo esse período eu bato na 'vagabundagem'. Já fui ameaçado várias vezes, praticamente todos os dias. Acho que assombração sabe para quem aparece. Não sou mais homem do que ninguém. Creio em Deus e na palavra Dele está escrito: 'serás olhado, mas não serás visto'. É nisso que eu creio quando ando sozinho. Eles podem tentar a sorte, mas os que tentaram não deram sorte. Antes, na televisão, eu criticava a consequência. Hoje também critico a consequência, mas me preocupo mais com a causa. Amadureci. Quem compara o Wagner Montes da década de 70 com o de hoje, percebe uma mudança de 360º. Aprendi na universidade da vida e com os mais experientes. Se hoje eu sou um vitorioso na vida é justamente por ter humildade para aprender.

Terra - Dilma ou Serra? 
Wagner Montes - Se fosse votar por gratidão, votaria no Lula. Não tive oportunidade de ler os programas de governo da Dilma Rousseff e do José Serra. Sou um homem de partido. O PDT está alinhado a Dilma. Vou marchar junto com a Dilma. Não posso negar, no entanto, a competência do José Serra. Foi um excelente ministro da saúde, principalmente quando teve a coragem de dizer que o dinheiro da CPMF não foi todo para a área de saúde, havia sido desviado. Ele teve uma boa avaliação como governador. Não tem como negar o passado político do Serra. Mas sou do Rio de Janeiro. Nos últimos 29 anos nenhum presidente da República investiu tanto no Estado do Rio de Janeiro como o Lula. Votar na Dilma, que tem uma história no Rio Grande do Sul como o Brizola, é retribuir ao Lula parte daquilo que ele fez pelo povo do meu Estado.

Terra - Como é a sua rotina entre os estúdios da TV Record e Alerj? 
Wagner Montes - Durmo seis horas por noite com a ajuda de um Frontal de 2mg e durante o dia fico mais tranquilo com outro comprimido. Trabalho em média 18 horas por dia. Acordo às 7h, como duas fatias de pão integral com requeijão desnatado e leio quase todos os jornais e sites de notícia. Tomo banho, me arrumo e vou para a Record. Não quero saber o que vai ser exibido no meu programa. Ninguém da produção me avisa sobre as matérias. Não participo de reunião de pauta nem quero que me contem. Um dos motivos desse sucesso do Balanço Geral é justamente esse. Quando estou ao vivo, fico olhando as matérias pela primeira vez no monitor. A maioria das pessoas está pensando como eu penso. Ou fica revoltada porque o chefe de família foi morto ou sorri porque o bandido fugiu fantasiado de mulher ou se emociona porque o sonho de um menino é ter prótese para a perna. Depois do programa fico na minha sala durante 15 minutos para baixar a adrenalina. Almoço uma quentinha na emissora ou como carne assada com maionese na Alerj, que custa R$ 8,50. Na televisão é mais caro, pago R$ 10. Chego aqui 16h, meia hora depois vou para o plenário. Só saio entre 21h30 e 22h. Normalmente sou um dos últimos a sair daqui. É só me acompanhar no Twitter que você vai ver a hora que chego e saio. Quando chego em casa, vejo mais notícias na internet e assisto A Fazenda ou novela. Gosto do Jornal da Globo. Durmo à 1h e às 7h acordo novamente.

Fonte: Portal Terra
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