Foi militante do movimento comunitário e estudantil em São Luís nos anos 80 com participação na luta pela redemocratização do nosso país. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins (Stefem), do qual foi Secretário Geral.
Seus versos encantam pela beleza do conteúdo e da forma.
Todos os sábados, leitores da Aldeia Global podem se deleitar com seus mais novos poemas.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Vai Quem Quer
Gerson Pinheiro
Quem quer ver vai
Vai Quem Quer
Apenas Pirapemas.
Teto de palha
Paredes de palha
Piso de terra solta
Poeira, fome, dor.
Porta de esteira
Esteira de palha
Mesa, piso, cama
Confundem-se em pó.
Pó, terra solta, sem liga
Não ligas!
Sertão, solidão, pés no chão.
Esparramados
Inchados
Bichados
Sangrados!
Vasta pança, cambitas finas.
Sem escolha
Fé em sina
De sofrer, outra não há!
Olhos esbugalhados
Contemplam desilusão.
Tem em todo o Maranhão
Vai Quem Quer
Quem quer vai e vê.
Não apenas Pirapemas
Tem.
Quem quer ver, vê mais além.
sábado, 3 de maio de 2014
E Passa o Trem
Gerson Pinheiro
Pensei ter me encontrado
Fosse o trem da minha sorte
Mesmo assim deixou saudades
Quem sabe do meu reboque.
E passa mato
Passa casa
Passa ponte
E olha eu aqui sozinho!
Partiu com parte de mim
Esse trem da minha sorte
Carajás ficou saudades
Sei, eu só, do meu reboque.
E passa mato
Passa lago
Passa fonte
E olha eu aqui sozinho!
Eu também parti de mim
Em revoltas contra a sorte
Feito os rios da minha terra
A correr rumo ao Norte.
E passa mato
Passa tempo
Passa monte
E olha eu aqui sozinho!
Na estação da nova vida
Reencontrei o meu norte
Já não procuro por mim
O nós é muito mais forte!
E vejo mato
Vejo casa
Vejo ponte
Vejo lago
Vejo fonte
Vejo tempo
Vejo monte
Vejo não estar sozinho!
sábado, 1 de março de 2014
Revolvendo: novo poema de Gerson Pinheiro
Revolvendo
Gerson PinheiroCompassos
Elásticos
Circundam
Espaços.
Demarcar posses,
Astros, terras, mentes.
Naves brilhantes,
Vidas viandantes,
Controlam tudo.
Longos tirantes,
Apreender pertences,
Destruir potências.
Terráqueos contemporâneos,
Cérebros galácticos,
Iris cósmicas,
Limites distantes.
Buracos-negros,
Ilusão,
Engano.
Terráqueos contemporâneos,
Esqueçam:
Estrelas,
Galáxias,
Cosmos,
Negros buracos distantes.
Fermenta no magma do homem
Por excesso ou carência,
O último instante.
Tal tumores internos
A destruir cérebros,
Células cancerosas
A macular tecidos.
Magmática bomba potencial,
Inevitável implosão terrestre!
sábado, 25 de janeiro de 2014
Gerson Pinheiro: O Mono-Múltiplo
O Mono-Múltiplo
Gerson Pinheiro
O monólito sisudo a cerrar segredos
Vai aos poucos cedendo a leves carinhos
Nele o poema frestas cria
A expor miragens que bailam
Vestidas de arte, fantasias.
No espaço ao sabor do infinito tempo
O poeta viaja fragmentos
Captando formas, firmamentos,
Contornando furtivos elementos
Registrado encontros, encantamentos.
E na fantasia nascida da pedra
Vislumbra o confronto que no todo habita
A romper e buscar ajuntamento.
De braços dados dançam no seio,
As ditas e desditas,
Do mesmo elemento.
Como acordes bases da sinfonia,
Umas: glórias, vitórias, riso aberto,
Amor a serviço da orgia.
Outras o retroceder
De doce nos cumes a fel nos abismos,
São de dor, de lágrimas, dispensam risos.
E umas e outras
Fundem-se no tempo
De volta ao monólito por um momento
Que será fractal
Em nova poesia.
sábado, 11 de janeiro de 2014
Gerson Pinheiro em Desclassados
Desclassados
Gerson Pinheiro
O Sol queima cérebros desprotegidos,
Espremidos.
Pelas mãos dos que ditam, corram,
Morram.
No extremo do ser são massas,
Sem massas.
Despidos de tudo são peles,
Só peles.
Amputados os membros são vermes,
Só vermes.
Lançados os escarros limosos, esporrentos,
Nojentos.
Negado lhes é às feridas do tempo,
Unguento.
Vida!
Clamam por vida,
Ou sorte,
De morte.
Transformados que foram em trastes,
Desastres.
Vozes abafadas ressoam,
Entoam.
Seus gritos por terra,
Guerra.
Inda querem os que a lei citam,
Ditam.
Que semimortos não falem,
Calem.
Que nos berços não embalem,
Não escalem.
Mas, pro amanhã que vem,
Mantêm.
Na semente dos filhos vivem,
Revivem.
Vozes do futuro,
Estridente grito,
Infinito.
Direto da Aldeia publica poemas inéditos do autor aos sábados, leia mais:
Marilha de Repente e Movimento
Meninos Guarás
Realver
sábado, 4 de janeiro de 2014
Meninos Guarás: o poema inédito deste sábado, 04
Meninos Guarás
Gerson Pinheiro
Um guará alça vôo,
Um imenso guará de milhões de penachos,
O céu avermelha.
O olhar,
Só criança lança,
Esperança.
Sofrimento que foi,
Dança leve meu boi.
Sentimentos a mil,
O corpo esquenta,
Baila na vista
Outrora embaçada,
O clarear da revoada.
Ó vos que habitais os porões da Ilha,
Que enlameia as águas do rio Anil,
Exala mau cheiro em nossas baías.
Antes que feixes teu mortal abraço de
secular serpente,
Temida por todos,
Cantada em repentes.
A onda vermelha que voa
E que pousa em breve guarnicê,
Nos tornará crianças.
Resgatando esperanças,
Nos multiplicará.
E o imenso clarão de encorajar contínuo,
Nos manterá meninos,
De futuro imenso,
De vermelho intenso,
A dissolver trevas,
Porá sol a pino.
Menina,
Menino.
Meninos guarás.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Realver
Gerson Pinheiro
Vossos
Nossos
Vidas
Fósseis
Corpos
Ossos.
Possuem o mundo dos metamorfoseados em posses.
Refazer
O
Nosso.
Reviver fósseis.
Reagrupar ossos.
Desmetamorfoseando extinguir posses.
Nossos
S
O
S
Vossos
Enfim Nossos.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Marilha de Repente
Lua clara
Madrugadas
Serenatas
Rubras velas
Bianas no mar.
Coração marcado a fogo
O medo de capelobo
Que apareça.
Carruagem puxada à mula sem cabeça
Eu vou te esperar.
Envolta em águas correntes
Líquido anel, tal serpente
Que num toque de repente
Deixa a gente se encontrar.
Lua clara
Madrugada
Serenatas
Rubras velas
Bianas no mar.
Coração marcado a medo
Nas contas contam os dedos
Nas tranças danças, folguedos
Eu vou te abraçar.
Chegar em breve evento
Rasgar teu leve ornamento
Elementos misturar.
Eu viração transparente
Navegar tuas correntes
Num eterno
Encontrar.
Movimento
A procura de parar nessas paragens
No seguro porto do movimento
Na incessante busca do ancorar
Quando encontrares o acerto é um momento.
E dos longos dedos do eterno
O constante cavalga sobre o tempo
Transformando o ontem em amanhã
E o acerto encontrado foi-se ao vento.
Hás de buscar na geometria do espaço
O lugar viajando espiralático
E veras quanto o simples é complexo.
O acaso atropelou teu acerto em tempo
Deformando outra vez o teu evento.
É preciso insistir na eterna busca
Transformar, transportar teu sentimento
E no ultracoquitel da dialética
Descobrir que em constante cavalgar
O repouso do eterno é o movimento.