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IBGE: suspensão da Pnad provoca insatisfação

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O Tempo

Belo Horizonte, MG. A suspensão da divulgação dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), anunciada na quinta-feira (10) gerou uma crise no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Coordenadores de pesquisas fundamentais do órgão, como as que determinam a inflação oficial e a taxa de desemprego no país, ameaçaram uma entrega de cargos coletiva caso a decisão não seja revista. Em dois dias, dois entre os oito integrantes do Conselho Diretor do IBGE pediram exoneração, mas uma reunião extraordinária convocada nessa quinta-feira (10) conseguiu evitar novas baixas, pelo menos momentaneamente.

A insatisfação foi comunicada em uma carta de repúdio enviada ao conselho, assinada por 18 servidores. A crise institucional começou quinta-feira, após a presidente do instituto, Wasmália Bivar, anunciar a suspensão da divulgação da pesquisa até 6 de janeiro, para que os técnicos pudessem revisar e adequar as informações sobre a renda domiciliar per capita às exigências previstas na Lei Complementar nº 143/2013. A lei determina que o indicador sirva como base para o cálculo do rateio do Fundo de Participações dos Estados (FPE). A medida motivou o pedido de exoneração de duas diretoras contrárias à decisão: Marcia Quintslr, diretora de Pesquisas, e Denise Britz do Nascimento Silva, coordenadora-geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence).

Apesar do alerta formal sobre a deserção coletiva, a presidente do IBGE mostrou-se irredutível quanto à suspensão da Pnad Contínua, justificando que a medida foi tomada de forma a assegurar o cumprimento da lei. No entanto, diante da ameaça de perder mais coordenadores de peso e prejudicar a divulgação de indicadores econômicos imprescindíveis, Wasmália convocou reunião extraordinária do conselho com o corpo técnico para acalmar os ânimos, no fim da tarde de quinta. Entre os 18 servidores que ameaçaram pedir exoneração na carta estavam a coordenadora de Índices de Preços, Eulina Nunes dos Santos, e o coordenador de Trabalho e Rendimento, Cimar Azeredo, responsável pela própria Pnad Contínua e pela Pesquisa Mensal de Emprego.

O sindicato que representa os funcionários do IBGE aponta pressão política sobre o órgão, subordinado ao Ministério do Planejamento, uma vez que a decisão de reavaliar a Pnad Contínua foi tomada após questionamentos feitos pelos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) – ex-ministra da Casa Civil – e Armando Monteiro (PTB-PE), no início do mês, sem que a equipe técnica fosse consultada sobre a pertinência das observações dos parlamentares. “A gente considera isso uma ingerência, fere a autonomia técnica do IBGE. A posição da nossa presidente também foi muito ruim, submissa. A gente não faz pesquisa por encomenda. É claro que houve pressão política”, declarou a diretora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE, Susana Drumond.

A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, reconheceu que foi um “erro” divulgar primeiro “para o público externo”, a imprensa, no caso, antes de discutir a questão de modo mais amplo com os técnicos do IBGE. Mas defendeu a iniciativa porque a questão era urgente e relevante.
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