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Marcos Fábio: Saudade se escreve com ‘S’

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Marcos Fábio

Minha filha está morando muito, muito longe de mim. Eu só tenho essa menina, que hoje já está com 21 anos. Não sou de ficar pensando nela, não sou de me preocupar muito, não sou de grandes afetações, mas tem horas que bate uma saudade louca, uma vontade de vê-la “aqui, agora”, de tocar o seu rosto, de ouvir a sua voz e de ver seus dentes brancos e consertados pelo aparelho brilhando na minha frente. Tem horas em que o universo parece que para, em que o mundo parece que estaciona, faz um pit stop, para que eu me lembre mais dela, para que eu sinta por ela uma saudade diferente, maior. E, nessa hora, eu fico assim-assim, entre o alegre e o triste, entre o feliz e o pensativo, entre o preocupado e o orgulhoso. Aí o mundo engata de novo a primeira, a segunda e a terceira, e todos esses sentimentos se misturam – e depois decantam. Pra vida voltar ao normal.

Pais de filhos únicos têm uma especificidade. Por um lado, economizam nas contas, suam menos, gastam menos adrenalina quando são adolescentes, investem mais focalmente. Mas também sofrem mais que os outros, pelo fato de terem todo o seu mundo centrado numa única criaturinha, um ser que tem muitos ou poucos dos seus traços físicos ou de personalidade, mas que é a razão de todos os seus esforços, que é o repositório do seu amor – o “amor-maior-amor-maior-que-todos-os-outros”. Pais de filhos únicos sentem saudade em progressão geométrica.

As redes sociais ajudam a aplacar a saudade, quando se está longe. Skype, Facebook, principalmente, são uma mão na roda. Porque dá pra dá pra falar, dá pra ouvir, dá pra ver a pessoa em fotos ou se mexendo, acenando pra você e mando beijos. E essa é uma experiência absolutamente necessária para quem não está no mesmo hemisfério, como no meu caso.

Dia desses, me peguei pensando em quando ela era criança. Lembrei das nossas brincadeiras, de como a gente fazia bagunça junto. Lembrei de quando a gente subia no pé de manga pra ler os clássicos da Disney, num livro que eu mandei pra ela do Rio, quando eu morava por lá. Lembrei de quando ela foi a primeira vez ao colégio, com um ano e meio, parecia um espirro de gente. E aí, fui buscar umas fotos, vi aquele sorrisinho, aquela menina tão pequena, olhão preto e bochechudinha, que parece que não era a mesma moça bela e desenvolta de hoje. Mas é. É o mesmo sorriso, a mesma felicidade, que não cresceram – ficaram os mesmos de quando ela tinha 6, 7 anos. Para o meu bem.

Na minha vida agitada, fico pensando às vezes em como ainda falta muito tempo pra ela voltar. Pra que eu possa vê-la de novo na minha frente, com todos os seus predicados, e com aquele sorriso da menina sapeca de 7 anos, que se cristalizou. Mas aí o mundo gira de novo e eu engato a quinta marcha e vou embora, deixando a saudade estacionada, me esperando numa próxima parada.
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