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São João do Caru: conheça os carrascos da tragédia anunciada

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Adenir Silva
Adenir Silva: "Nos trataram como invasores, bandidos e grileiros"
Frederico Luiz

São Luís, MA. O juiz da 5ª Vara Federal de São Luís, José Carlos Madeira, ainda não sabe. Mas, ao determinar na semana passada a criação de uma estrutura burocrática para apressar a retirada de pequenos e médios produtores rurais e ainda agricultores familiares da Reserva Awá-Guajá no Maranhão ele assinou uma sentença de morte. Aliás, muitas delas.

Adenir Silva é um dos sobreviventes da expulsão em dezembro do ano passado, dos brasileiros da Gleba Suiá Missú, nas redondezas do distrito de Estrela do Araguaia, município de Alto Boa Vista, distante 1.051 quilômetros de Cuiabá-MT. “Muitos entraram em depressão e morreram de ataque cardíaco e outros recorreram ao suicídio”, testemunha este jovem de 22 anos que integrou a Associação local que reunia os produtores rurais.

A expulsão dos moradores da Awá-Guajá afeta diretamente cinco municípios do Maranhão, são eles: Centro Novo do Maranhão, Nova Olinda do Maranhão, Governador Newton Bello, São João do Caru e Zé Doca.

Mas, antes do despejo, esses brasileiros que possuem escrituras ou título de posse de suas terras, alguns com até 40 anos na área terão de ser submetidos à tortura.

A primeira sentença, a tortura psicológica tem como principal carrasco o famigerado Partido da Imprensa Golpista (PiG) que dissemina em seus órgãos de comunicação, a exemplo de O Globo, que estes brasileiros são madeireiros ou plantadores de maconha. “Lá, no Mato Grosso, a gente era tratado como grileiro ou bandido”, diz Adenir.

Veja o que O Globo publicou na sexta-feira, 20, na mesma data que pelo menos dois mil deles se reuniram para uma assembleia da Associação dos Produtores Caruenses:
Além da extração ilegal de madeira, por madeireiros que ameaçam e acuam os indígenas, a TI Awá possui plantação de maconha. (O Globo, 20 de dezembro de 2013)
A reportagem de O Globo é mesmo uma peça de ficção. Também é escrito;
As famílias que vivem em terras indígenas deverão ser cadastradas em programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e os que eventualmente tiverem atividade agrícola devem receber apoio, com transferência para assentamentos do Incra, recebimento de sementes e financiamentos de produção.
Veja a diferença entre ficção e realidade. As imagens abaixo, sugeridas por Adenir Silva desmentem claramente a publicação que apoiou a ditadura militar (1964-1985). Saiba o que de fato aconteceu no Mato Grosso e o que aguarda os agricultores da Awá-Guajá e de outras região do Maranhão que estão na mesma situação em Bacurizinho (Grajaú), Porquinho (Fernando Falcão) e na Reserva Biológica do Gurupi (Centro Novo).



Mas, somente a tortura psicológica é insuficiente. Os produtores da região terão um começo de ano sem luz elétrica e mesmo as escolas municipais da região serão desativadas pelas prefeituras.

Política

No Mato Grosso, os produtores contaram com apoio da esmagadora maioria dos políticos locais. “Do prefeito ao governador, todos os deputados federais e estaduais, mas infelizmente fomos expulsos”, diz Adenir.

No Maranhão, onde o clã Sarney domina a política e grande parte da mídia tradicional, a situação é bem diferente. Apenas, dois políticos com mandato, ambos do PDT, insistem no apoio aos produtores rurais: o deputado federal Weverton Rocha e o estadual Carlinhos Amorim.

WEverton RochaPonte sobre a MA 318

Descaso

Na propaganda oficial, a governadora Roseana Sarney promete interligar todos os municípios do Maranhão até o fim de 2014 quando completará 14 anos à frente do Palácios dos Leões.

As duas fotografias acima de dezembro deste ano põe abaixo a propaganda governista. Na MA 318 (Bom Jardim-São João do Caru), quem constrói com seus próprios recursos uma ponte na estrada de chão é o empresário Robson Cavalcanti. O deputado Weverton passou de manhã quando estava em obras e à noite retornou pela nova ponte.

Direto da Aldeia publicou semana passada:
Sábado, 21 - São João do Caru: Produtores prometem resistir à desintrusão
Sexta-feira, 20: Dois mil protestam em São João do Caru contra Funai
Quinta-feira, 19: Awá: Weverton e Carlinhos confirmam presença em S. J. do Caru

“Os produtores são expulsos e o governo federal e o governo do estado sequer tem algum plano para indenização de suas terras, devidamente escrituradas, e das benfeitorias, todas legais, essas pessoas merecem respeito”, reclama Weverton Rocha..

O deputado estadual Carlinhos Amorim repetiu em seu discurso na assembleia dos produtores um trecho da música de Zezé de Camargo que foi um hino extraoficial da primeira campanha do presidente Lula: “Tá faltando consciência. Tá sobrando paciência. Tá faltando alguém gritar...”.

Redes Sociais

Mesmo nas redes sociais é comum a criminalização destes brasileiros que ao contrário do que muita gente imagina de forma alguma desenvolveram ódio pelos indígenas. Na verdade, eles estão mesmo indignados com aquela parcela da política e do poder judiciário que fecham os olhos ou cruzam os braços para a situação. No Facebook, eles expõe suas opiniões:



Direto da Aldeia publicou nos anos anteriores sobre Awá-Guajá:
2012
Povos indígenas e quilombolas trancam BR 316, rodovia foi liberada
Nota sobre as ações de proteção e promoção dos direitos do povo Awá-Guajá
2011
O genocídio do último povo indígena isolado no Maranhão
Resistência importante e necessária
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