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Tubby: o falso app virtual que polemizou com o Lulu

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App Lulu
G1 e Correio do Estado

O programador Rafael Fidelis, funcionário de uma agência de publicidade em São Paulo e um dos criadores do "Tubby", afirmou em entrevista ao G1 que não esperava que o caso fosse ter tanta repercussão – proibição na Justiça inclusa – e que a ideia inicial era "polemizar" e "deixar as amigas p. da vida".

"O Guilherme [Salles, segundo idealizador do 'Tubby'] me ligou de madrugada uns 10 dias atrás e falou do 'Lulu'", disse Fidelis por telefone ao G1. "A gente não curtiu. É escroto ficar ranqueando e classificando as pessoas".

Anunciado no fim de novembro como um aplicativo, no entanto, o "Tubby" prometia uma "vingança virtual" àqueles que se sentiram ofendidos pelas avaliações feitas no "Lulu", app exclusivo para mulheres classificarem homens e seus relacionamentos com eles.

A proposta do "Tubby" gerou revolta do público feminino, que taxou a ideia do app como extremamente machista e violenta. Na quarta-feira (4), a 15ª Vara Criminal de Belo Horizonte (MG) acatou o pedido de sete coletivos em defesa da mulher e proibiu a disponibilização do "Tubby" em todo o Brasil.

Na sexta-feira (6), dia marcado para o lançamento do aplicativo após um primeiro adiamento, Fidelis e Salles declararam que nunca existiu um app do "Tubby" e que, na verdade, o objetivo da dupla era fazer uma campanha pela conscientização dos riscos da violação de intimidade.

Leia abaixo a entrevista:

No que vocês estavam pensando quando criaram o "Tubby"?
"O Guilherme me ligou de madrugada uns 10 dias atrás e falou do 'Lulu'. A gente não curtiu. É escroto demais ficar ranqueando e classificando as pessoas. Mas aí ele falou 'vamos polemizar com as nossas amigas. Eu fiz uma arte e preciso que você programe'. No outro dia criamos um domínio. Depois de três horas, já tinha 5 mil compartilhamentos no Facebook".

"Fomos aumentar o servidor porque não tínhamos expectativa de nada. Foi essa a brincadeira. As pessoas foram falando que era um 'Lulu' masculino, e a gente já estava meio bravo [com o app feminino]. [Pensamos em] reunir o que puder, fazer todos acreditarem nisso e no final passar uma mensagem boa".

Vocês não chegaram a programar nada?
"Eu não programei nada. Não tive tempo. Meu trabalho é muito corrido. Fiz uma telinha brincando, mas era tudo design. Não tinha nada de programação".

Vocês lançaram o aplicativo na App Store, da Apple, mas a decisão judicial de Minas Gerais proibiu qualquer disponibilização do "Tubby". Você está apreensivo?
"Nem um pouco. Eles vão me sentenciar porque eu lancei um aplicativo com um botão? A decisão não chegou para nós em nenhum momento. Não recebemos nenhuma mensagem de um representante ou mesmo do Ministério Público dizendo que a gente não poderia lançar o app".

A decisão deve chegar na segunda-feira (8).
"Mas até lá já era. Acabou. A gente não está com medo. A gente recorre qualquer coisa, seria ridículo".

Vocês esperavam que o "Tubby" fosse repercutir tanto a ponto de chegar na Justiça?
"Não. A gente achou que ia fazer para deixar nossas amigas p. da vida e quem sabe conseguir uma discussão sobre o quão ruim é expor as pessoas. Colocamos o botão de cadastro e descadastro para mostrar às pessoas o que os aplicativos fazem com elas".

"O Facebook oferece uma URL (endereço de site) em que você só precisa de um ID (nome ou código de usuário) para ter dados básicos. Porque ele oferece seu nome, seu sobrenome seu avatar e uns cinco ou seis dados que dão para montar seu perfil".

Uma mulher está falando no Facebook que participou da criação do "Tubby" e não foi creditada. Ela realmente faz parte da equipe de desenvolvimento?

"Ela é minha amiga e analista de mídias sociais. Depois de registrarmos o domínio, falamos para ela o que íamos lançar. E ela falou que queria participar. 'Quero ser a primeira a postar no Facebook, vamos fazer bombar'. Mas depois tivemos conflitos porque ela estava tomando algumas decisões pela gente e isso não fazia sentido porque ela só entrou para ajudar na divulgação".

Ela diz que vocês receberam uma proposta de uma marca de preservativos. Isso é verdade?
"A gente recebeu uma proposta. Só que tínhamos o princípio de não vender a nossa ideia e não deixar uma marca passar uma mensagem que a gente não queria. Tanto que o vídeo [que mostra que o aplicativo "Tubby" nunca existiu] é a mensagem exata que a gente queria".

"Era uma proposta boa, só que a gente tem 20 anos, um caminho a percorrer e não vai começar fazendo uma coisa que não quer".

"Não posso revelar nomes, mas é uma marca grande. Não vou falar em valores".

O que a marca tinha proposto?
"A gente não conversou com eles. Não trocamos um telefonema, um e-mail. O que a nossa analista de mídias sociais disse é que haveria interesse nessa marca em usar a nossa mídia para conseguir transformar isso em outra coisa comercial. Mas a gente não teve interesse e não falou de valores ou do que eles iriam oferecer".

Vocês queriam mostrar como os dados dos usuários são usados na internet e como é fácil manipular isso. Isso pode te atrapalhar profissionalmente, já que você trabalha com publicidade e hoje em dia esse é um dos setores que mais utiliza dados pessoais para conseguir qualquer tipo de monetização?
"Não. Acho que os dados pessoais devem ser fornecidos sob autorização prévia dos usuários, que é a autorização que você dá para o aplicativo usar o seu Facebook. A ideia não é dizer para as pessoas pararem de passar seus dados, mas tentarem ser mais seletivas. Eles são facilmente usados e isso pode atrapalhar a vida delas".

Você participou do "Lulu"? Você aprova a ideia de um serviço ligado ao Facebook incluir todos os usuários de uma só vez?
"Eu não tive nota no Lulu. Eu desativei logo nos primeiros dias que saiu no Brasil, antes de começar a ter esse 'buzz' (se tornar falado nas redes sociais) no Brasil".

"Não acho legal, mas são as políticas de cada aplicativo. Se o app fornece realmente o passo a passo para as pessoas saírem, não vejo grandes problemas porque o Facebook é isso. Seus dados estão no Facebook e qualquer aplicativo no mundo vai poder usar eles. Não considero uma prática muito criminal, mas não considero muito moral. Os dados estão lá e ninguém pode fazer nada se você cedeu".

Por que mesmo não achando moralmente aceitável essa prática você a incluiu no "Tubby"? Mesmo não existindo, ele incluía as pessoas automaticamente.
"Tudo isso foi para gerar 'buzz'. A gente não cadastrou pessoas e não tem IDs. Não existe isso".

Porque quando você quer se cadastrar no "Tubby", ele fala que receberá seus dados?
Isso é um termo de uso. Temos que deixar claro lá porque se fosse necessário a gente usaria só para marcar a pessoa e o ID dela.

Algumas pessoas que participaram do desenvolvimento disseram que vocês serão parceiros do blog "Não Salvo", que ajudou a divulgar o vídeo do "Tubby", e irão receber dinheiro por isso. É verdade?
"Não confere. A gente é parceiro porque é amigo, não tem dinheiro envolvido".
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