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Natalino Salgado: A Ufma e o Enem (Parte 2)

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Enem 2013

Natalino Salgado Filho

No artigo intitulado "Ufma e o Enem (parte I)", publicado no último domingo, analisávamos sobre a adesão das Instituições ao Exame Nacional do Ensino Médio. Agora, versaremos sobre os benefícios que esse processo de avaliação trouxe para todo o sistema educacional, especificamente para a nossa Universidade Federal do Maranhão.

Que benefícios são esses? Um deles, dentre vários outros, é a transformação de um vestibular local em uma seleção nacional, na qual se abrem possibilidades reais de participação para estudantes de todo o país. Essa forma de fazer contempla candidatos não só do próprio Estado, mas também de outras localidades, sobretudo, aqueles do interior desses Estados (a maioria, em particular, os de grande extensão como o Maranhão) em que o acesso à educação superior pública se restringia à capital e a poucos municípios. No caso da Ufma, quando estávamos nas diferentes fases de consolidação desse novo método de ingresso, conseguimos alcançar a marca de nove campi. Atualmente, já bem estruturado, atingimos todas as mesorregiões geográficas do Estado, pois, em 2009, eram apenas seis campi.

Ora, uma coisa é aplicar exames em seis ou sete municípios, como se costumava fazer até então com nosso vestibular tradicional; outra é receber inscrições de praticamente todas as cidades do Maranhão e realizar exames em quase noventa delas, o que passou a acontecer com o Enem. O resultado foi o salto gigantesco no número de inscrições, que chegou aproximadamente a 25 mil, em 2008, e ultrapassou os 145 mil, em 2009, número que segue crescendo.

A Ufma passou a economizar o que gastava com a formulação e a aplicação da prova, com uma abrangência muito menor. E por mais que esse tempo, felizmente, já se tenha ido, cabe recordar que, sobre os nossos vestibulares, pesavam suspeitas, críticas e acusações graves de falta de lisura, de compra de provas e de todo tipo de irregularidades. Portanto, ao iniciarmos a gestão da Universidade, era importante assumir o compromisso com a transparência dos nossos processos seletivos.

Além disso, em que pesem aspectos positivos nas experiências de processos seletivos seriados, como chegaram a ocorrer na Ufma há pouco tempo, a sua proposta global não chegava a alterar, de maneira significativa, a lógica da memorização e do conteudismo, apenas a diluía ao longo dos três anos do Ensino Médio. Logo, as avaliações seriadas também não constituíam uma alternativa válida ao Enem.

Por último, nossa comunidade universitária tinha o receio de que, com o Enem, a Ufma pudesse retroceder diante das recentes conquistas, ao definir sua política de cotas para estudantes de escolas públicas, negros, índios e deficientes (o que chega a pouco mais de 50% do total). Na nossa proposta de adesão, aprovada por quase unanimidade pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), ficou patente que não apenas mantínhamos a política de cotas, incomparavelmente a mais inclusiva do Brasil, como também condicionávamos nossa adesão a essa manutenção (mais tarde, o Congresso definiu uma política nacional de cotas que é, de certo modo, menos inclusiva do que a que já tínhamos, mas isto é assunto para outra ocasião).

No momento em que praticamente se encerra o ciclo de adesões das Ifes brasileiras ao Enem, a Ufma merece um voto especial de louvor, por sua capacidade de se antecipar aos movimentos político-educacionais de maior envergadura e de aderir, com efetiva autonomia universitária, às opções que se mostram, antes mesmo de comprovação a posteriori, como sendo as melhores possíveis. Entendemos que essas opções são as melhores devido à sua concepção, às suas características indutoras de melhoria, à sua razoabilidade como soluções sistêmicas a crises que, de outro modo, não seriam superadas.

A partir da nossa perspectiva, esse movimento não caracteriza imprudência, muito pelo contrário, caracteriza, sobretudo, a responsabilidade de quem precisa, por força do cargo, dar respostas rápidas e eficazes à educação e à sociedade brasileiras. Vivíamos um momento delicado e cada vez mais a gestão acadêmica dos hospitais universitários se avizinhava do caos, e foi esse motivo que, assim como no caso do Enem, levou-nos a decidir com coragem pela adesão da Ufma à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). A única diferença é que a adesão ao Enem pressupunha a aprovação institucional colegiada dos Conselhos Superiores, e a adesão à EBSERH era vinculada à competência privada do gestor maior da Instituição. Contudo, independente disso, as decisões atuais estarão sempre confrontadas com seus resultados no futuro, à vista de todos.

Assim, como no caso do Enem e do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - Reuni, temos absoluta segurança de que os resultados justificarão integralmente a escolha feita, e a Ufma terá ainda muito mais motivos para se orgulhar de seus êxitos, todos em prol do Maranhão e do Brasil.

Nota do editor da Aldeia: O autor é Doutor em Nefrologia, reitor da Ufma, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML. Escreve aos domingos para Direto da Aldeia.
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