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João de Deus: O Imparcial retorna a um dos palcos de confronto

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Augusto do Nascimento e Patrícia Cunha, O Imparcial

Ao completar 87 anos de fundação, O Imparcial registra em sua história episódios cruciais dos movimentos sociais do Maranhão, relatados nas páginas do jornal. Um dos momentos marcantes foi a cobertura de conflitos urbanos na área onde mais tarde se instalaria o bairro do João de Deus, há 33 anos, e que atualmente reúne cerca de 25 mil moradores.

Com quase 40 anos a serviço do jornal impresso, o repórter Douglas Cunha recorda uma das primeiras ocasiões em foi escalado para acompanhar o confronto entre a polícia e as centenas de pessoas que ocupavam aquele espaço da cidade, hoje entre as avenidas Guajajaras e Santos Dumont. Segundo o jornalista, à época a região era precariamente ocupada, não havendo traçado de ruas ou habitações regulares, e o provável proprietário da faixa de terra havia acionado as forças policiais para reprimirem e desalojarem os ocupantes.

João de Deus
Mesmo com avanços, João de Deus ainda enfrenta problemas estruturais
Quando chegou ao local em que se dava o conflito, uma viatura da polícia e o delegado responsável pela ação, apesar de armados, se encontravam cercados pela população. Na iminência de um confronto sangrento, o próprio jornalista acabou tendo a iniciativa de negociar com os moradores da área, dissuadindo-os de usar as os artefatos de que se muniram como armas para atacar o efetivo da polícia. Douglas Cunha disse que o argumento decisivo para convencer os ocupantes foi que, embora fossem menos numerosos, os policiais portavam armas de fogo capazes de causar danos e morte a muitos dos moradores. Por fim, a população abriu passagem para a retirada da viatura.

Por ocasião do aniversário do João de Deus, o funcionário público Francisco Loreto, de 62 anos, concedeu entrevista relatando a própria participação na formação do bairro.

Como um dos primeiros ocupantes daquela área, ele antes era morador do Pão de Açúcar. Em abril de 1980, Francisco Loreto acompanhou o movimento que de um dia a outro levantou informalmente inúmeras casas nas terras ocupadas, por pessoas de outras partes da capital e até do interior. O funcionário público disse que a propriedade pertencia ao ex-governador Nunes Freire, mas também era reclamada por jagunços que intimidavam os ocupantes através de armas.

Francisco Loreto ainda guarda recortes de reportagens e fotografias que retrataram a luta coletiva e as mudanças que ocorreram no bairro. Segundo ele, a memória de ter participado da fundação do João de Deus marcou sua vida para sempre. “Na época dessa confusão, o primeiro jornal que veio fazer reportagem aqui foi O Imparcial”, comentou, destacando a presença do repórter Douglas Cunha nos acontecimentos históricos.

Problemas

Assim como ocorre em diversos bairros de São Luís, surgidos a partir de ocupações irregulares, a falta de regularização fundiária no João de Deus constitui um problema que requer solução urgente. Segundo um relatório divulgado pela Promotoria Comunitária Itinerante, instalada naquele bairro entre fevereiro e setembro de 2006, os moradores se estabeleceram na área naquelas circunstâncias, mas os serviços essenciais passaram a ser disponibilizados de forma precária, ou mesmo clandestina.

Sem a regularização urbanística desse e de outros bairros, os moradores apenas com a posse dos terrenos estão impedidos de registrar e transferir os imóveis, problema que se verificaria inclusive na zona rural de São Luís. Segundo Francisco Loreto, apesar de os ocupantes terem permanecido no local, atualmente nenhum morador dispõe de título de propriedade. O processo judicial que trata da matéria tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
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