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O Imparcial me demite por discordar de nota de esclarecimento do deputado Domingos Dutra

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Henrique Bois

O jornal O Imparcial me demitiu do seu quadro de editores nesta terça-feira, 29, por discordar de forma intolerante da publicação de uma nota na íntegra do deputado federal Domingos Dutra (PT) esclarecendo sobre acusações veiculadas em reportagens publicadas em O Estado do Maranhão com base em informações do deputado federal Francisco Escórcio (PMDB).

Na noite de segunta-feira, fui chamado pelo diretor de redação do jornal, Raimundo Borges, para que providenciasse matéria sobre as denúncias de O Estado acerca de suposta manutenção de uma funcionária fantasma no gabinete do deputado que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Na recomendação da cobertura ao caso, o diretor de redação aludiu a reportagem publicada na edição de O Imparcial do sábado passado, na qual Dutra figurava como personagem da notícia de forma a projetá-lo positivamente. "Quando o Dutra tem coisa positiva nós cobrimos. Não vamos acobertar bandalheira do deputado", recomendou. Seria o caso então de dar publicidade unilateral ao caso reportado pelo jornal dos Sarney.

Designado para fazer a reportagem, o repórter Agenor Barbosa tentou contato com as fontes da tal "notícia-crime", envolvendo o deputado Domingos Dutra, como acusado; e o deputado federal Escórcio, como autor das denúncias. Não sendo possível contatar com Escórcio, conforme o mesmo me relatou mais tarde, Barbosa produziu uma matéria com base em nota de esclarecimento do deputado petista, divulgada ainda na noite de segunda-feira, 28.

Para minha surpresa, na manhã desta terça-feira, o mesmo diretor de redação manifestou sua indignação com o teor da nota publicada na íntegra. No seu entendimento, escrita com "linguagem vulgar e baixa" e de maneira alguma atendendo às intenções da reportagem.

Segundo palavras do diretor o teor da matéria recomendada seria totalmente contrário a que foi publicada.Conforme revelou mais tarde em conversa pessoal, o interesse do jornal era incriminar o deputado, desconhecendo que a contratação da tal "empregada doméstica" fora desmentida na edição de segunda-feira pelo mesmo O Estado do MA.

De acordo com o diretor de redação, a publicação da reportagem colocou em dificuldade a empresa. Segundo ele, a ordem da demissão partiu do diretor-presidente do jornal, Pedro Freire.

Há pouco mais de um mês o jornal publicou na capa, editorial em defesa da liberdade de expressão, se solidarizando com a classe quando do assassinato do jornalista do Sistema Mirante, Décio Sá (morto em 23 de abril deste ano). Fez eco às palavras usadas pelo senador José Sarney (PMDB-AP), que na ocasião qualificou o crime como "atentado à democracia", corroborando o comportamento servil de um imprensa aferroada ao ganho, sem vínculo com a verdade e com o pensamento livre. Exemplo disso pode ser constatado na edição de amanhã do jornal, quando Escórcio tem vez solitariamente, segundo o manual do bom jornalismo forjado pelo jornal fundado por Assis Chateaubriand no Maranhão.

Nota do Blogueiro: O Blogue publicou a Nota do deputado Domingos Dutra na segunda-feira, 28 de maio. Aqui.
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