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Citações em trabalhos acadêmicos

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por Ribamar Silva

1 Introdução
Tenho sido procurado por professores e por acadêmicos das mais variadas instituições de ensino e das mais diferentes áreas de concentração do saber com a solicitação de que me manifeste sobre citações em trabalhos acadêmicos.

Diante disso, tenho manifestado meu posicionamento, o qual, por alguns motivos, não se coadunam com a compreensão de professores melhor qualificados do que eu, de modo especial, porque muitos são mestres e doutores, enquanto eu sou apenas um velho autodidata e isso termina por pesar, de forma negativa, sobre minhas opiniões.

Ou seja, em uma discussão desse nível, começo e termino em desvantagem, de modo especial quando impera o princípio da autoridade em que a competência tecnocientífica é evidenciada apenas pelo título e não pela prática dos professores.

Assim, por vezes, as discussões não se encerram porque tenha havido consenso ou por demonstração convincente, mas porque o portador dos títulos invoca o princípio da autoridade científica, por vezes, numa atitude apenas dogmática. É como se o título, por si só e não pelo estudo e pela produção acadêmica constantes tivesse o dom de conferir uma razão iluminada que beira as fronteiras da crença.

No entanto, e independente disso, o fato que tenho sido consultado com frequência. Tais consultas são sempre realizadas de forma particular, de modo que as respostas também se restringem a essa dimensão, o que significa que não há maior repercussão.

Então, em face disso, e para economia do tempo de quem me procura e do meu próprio, posiciono-me aqui de forma definitiva sobre o tema, exceto se adquirir/construir um conhecimento novo que me convença da necessidade de modificar minha posição.

2 Citações em trabalhos acadêmicos
Parto do princípio de que os textos acadêmicos, com exceção dos ensaios ou quando se trata de relatório resultante de pesquisa exploratória, ou seja, aquela que se deu sobre terreno virgem, lançam mão do recurso às citações, tanto na revisão de literatura, quanto na fundamentação do quadro metodológico, independente do nível ou categoria em que o trabalho se insere.

Não recorrei às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para definir o que sejam as citações, uma vez que elas constam de um documento de fácil acesso a todos os interessados, a NBR nº. 10.520/2002.

Ao invés disso, recorro à definição de Santos (2007, p. 139), o qual afirma que “Citação é a inclusão no texto de informações extraídas de outras fontes. Devem ser sempre consideradas idéias secundárias em um parágrafo, já que sua função é sustentar, ilustrar ou esclarecer idéias do autor do texto”.

O posicionamento de Santos (2007) conduz a pelo menos duas considerações importantes:
i) as citações são informações e/ou ideias retiradas de textos de outros autores, de modo especial daqueles autores considerados como autoridade no assunto de que tratam, com a finalidade de apoiar as ideias de quem está produzindo o texto acadêmico.

ii) Que o texto que se está produzindo, quer seja um paper, uma monografia, um artigo, uma dissertação ou uma tese, são de autoria de quem os escreve, e não dos autores que nele são citados.

Neste caso, cairia por terra a posição de professores que defendem que as revisões de literatura seriam compostas apenas por fragmentos de textos dos autores citados, prática comum em instituições de ensino superior do município de Imperatriz, Estado do Maranhão. Por sua vez, em confirmação às ideias que tenho sobre citações, afirmam Laville e Dionne (2008, p. 263) que
Em um relatório de pesquisa, pode-se ter citações literais (textuais), quando se incorporam as próprias palavras de um texto ao nosso, ou citações livres (paráfrases), quando se retira do texto a informação ou a idéia, apresentando-a com nossas próprias palavras.
O que se observa, salvo exceções honrosas em trabalhos acadêmicos das instituições de ensino superior locais, é a utilização inescrupulosa do recurso à citação indireta ou livre, o que em si, e feito da forma correta, não seria nenhum pecado. No entanto, o recurso à suposta citação indireta, na prática, apenas serve para esconder ou mostrar? um artifício ilegítimo e até uma fraude intelectual.

Como já ficou demonstrado, parto da hipótese de que o texto é de quem o produziu. Quando o autor do texto faz uma citação, o que ele deseja é trazer outros autores para um diálogo no âmbito de seu próprio texto. Se, no entanto, o texto que a pessoa assina como seu, é composto apenas de citações, o texto não pode ser seu, mas dos autores citados.

Quando se faz uma citação, seja ela direta ou indireta, deve-se obedecer às normas que regulamentam as formas de citação. No caso da citação direta curta, deve vir grafada entre aspas no interior do parágrafo, com a defina identificação do autor, pelo sobrenome, do ano de publicação da obra e do número da página de onde foi retirada.

O mesmo é válido para as citações diretas longas. No entanto, ao invés de aparecerem inseridas no parágrafo, são destacadas do texto por um enter, devem ser grafadas com caracteres menores que os do corpo do texto, com espaço de entrelinhas menor e com recuo de 4cm a partir da margem esquerda.

Já as citações indiretas livres, quando não são reproduzidos fragmentos de textos de outros autores, mas apenas suas idéias, as quais são analisadas pelo autor do texto que as cita, não são delimitadas ou destacadas por nenhum dos recursos acima descritos, mas recebem a indicação de que o texto original foi parafraseado ou que apenas suas ideias foram utilizadas, identifica-se o autor e a data de publicação da obra.

Quando, no entanto, se apanha um fragmento de texto de determinado autor e o apresenta como sendo uma citação livre, realizando apenas pequenas modificações, como por exemplo, substituindo alguns termos por seus adjetivos, de forma deliberada ou não, se está tentando induzir o leitor a um erro, ou seja, se deseja fazer crer que se trata de uma paráfrase, quando na verdade, se trata mesmo é de uma citação direta. Portanto, neste caso, trata-se de uma fraude intelectual.

Se esta conclusão estiver correta, como a experiência me tem mostrado, a fraude é cometida pelos acadêmicos, sim, mas com uma agravante: cometem a fraude com a orientação de professores “orientadores” possuidores de alta titulação, cuja fraude é legitimada pelas doutas bancas examinadoras.

Tal comportamento conduz a pensar que durante os cursos os acadêmicos não estão produzindo textos. Quando deles se exige uma produção textual, como por exemplo, a elaboração de projetos de pesquisa e de relatórios de pesquisa, como não sabem produzir textos, recorrem ao plágio puro e simples ou a artifícios ilícitos como o suposto recurso à citação indireta ou livre.

Neste caso, restaria perguntar: Como são aprovados tais textos? Muito simples. Como os professores, ao longo dos cursos, sempre receberam textos recortados e colados da internet, muitas vezes, até sem formatação, como sendo de autoria dos acadêmicos, seria muito complicado ensinar a produzir texto no último semestre do curso. Então, se aceita mais uma vez o plágio como algo legítimo. A banca lava as mãos e a instituição livra-se de um acadêmico que já não representa uma fonte de rendimentos.

Mas não é só isso. Muitas vezes me perguntam também quantas citações devem ser feitas por página de texto. Eu costumo dizer que não conheço no sistema normativo da produção textual uma regra para a quantidade de citações que devem ser feitas. Neste caso, deve imperar o bom senso. Não se deve citar demais ou de menos. No primeiro caso, o acadêmico corre o risco de assinar um texto que não seja seu. No segundo, é possível que o texto produzido careça de sustentação teórica.

Para demarcar de forma definitiva meu entendimento sobre citações, confirmo que penso na mesma linha de Brandão (2002). Seja na graduação ou na pós-graduação, a produção textual não é fácil, e por vezes, muitas vezes, os acadêmicos, no momento de elaborar seus trabalhos de conclusão de curso, se sentem deveras em situações muito difíceis. Uma das possibilidades de sair de tal situação seria utilizar-se do máximo de citações possível.

Brandão (2002, p. 18), com a finalidade de demonstrar a necessidade ou não de citações no texto acadêmico, interroga-se: “Quando é que devemos citar? […]?”. Brandão (2002), em resposta a sua interrogativa, argumenta que para se fazer citações, parece não haver regras fixas, mas admite que em grande número de trabalhos acadêmicos, cita-se muitas vezes sem nenhum critério e que em muitas dessas vezes, as citações são desnecessárias. Alem disso, Brandão (2002, p. 18) acrescenta:
[…] o uso indiscriminado das citações é extremamente prejudicial à argumentação e parece-me estar se tornando um vício que merece ser corrigido em favor de uma produção mais rigorosa e cuidada, onde a citação chega no momento certo de reafirmar uma idéia, contestar um argumento ou ampliar uma reflexão.
Como se depreende dos argumentos da autora, a citação, no trabalho acadêmico é necessária, mas deve ser feita, como já se disse acima, a partir do bom senso. Eu penso que uma média de duas ou três citações por página, embora isso não possa se constituir como uma regra seria o mais adequado.

3 Considerações finais
Vive-se em um mundo marcado pelo desenvolvimento tecnocientífico, inclusive quanto ao que se refere à comunicação e à informação. No entanto, tão difícil quanto produzir pesquisas acadêmicas, é comunicá-las, e isto se apresenta como um paradoxo. Dispõe-se das mais diversas medias, mas não se sabe como comunicar os resultados de pesquisas.

Em face disso, é comum se admitir que escrever de forma adequada se constitui como um dom, o que é uma falácia. Escrever de forma a comunicar bem o que se quer dizer, é fruto de um exercício contínuo de leitura e de escrita. Não pode escrever bem, quem não é um bom leitor.

Se no mundo acadêmico acostumou-se a admitir como atividade de produção textual o recurso ao corte e à cola de textos disponibilizados em redes eletrônicas, não é de causar espanto o recurso a uma profusão de citações quando da elaboração de relatórios acadêmicos.

Os professores, quase sempre, até por falta de tempo, são maus leitores. Seus alunos, por falta de um pouco de rigor dos professores, são maus leitores e maus escritores. Neste caso, e diante de tal realidade, não é difícil se buscar justificativas, no âmbito da academia, para a legitimação da fraude intelectual e do crime de plágio.

No entanto, isso tem jeito. As instituições de ensino superior, bem como seus professores devem assumir a responsabilidade pela formação integral de seus educandos. Não se admite formar operacionalizadores de técnicas eficientes, mas que não saibam contextualizar de forma teórica sua prática. Instituições de educação profissional já fazem isso em curto espaço de tempo e a baixo custo.

Referências
BRANDÃO, Zaia. Conversas com pós-graduandos (sobre leituras, trabalhos acadêmicos e pesquisa em educação). In: ________ . Pesquisa em educação: conversas com pós-graduandos. São Paulo: Loyola, 2002.
LAVILLE, Christian.; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. [Adaptação de Lana Mara Siman e Tradução de Heloisa Monteiro e Francisco Settineri]. Porto Alegre: Artimed, 2008.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 7. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.
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