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Aumento da intensidade de carbono preocupa especialistas

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por Amália Safatle

Fossem só as decorações de gosto duvidoso que se espalham por todos os cantos, subindo árvores e prédios, invadindo todo e qualquer espaço físico e aéreo, ainda vai. Mas o acender dos bilhões de luzinhas no apagar das luzes do ano vem fazer piscar os sinais de alerta. Vem lembrar que febre consumista e febre do planeta estão correlacionadas. As neves artificiais não nos deixam dúvidas.

Decoração de Natal em Gramado (RS): "O acender dos bilhões de
luzinhas no apagar das luzes do ano vem lembrar que febre
consumista e febre do planeta estão correlacionadas"
E é neste clima pré-natalino - em que a solidariedade humana vira mais uma das ferramentas para ajudar não propriamente a humanidade e sim o capitalismo em crise, por meio de estímulos a mais consumo -, que começou a 17a Conferência das Partes sobre mudança climática, em Durban, na África do Sul.

O crescimento do consumo, motor em torno do qual os modelos macroeconômicos foram construídos em postos em prática, colocou os ecossistemas em xeque. Durban começa sob notícias pouco auspiciosas de que a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera chegou a níveis recordes, superando as previsões mais pessimistas, segundo informações da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

O nível de dióxido de carbono chegou a 389 partes por milhão, quando o razoável era que não ultrapassasse 350 ppm, sob pena de provocar grandes desequilíbrios na vida na Terra. O crescimento das emissões de metano e de óxido nitroso, outros dois importantes gases de efeito estufa objetos do Protocolo de Kyoto, também foi muito significativo.

Mas o alvo das preocupações não é apenas o aumento das emissões de carbono olhado de forma absoluta, mas também de forma relativa. Um recente estudo da Pricewaterhouse Coopers informa que economias do G-20 (reúnem as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia, ou seja, inclui países desenvolvidos e em desenvolvimento) "deixaram de caminhar lentamente na direção certa para rumar à direção errada" no que se refere à intensidade carbônica, que mede a emissão relativa de carbono .

Isso porque, pela primeira vez em dez anos, a quantidade de carbono por unidade produzida cresceu. Diante de um crescimento do PIB global de 5,1% em 2010, as emissões aumentaram 5,8% . "A recuperação econômica, onde aconteceu, se deu de modo 'sujo'", dizem os autores de Low Carbon Economy Index 2011, que chega à terceira edição. E a culpa não foi da China, como mostra o estudo.

Segundo eles, essa tendência de alta na intensidade de carbono verificada na maioria dos países do G20 encontra explicações como um inverno muito rigoroso no Hemisfério Norte, a queda do preço do carvão frente ao gás e a menor disseminação de fontes renováveis de energia.

Para que se atinja a meta de limitar a dois graus Celsius o aumento da temperatura global e com isso ainda permitir maiores chance de adaptação à mudança climática, a intensidade de carbono precisa ser reduzida em 4,8% a cada ano até 2050. O que precisa de luzes é o final do túnel.

Fonte: Terra Magazine

Nota do Terra Magazine: Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.
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