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Livro vê paralelo entre tráfico no Brasil e máfia italiana

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por Ana Cláudia Barros e Dayanne Sousa

Há convergências entre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, tão em evidência nos noticiários das últimas semanas, e a máfia italiana? Sua estrutura, sua forma de organização encontra paralelo em grupos como a Camorra? Estas estão entre as questões levantadas pelo jurista e especialista em crime organizado Wálter Maierovitch, responsável, ao lado da professora da Universidade Estadual de Palermo, Alessandra Dino, pela coletânea Novas tendências da criminalidade transnacional mafiosa (editora Unesp), que será lançada nesta segunda-feira (6).

"O Brasil tem um crime de matriz pré-mafiosa", define Maierovitch. Ele explica que a semelhança existe porque os grupos criminosos do Rio de Janeiro e de São Paulo também trabalham com controle de território e controle social.
Livro foi publicado inicialmente na Itália. Foto: Divulgação
- A legislação brasileira fala só em associação criminosa. Se você pegar um bando de batedores de carteira, eles vão ter o mesmo tratamento no Brasil que esse pessoal do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital (PCC). Mas essa matriz que já é de natureza diferente e exige um tratamento diferente. Exige uma tipificação.

O livro, que reúne 15 artigos elaborados por juristas e pesquisadores de diferentes países, coloca-se como uma referência para a análise do crime organizado no Brasil e suas ramificações internacionais. Foi publicado inicialmente na Itália, como um trabalho para o Conselho da Magistratura do país e deve sair ainda na França e na Alemanha. Entre os assuntos esmiuçados está o fortalecimento, nas últimas décadas, de organizações criminosas, como a siciliana Cosa Nostra e a islâmica Al‑Qaeda.

Nos ensaios, os autores apresentam ao leitor particularidades das redes criminosas, desde os crimes de colarinho branco até a estrutura da empresa mafiosa. Temas como psicologia criminosa, economia paralela são abordados e exemplificados.

Rio de Janeiro
Para Maierovitch, casos italianos indicam caminhos para o combate ao tráfico no Rio de Janeiro. "É bom para as pessoas não errarem tanto como têm errado. Verificarem como é o sistema penitenciário, como se faz o isolamento, como se combate a lavagem de dinheiro, como é a infiltração do crime na política e quais os paralelos internacionais".

O jurista explica que o Comando Vermelho - organização que chefia o tráfico na região do Morro do Alemão - é composto por várias facções horizontalizadas e que formam uma confederação como a Camorra, na Itália. Ele também vê semelhanças entre as milícias cariocas e grupos paramilitares da Colômbia e do México.

Maierovitch avalia que são necessárias operações de forças policiais como as realizadas no Rio, mas que também é preciso entender o funcionamento do tráfico.

- Não adianta acabar com o tráfico de cocaína no Complexo do Alemão, quando a folha de coca está nos países andinos. E os países andinos não têm os químicos para elaboração, mas o Brasil tem a maior indústria química da América Latina e uma indústria que não é fiscalizada. Há uma corresponsabilidade - conclui.

Fonte: Terra Magazzine
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