-->

A gente não quer só comida..

Publicidade
por Marcos Fábio*

Terminadas as comemorações pelo aniversário de Imperatriz, penso que é um momento bastante oportuno para refletirmos sobre a dimensão do que representaram alguns eventos  que compuseram essas festividades. Entre inaugurações de obras físicas, calçamento de ruas, corte de bolo, corridas (ciclística e de rua), culto, missa, feira estudantil, shows com artistas locais e nacionais, três iniciativas me pareceram particularmente importantes, muito mais pelo que significaram como efeito simbólico do que pelo que conseguiram de ‘ajuntamento’, como os shows. Foram elas: os concursos de redação, de fotografia e de artes plásticas.

O concurso de redação permitiu aos alunos das escolas públicas municipais (do ensino fundamental até o 9º. ano) expressar-se sobre o tema “Minha cidade”. Ao todo, mais de 60 textos disputaram os três lugares premiáveis. E os ganhadores levaram para casa, além dos seus prêmios, o reconhecimento público da qualidade dos seus textos e da sensibilidade de retratar a cidade sob a sua ótica – a ótica do seu tempo e da sua mentalidade adolescente.

Os concursos de fotografia e artes plásticas tinham a mesma proposta, mas com uma ‘escrita’ distinta. Ali valiam a expressão pelo olhar, pela sensibilidade plástica, pela perspicácia de congelar o instante (seja no movimento do indicador ou nas finas cerdas dos pinceis), na tentativa de elaborar a melhor imagem de Imperatriz hoje. E o que se viu na última quinta-feira, na entrega dos prêmios de fotografia e pintura, foi a representação plural de uma cidade – que hoje está para além da imagem do rio Tocantins e da pobreza, tomadas por muito tempo como identidades (quase) únicas; ou da ponte, sua nova metonímia...

Esses três eventos têm uma significação muito particular: a de que a cidade vai crescendo, vai mudando o seu perfil de necessidades e, como diz a letra dos Titãs, não quer mais só comida, que também diversão e arte. E tudo converge para essa busca pela cultura: o crescimento dos índices de escolarização; o desenvolvimento urbano; o crescimento de uma classe média que vai chegando com novos hábitos, novos olhares, novas formas de ver o mundo a partir do seu lócus e dos valores que carrega; a sua transformação em um pólo universitário e de serviços; a melhoria da vida, enfim. Claro que os problemas continuam, muitos e muitos, belamente retratados nas fotos que compuseram a exposição montada para o dia da entrega dos prêmios – uma prova de que a arte, desde que foi criada, é um dos melhores canais de expressão e de denúncia das mazelas do ser humano...ou não?

O desafio agora, dos gestores municipais, é encorpar cada vez mais a ‘cesta básica’ de cultura e arte de que o imperatrizense necessita para viver melhor. Pela sensibilidade que tiveram de  incorporar, entre tantas iniciativas de massa, concursos que valorizassem a sensibilidade da população (de criar,  de ver e de ler o seu entorno com olhos menos concretos e mais poéticos) e promovessem a expressão artística pela escrita (verbal ou não) das suas narrativas sobre Imperatriz, merecem os parabéns. E fica agora o desafio de buscar, de maneira sistemática, novas oportunidades para outras formas de expressão, de promover novos reconhecimentos públicos da cultura e da arte que se faz por aqui, para o bem da nossa vida particular e coletiva.

* Marcos Fábio Belo Matos é jornalista e professor do curso de Jornalismo da Ufma

Advertisemen