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Caso Marcelo Dino: Investigação concluída com dois indiciados

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por Lucas Tolentino
e Kelly Almeida

Caso Marcelo Dino: Além de uma pediatra, inquérito sobre a morte de garoto de 13 anos no Hospital Santa Lúcia acusa uma auxiliar de enfermagem de falsidade ideológica. Ela mentiu ao informar o horário em que ministrou medicação à vítima, segundo a polícia

A investigação sobre a morte do estudante Marcelo Dino, 13 anos, depois de uma crise respiratória, terminou com o indiciamento de duas funcionárias do Hospital Santa Lúcia. A auxiliar de enfermagem Luzia Cristina dos Santos Rocha acabou acusada de falsidade ideológica.

As investigações da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) apontaram que ela mentiu a respeito do horário em que aplicou medicação no paciente. Há duas semanas, a unidade policial acusou a pediatra Izaura Costa Rodrigues por homicídio culposo (sem intenção de matar). O pai do adolescente, o presidente da Embratur, Flávio Dino, afirmou ao jornal Correio Braziliense que a família processará o hospital da Asa Sul.

"O hospital também deve ser responsabilizado. O resultado de tudo não dependeu apenas dessas duas pessoas (médica e auxiliar de enfermagem). Elas foram as agentes executoras de um método de gestão criminoso" (Flávio Dino, pai de Marcelo, na foto, com a mãe do menino, Deane Fonseca)
A auxiliar foi indiciada na última terça-feira por ter colocado informações falsas no prontuário de Marcelo, que sofria de asma. Segundo o delegado-chefe da 1ª DP, Anderson Espíndola, Luzia registrou que o broncodilatador foi aplicado no paciente às 4h. Aos investigadores do caso, no entanto, Luzia admitiu ter ministrado o remédio somente às 6h, minutos antes de o jovem apresentar o ataque respiratório que o levou a óbito. “Ela confessou não ter dado a medicação na hora certa porque Marcelo estava dormindo”, revelou Espíndola.

Mesmo com a demora de cerca de duas horas, o delegado ressaltou não ser possível precisar se o atraso contribuiu para a piora no quadro de saúde de Marcelo. “A auxiliar não foi responsabilizada pelo óbito e, sim, por inserir declaração diversa do que deveria constar no prontuário”, explicou o titular da 1ª DP. A pena para o crime varia de um a três anos de reclusão.

Fac-símile da edição do Correio
A depender do entendimento da Justiça, a pena pode ser cumprida por meio de medidas alternativas. A mãe de MarceloDino, a professora universitária Deane Fonseca, acompanhou o filho durante a internação e, segundo a família, foi quem percebeu a divergência entre o horário de aplicação do remédio e o que foi anotado. “Muito depois, analisando o prontuário, verificamos isso. É um crime contra Marcelo, contra a gente e contra a sociedade brasiliense”, afirmou Flávio Dino.

Com a conclusão das investigações, o relatório final da 1ª DP deve ser encaminhado até o fim da semana para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). O documento detalha as diligências policiais sobre a morte deMarcelo, em

14 de fevereiro. O adolescente deu entrada no Santa Lúcia ao meiodia de uma segunda-feira e morreu no início da manhã seguinte, por volta das 7h (leiaMemória).

Além de Luzia, a pediatra Izaura responderá criminalmente pelo caso. Responsável pela unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica na madrugada em que Marcelo Dino morreu, ela acabou indiciada sob a suspeita de imperícia no atendimento.

O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) indicou a existência de material gástrico no pulmão do adolescente, o que teria causado asfixia. Segundo a polícia, a demora na entubação e a falta de aspiração das vias respiratórias teriam sido
fatais.

Justiça
O fim das investigações policiais representa o início de uma nova batalha para a família de Marcelo Dino. O pai do jovem pretende processar o Hospital Santa Lúcia por acreditar que uma sucessão de erros provocou a morte do caçula da família.

“O hospital também deve ser responsabilizado. O resultado de tudo não dependeu apenas dessas duas pessoas (médica e auxiliar de enfermagem). Elas foram as agentes executoras de um método de gestão criminoso”, avaliou Flávio Dino.

Caso vençam na Justiça, os pais do adolescente deverão destinar a possível indenização a instituições de caridade. A decisão do presidente da Embratur e da professora universitária tem o objetivo de responsabilizar os diretores da unidade. “Nenhum dinheiro do mundo consegue compensar a gravidade do sofrimento que o hospital provocou no Marcelo e em nós. É uma questão ética”, declarou Flávio.

Hospital espera inquérito
Apesar de encerradas as investigações sobre a morte do estudanteMarcelo Dino e do indiciamento de duas funcionárias, o Hospital Santa Lúcia mantém o silêncio a respeito do caso. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da unidade de saúde afirmou que a direção não comentará o caso. Emnota, informou que o “departamento jurídico não teve acesso ao relatório final do indiciamento. Portanto, não pode ainda se manifestar sobre o assunto.”

O hospital do fim da Asa Sul adotou a mesma postura quando a pediatra Izaura Rodrigues foi indiciada por homicídio culposo, no último dia 13. Nas vezes em que a direção prestou esclarecimentos, garantiu que o jovem morreu depois de uma crise fatal de asma. O laudo cadavérico do Instituto deMedicina Legal (IML) da Polícia Civil do Distrito Federal, no entanto, concluiu que a causa do óbito foi uma asfixia decorrente da aspiração de suco gástrico.

A direção do Hospital Santa Lúcia contratou um perito particular para analisar o que teria levado o estudante à morte. O documento, finalizado no início do mês e assinado pelo legistaGeorge Sanguinetti, defende que a asfixia foi desencadeada por uma crise asmática grave. Responsável por perícias paralelas em casoscomooda garota Isabela Nardoni e o de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, o médico sustenta que a secreção encontrada no pulmão de Marcelo Dino teve origem nos próprios brônquios, ou seja, não haveria suco gástrico no órgão.

Complicação respiratória
O estudanteMarcelo Dino, 13 anos, sofreu, em 13 de fevereiro, uma crise de asma no Colégio Marista (609 Sul) enquanto praticava exercícios físicos. A família do jovem o encaminhou ao Hospital Santa Lúcia por volta do meio-dia. Ele foi internado na unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica. Por volta das 6h do dia seguinte, o garoto teve uma nova complicação respiratória.

Diante da crise, os médicos aplicaram broncodilatadores e sedativos e entubaramo paciente duas vezes. Apesar das massagens cardíacas e das injeções de adrenalina, o adolescente morreu às 7h.

O Santa Lúcia informou que o óbito decorreu de uma asma fatal ou catastrófica.No mesmo dia, o tio do menino, o procurador da República Nicolau Dino, denunciou o episódio à 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) sob a acusação de negligência do hospital. Os parentes do estudante também encomendaram um laudo particular, com a conclusão de queMarcelo poderia ter morrido por conta da demora na entubação

No início do mês, a família do jovem entrou com uma representação na Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa), pedindo investigação da conduta do hospital. OMinistério Público é outro órgão a acompanhar o caso.

Fontes: Correio Braziliense e Clipping MP-DF
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