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Caracas: Projeto grandioso e arrojado

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Sebastião Caracas

Sempre fui um sonhador, dormindo ou acordado, e tenho certeza de que o serei toda vida, o que me faz desejar manter a mente ativa até o final da minha jornada. Digo isso, creio, porque o meu berço vem das montanhas, onde apreciava, dirigindo a vista para o céu, sonhava ao olhar as nuvens acariciando os galhos das arvores lá no alto dos morros.

Naquele lugar especial não se via mendigos ao relento. Talvez por isso, ou outras razões, sempre fico chocado ao ver cenas que mostram pessoas transformarem ruas e calçadas em moradas.

Sebastião Caracas
Sebastião Caracas em mais uma ideia para mudar as cidades
Mantenho a expectativa e a esperança de ver um dia transformado em lugares comuns as ruas de todas as cidades.

Isto será possível se surgir quem deseje aproveitar a ideia que irei expor. Podem ser clubes de serviços, igrejas, políticos dispostos a assumirem a paternidade do assunto ou até quem sabe, um governo que esteja disposto a ser chamado de louco ao dar o primeiro passo para resolver esse problema social, quando muitos fazem de conta que não o enxergam. .

Erradicar da miséria gente sofrida que mora nas ruas, dando-lhe uma esperança de vida, de trabalho, ensinando-lhe uma profissão, era o que eu pensava, para evitar um custo maior, além de torná-la independente e não um malandro remunerado. Dizia Anatole France: “Para realizar grandes conquista precisamos não apenas agir, mas também sonhar e acreditar.”

Se olharmos atentamente ao nosso redor, nos parece que o mundo está às avessas sem tranquilidade e confuso até na própria natureza e na área social principalmente, com cenas chocantes de abandono, miséria, de gente que perdeu as esperanças, ocupando o mesmo espaço com bandidos, assaltantes, traficantes de drogas e usuários, parecendo um ambiente de selva com animais ferozes.

Gente que mora nas ruas

O Brasil é tão grande que não permite a ninguém abraça-lo e ver de relance em toda sua imensa extensão continental as pessoas que habitam seus espaços. Há lugares de primeiro mundo e outros sem qualquer referência em todos os estados.

As classes sociais de origens e culturas diferentes se destacam entre a numerosa população, em todos os lugares, numa explosão dominante entre os menos favorecidos. Daí a origem dos miseráveis que povoam logradouros públicos.

O que se vê, é gente, em todas as cidades do país, que não tem um lar, casa, família e nem amigos. Vivem como animais soltos pelas ruas, numa disputa de migalhas de pão para amenizar a fome de cada dia.

Como abrigo, ocupam calçadas, sem proteção à mercê dos vândalos cruéis e assassinos, sem um lugar quentinho para passar as noites frias. È o que lhe oferece a pátria.

O céu, que é de todo mundo, também é o teto que possuem e os faz sonhar, quando podem apreciar a grandeza do universo pontilhado de estrelas em tempo de primavera ou de verão. Na outra época, sofrem o castigo das chuvas e do frio.

Não sabem e nem podem conversar sobre política, literatura, poesia ou abobrinha. Muitos não sabem ler nem escrever.. A única linguagem que exercitam é o verbo pedir.

A mendicância e o desamparo constituem um problema complexo. Há os que pedem por necessidade. Há os que pedem por vício, porque foi o que aprenderam na vida. Acreditamos em soluções para isso. Depende de vontade nacional, da sociedade, dos políticos das elites dominantes e do próprio governo.

Um organismo nacional com desdobramento nos estados e municípios poderia ser pensado, para funcionamento com a participação de todas as forças vivas, contando com verbas orçamentárias, contribuições particulares e doações, tendo como dirigentes, pessoas voluntárias da sociedade, num trabalho sem remuneração.

Com uma lei poderiam ser criados: Centros Educativos e de Reabilitação de Pessoas Carentes que Vivem nas Ruas. Esses Centros educacionais, seriam mais do que um albergue comum. Além de dormitórios teriam refeitórios, áreas para exercícios físicos e preparatórios para cursos profissionalizantes.

Através de regulamento para funcionamento, cada beneficiário assinaria um compromisso, para despertar nele o primeiro sentido de responsabilidade. Ao ser admitido voluntariamente ou persuadido a permanecer no Centro, o usuário teria de percorrer etapas de graduação e recuperação, até ser liberado para ser incorporado ao mercado de trabalho.

O seu aprendizado começaria com regras e práticas de higiene pessoal, exercícios físicos, preparação psicológica, visando ser despertado neles a autoestima e senso de responsabilidade.

No estágio seguinte teria obrigações de frequência às aulas de alfabetização e se for o caso, de outros cursos práticos de preparação de uma profissão para o mercado de trabalho.

Dentro do regulamento assumiria o compromisso de prestar alguns serviços sem remuneração, na faxina, na cozinha e outros como um aprendizado para sua manutenção futura.

Preparado para voltar ao campo, seria monitorado, por algum tempo, até poder viver por conta própria, sem necessidade de voltar às ruas.

Quem não gostaria de se dedicar gratuitamente uma ou duas horas semanais à uma grande causa?

Essa seria uma forma de pessoas bem sucedidas se sentirem úteis, retribuindo à sociedade, através de um trabalho voluntario, como retribuição ao que têm recebido de apoio para o sucesso de seus empreendimentos na área profissional ou de negócios.

A satisfação e a felicidade que todo mundo busca como realização de vida, podem ser encontradas em pequenas coisas, como ser útil ao próximo.

Reintegrar à sociedade parte desse contingente das ruas, com o resgate da identidade e da cidadania deve proporcionar uma sensação gratificante.

Nota do editor da Aldeia: Sebastião Cararas é empresário do setor hoteleiro em São Luís.
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