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Marcos Fábio: Produção audiovisual maranhense

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Cinema,Audiovisual
Marcos Fábio

A produção audiovisual maranhense tem, exatamente, 111 anos. Começou em 1902, com a exibição de um retrato, uma fotografia fixa projetada, no então Theatro São Luiz (hoje Arthur Azevedo), quando passou por aqui um aparelho cinematográfico chamado Bioscópio Inglês, do italiano José Filippi. Eis o registro de O Federalista, um dos três mais importantes jornais da época, de 29 de julho de 1902: “...Antes de dar começo ao terceiro acto que foi de Bioscopio Inglez o sr. Filippi, fez descer um panno no qual havia a seguinte saudação: O primeiro quadro exhibido foi o do grupo da Oficina dos Novos sendo secundado por tres retratos de brasileiros: Augusto Severo, João de Deus e Benjamin Constant. As vistas animadas agradaram igualmente.” A escrita um tanto estranha é essa mesma, a língua portuguesa do século XIX. E o Bioscópio fazia parte, como atração, das comemorações do 28 de julho, dia da adesão do Maranhão à independência do Brasil. E a Oficina dos Novos era o principal grupo literário da capital, criado por Antônio Lobo, que se autodenominava Os Novos Atenienses. Essa história está contada no livro “...e o cinema invadiu a Athenas: a história do cinema ambulante em São Luís (1898-1909), de minha autoria.

Algumas outras cenas foram filmadas e exibidas por outros projecionistas durante o ciclo do cinema ambulante, que abrigou 14 aparelhos cinematográficos e terminou em 1909, quando foi inaugurado o Cinema São Luiz, a primeira sala fixa para a sétima arte, localizada no Largo do Carmo.

Outras produções locais foram feitas já no início do século XX, quando se deu o ciclo das grandes salas de cinema. Quem registra isso de forma brilhante é Euclides Moreira Neto no seu pequeno e raro “Os primórdios do cinema em São Luís”.

Aí temos um salto histórico para os anos 1970-1980, quando passa a vigorar o super-8 e entram em cena nomes como Euclides Moreira Neto, Murilo Santos, Ivan Sarney, Nerine Lobão, Luis Augusto Cintra, José Guterres e outros. Foi uma fase áurea, iniciada com as sessões do Cineclube Uirá, na Ufma, e que levou, pela primera vez, a produção audiovisual do estado além-fronteiras, ganhando reconhecimento e prêmios. Para se ter noção dessa pujança, em uma década mais de 110 filmes foram rodados, das mais diversas temáticas. Essa história também está contada na obra “Para não dizer que não falamos de cinema”, de Luana Camargo e Kelly Campos.

Viramos o século e encontramos realizadores jovens e talentosos, com destaque para Francisco Colombo, Joaquim Haickel e outros mais. E também para a ampliação das produções para além da capital. Essa nova safra é impulsionada, em grande parte, pela facilidade de acesso aos recursos técnicos de gravação e edição e o incentivo dado pelo Festival Guarnicê de Cinema, que todos os anos exibe e premia produções locais.

Dito isso, chegamos a Frederico Machado. Frederico já é conhecido dos realizadores maranhenses, pela sua ousadia, pela sua pertinácia e pela qualidade do seu trabalho, sua luta de manter um cinema (agora dois) de arte, uma produtora e distribuidora de filmes não hollywodianos e um festival anual desse tipo de filme. Tem um sobrenome nobre (é filho do grande poeta Nauro Machado e de Arlete Cruz, casal semióforo da novíssima atenas), mas fez seu próprio caminho, galgando luzes e as empunhando de braços juntos.

Agora, Frederico fez mais: fez um longa-metragem. Um longa-metragem muito bem feito, técnica e esteticamente. É uma obra densa, como os poemas de Nauro. De poucas falas, uma fotografia que parece capturar a lentidão das criaturas que se movem na tela com pachorra, com a falta de pressa do interior subdesenvolvido do Maranhão. Um filme feito de sugestões, de sombras, de mudez, de personagens fortes, que causam impacto por si sós, sem afetações. Um belo filme.

Já houve outras produções maranhenses em média e longa-metragens. Posso citar o longa “Renúncia”, gospel, gravado em Imperatriz. Os médias “Maravilha: amor pra 400 anos”, produzido pela Takashi Comunicação em homenagem aos 400 anos de São Luís e “O Buraco”, de Cássia Pires, saído este ano. O divertidíssimo “Ai que vida”, feito em Poção de Pedras e outros mais. São novos tempos para o nosso audiovisual.

O que espero é que essa produção cresça. E que novas iniciativas possam ser a ela adensadas. Afinal, em 111 anos de história cabe muito mais coisa.
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