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Dilma e o esgotamento do lulismo

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Gustavo Gindre, Facebook e Viomundo

O PT onde eu militei era um partido vivo, organizado através de núcleos locais ou temáticos, com diversas tendências internas expressando diferentes abordagens ao socialismo. Tinha uma revista pungente, uma editora combativa e até escola de formação política.

O PT que começou a nascer com a derrota de 1994 e se consolidou com a vitória de 2002 não tem mais nada disso. Suas tendências internas, por exemplo, viraram um amontoado de mandatos de parlamentares, disputando espaço interno com vistas às próximas eleições.

O PT foi colocado em segundo plano em detrimento do lulismo.

Segundo o professor Andre Singer, o lulismo é um grande pacto de classes, que combina a manutenção da política econômica do governo FHC com fortes políticas distributivistas. E só foi possível em parte pelo carisma de Lula, em parte pela extensa aliança política com setores da direita e, claro, pela garantia de que os problemas estruturais da sociedade brasileira não seriam tocados.

O lulismo (um tipo de bonapartismo que prescinde de partidos políticos fortes e movimentos sociais organizados) está baseado na crença de que seria possível estabelecer um ganha-ganha, onde a base da pirâmide ganha com o distributivismo e o topo se aquieta por saber que a pirâmide será mantida.

De outro lado, o lulismo só foi possível num cenário de expansão econômica, fortemente ajudado pela política industrial que nos tornou fornecedores de matéria-prima para a indústria chinesa.

Pois, parece que este modelo é justamente o que está falindo agora.

Primeiro, porque a política distributivista parece ter liberados forças no interior da sociedade que o pacto lulista não é mais capaz de conter. Quem ascendeu pelos méritos da política distributivista agora quer outros direitos que o pacto de classes não pode mais lhe oferecer.

Segundo, porque a expansão econômica baseada na reprimarização de nossa base produtiva vai chegando ao fim. Isso significa que os setores médios começam a demonstrar receio de perder renda. E por isso começam a bradar por serviços públicos de qualidade, pelos quais até agora estavam acostumadas a pagar, como educação, saúde e transporte.

Terceiro, porque a mídia (embora fortemente agraciada pelo lulismo) jamais lhe deu trégua e, ao contrário de outros governos, expôs as entranhas de sua aliança política com setores fisiológicos da direita. Embora a corrupção não tenha aumentado nos anos do lulismo, a percepção social dela ficou muito maior.

Por fim, embora a história não se resuma a indivíduos, é inevitável perceber que Dilma é a coveira do lulismo. A presidenta, isso já sabíamos, não tem nenhum carisma (um elemento central do lulismo). Descobrimos agora que ela também não tem nenhuma capacidade de negociar (outro elemento central do lulismo). Nem mesmo sua suposta capacidade gerencial é real.

Sem o velho PT para lhe dar sustentação ideológica e organizativa, Dilma se vê paralisada diante da crise. Seus cinco pontos são uma forma de protelar em um cenário com o qual ela não consegue lidar. Incapaz de manter o pacto lulista, incapaz de forjar um novo pacto à esquerda, incapaz de dialogar, seu autoritarismo se mostra inútil.

Em breve veremos que tipo de resposta o lulismo dará para a crise e se é capaz de sobreviver a ela.
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