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Michael Souza, O ImparcialSão Luís, MA - O terceiro dia de oitivas sobre o processo que apura o assassinato do jornalista Décio Sá foi marcado por muitas revelações, principalmente sobre a participação de José Raimundo Charles Sales Júnior, o Júnior Bolinha e dos demais acusados no crime que chocou o Maranhão em abril de 2012 na Avenida Litorânea.
Grupo Tático Aéreo foi o responsável pelo transporte dos acusados |
Segundo Samara Braúna, advogada de Bolinha, a defesa entendeu que era essencial que seu cliente se fizesse presente para afastar de vez qualquer envolvimento dele no caso. “Ele fez questão de vir acompanhar o depoimento deste terceiro dia porque uma testemunha disse que o reconheceu num determinado local e a gente achou importante fazer esse reconhecimento. Antes ele não teve interesse e nem motivos para participar dos outros depoimentos”, relatou a advogada.
No entanto a estratégia não saiu do jeito que imaginou a defesa. No único depoimento colhido na tarde de ontem, uma mulher, vizinha da casa alugada por familiares de Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Fábio Bochecha, no Parque dos Nobres, revelou ter presenciado inúmeras reuniões na residência e confirmou que estes encontros eram marcados sempre pela presença do assassino confesso Jhonatan Silva e dos acusados de serem os mandantes do crime o empresário Gláucio Alencar, o pai dele José de Alencar Miranda, assim como o próprio Bochecha e o Júnior Bolinha.
Medo no depoimento
A exemplo do que foi visto ontem de manhã, quando uma das testemunhas pediu que os acusados fossem retirados da sala por se sentir intimidada e com medo de represálias da quadrilha formada pelos acusados, a mulher, que reconheceu grande parte dos envolvidos no crime, preferiu esconder o rosto com uma máscara antes de entrar no salão do júri. Segundo o depoimento prestado pela jovem, horas antes da execução do jornalista todos os citados foram vistos na casa localizada no Parque dos Nobres, onde permaneceram durante algum tempo até se separarem.Para o promotor de Justiça da 1ª Promotoria do Tribunal do Júri do caso, Luís Carlos Correa Duarte, o reconhecimento feito pela jovem fortalece todo o processo probatório que também indica os acusados como participantes do plano de execução da quadrilha.
“Ele (Júnior Bolinha) foi reconhecido, mas esse reconhecimento é feito também por todo o processo probatório e não tem como não dizer que não era ele, pois inúmeras testemunhas o reconheceram”, esclareceu.
Luis Carlos também falou sobre o receio das testemunhas e a situação de insegurança que essas pessoas têm vivenciado. Em sua observação, apesar do medo o Ministério Público se sentiu satisfeito com as revelações. “O medo delas é natural. Vivem com suas famílias e estão lidando com um ou dois criminosos, mas sim de um bando, uma quadrilha. Então elas ficam temerosas pela situação e até mesmo das famílias”, acrescentou.
70% das instruções
Na análise do Ministério Público mais de 70% das testemunhas foram ouvidas, fato que colabora com o andamento do processo e, principalmente com a triagem realizada pelo órgão. Segundo Luis Carlos isso facilita o trabalho do MP que segue na formação de provas capazes de responsabilizar todos os envolvidos. “Para a alegria do MP o processo está andando. Nós estamos ouvindo as testemunhas, fazendo a instrução e tudo isso vai desaguar justamente na responsabilização dos acusados e no findar do processo. Conseguimos ouvir 70% das testemunhas e isso colabora para que o processo tenha fim e para que o MP possa fazer a triagem necessária”, afirmou.Como ocorreu nos dias anteriores novas testemunhas foram dispensadas pelo Ministério Público sob a mesma justificativa “Não precisamos de três ou quatro depoimentos iguais”, pura questão de celeridade processual.
Terceiro dia de depoimentos
No total seis pessoas depuseram. O primeiro a ser ouvido sobre a morte do jornalista foi um empresário do ramo automobilístico, citado no processo por ter relacionamento com prefeitos que estariam envolvidos com agiotagem. O empresário pediu que os acusados saíssem da sala durante o seu depoimento, para depois afirmar que não conhecia nenhum dos envolvidos no crime e nem o jornalista Décio.A segunda testemunha foi uma funcionária pública, que mora em uma casa pertencente à mãe de Fábio Aurélio do Lago e Silva, o "Fábio Bochecha". A funcionária afirmou que viu várias pessoas frequentando a casa da mãe de Fábio, entre eles Jhonatam e o próprio Bochecha.
A terceira testemunha foi a irmã de Marcos Bruno, suspeito de ser o motoqueiro que deu fuga à Jhonatan após ele ter matado Décio Sá, e ex-companheira de Shirliano Graciano, também arrolado no processo e que está foragido. A mulher apenas confirmou sua relação com os acusados e foi dispensada.
A testemunha seguinte foi um vigilante que prestava serviços a Gláucio Alencar. Ele afirmou que presenciou uma discussão entre o empresário e uma outra pessoa, que ele não soube identificar.
A última testemunha da manhã foi uma professora que teria comprado a moto utilizada no dia da morte do jornalista. Ela afirmou que deu a moto ao seu irmão, e que esse repassou o veículo para uma terceira pessoa, que ela não conhecia.
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