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Bolsonaro só é corajoso para ofender, provoca Jean Wyllys

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Deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ)
por Marcela Rocha

Primeiro deputado federal assumidamente gay, Jean Wyllys (PSOL-RJ) não esconde sua revolta com as declarações consideradas racistas e homofóbicas do "colega" Jair Bolsonaro (PP-RJ). "Agora Bolsonaro está tão amedrontado. Ele que sempre foi tão corajoso para ofender os homossexuais, para debochar das vítimas da ditadura militar...", provoca o socialista.

Para Wyllys, há uma tentativa do pepista de substituir o racismo pela homofobia, porque a ofensa aos LGBTs ainda não é considerada um crime no Brasil.

Em entrevista para o programa CQC, ao responder se aprovaria o relacionamento de seu filho com uma negra, o parlamentar disse que "não corria o risco" por que eles foram "muito bem educados" e não viveram num ambiente "como lamentavelmente" era o dela.

E, na manhã desta terça-feira (29), menos de 12 horas após veiculada a entrevista, o deputado retificou suas afirmações, dizendo que não tinha entendido a pergunta:

- Eu entendi que ela me perguntou o que eu faria se meu filho namorasse um gay (...) Se eu tivesse entendido assim (da forma como a pergunta foi feita), eu diria: 'meu filho pode namorar qualquer uma, desde que não seja uma com o teu comportamento'. Se eu fosse racista, eu não seria maluco de declarar isso numa televisão - afirmou para Terra Magazine.

Um grupo de 20 deputados está levando adiante cinco medidas que pretenderam tomar em relação a Bolsonaro: ingressar com uma representação junto ao Ministério Público Federal, recorrer ao Conselho de Promoção da Igualdade Racial, recorrer também ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e, por fim, pedir ao PP que o destitua da cadeira a qual ele tem direito na Comissão de Direitos Humanos na Câmara.

Segundo relata Jean, corre nos corredores do Congresso que Bolsonaro já empurrou a atual ministra Maria do Rosário, chamando-a de "vagabunda". O socialista relata também que o pepista não pouca seus colegas de ironias e ofensas.

Terra Magazine - No mesmo dia em que Bolsonaro fez uma série de ofensas aos homossexuais, era criado um coletivo de parlamentares em defesa desse tipo de violência.Jean Wyllys - Criamos um conjunto de parlamentares que representa os interesses do contingente ofendido pelas declarações de Bolsonaro. Este grupo se reuniu e decidiu aderir à representação de Manoela Dávila e Brizola Neto. Acreditamos que as declarações foram de fato ofensivas, que incorreu em crime de racismo.

Ele alegou não ter entendido a pergunta. O que o senhor acha disso?
É preciso desmascarar a estratégia de Bolsonaro: ele está tentando se safar de um crime de racismo que ele cometeu. Por que é que ele está assumindo com todas as letras ser homofóbico e injuriando os homossexuais da maneira grotesca, violenta e odiosa? Porque ele sabe que no Brasil homofobia não é crime. Então, ele se assume homofóbico e se desculpa pelo crime de racismo, porque ele sabe que homofobia não é crime. Ele não teve coragem de assumir a sua própria posição, reiterando as declarações que deu ao CQC.

E mais, o argumento de que ele não entendeu a pergunta da cantora Preta Gil é acreditar que as pessoas são muito ingênuas ou burras. Até foneticamente não há nenhum tipo de proximidade entre mulher negra e filho gay.

Os parlamentares pretendem usar isso na acusação?
A homofobia e a violência contra homossexuais gozam de um aceite social e de um silêncio da maioria das pessoas. É inadmissível que um homem desse, que viole os direitos humanos dessa forma, mantenha o assento na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
 

A Corregedoria vai abrir uma sindicância, assumimos o compromisso de pedir a cada um dos presidentes dos partidos que assinem para que representemos no Conselho de Ética. Agora, Bolsonaro está tão amedrontado. Ele que sempre foi tão corajoso para ofender os homossexuais, para debochar das vítimas da ditadura militar, tão corajoso para inclusive empurrar Maria do Rosário aqui enquanto ela era deputada, antes de ser ministra.

Como foi isso?
Ele empurrou ela, dizendo que ela era vagabunda, quando ela era deputada, antes de assumir o Ministério.

Ele pode, de fato, perder o mandato?
Pode, é claro que pode. Caso isso se configure como crime de racismo, tem aí uma quebra de decoro parlamentar. É muito fácil para ele tentar polemizar comigo, jogar essa questão para o ódio aos homossexuais, se assumindo homofóbico. Por que ele não compra briga com Edson Santos e com Luiz Alberto, que são dois parlamentares negros e que sabem que ele praticou racismo? A dignidade das mulheres, negros e gays terá que ser respeitada, goste ele ou não, goste a gentalha que saiu em defesa dele na internet ou não.

O senhor acompanhou a movimentação na internet?
Eu não tenho medo de ofensa, nem de injúria. As injúrias e ofensas estão sendo devidamente identificadas e as pessoas não ficarão impunes. Vamos continuar, insistir porque tudo tem limite.

Nesse momento, é aberta uma discussão sobre tornar homofobia um crime. Em que pé que está essa discussão? 
É óbvio que está na hora de tornar a homofobia um crime. Essa situação mostra como é necessário o projeto de Lei 122 ser aprovado o quanto antes. É inadmissível que alguém faça o que ele fez e saia impune. Ouvir esse tipo de coisa vindo de um deputado federal é um absurdo. Eu imagino como Preta Gil se sentiu ao ouvir aquilo. É impossível que esse homem abuse da imunidade parlamentar dessa maneira. E o que me assusta também é que tem gente que ainda defende esse homem, anonimamente ou não. Isso é tão chocante, tão chocante... Não adianta ele apelar, eu vou desmascarar toda tentativa dele de fugir da acusação de racismo. Ele vai pagar pela língua ferina dele.

Fonte: Terra Magazzine
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