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Aziz Santos: Obras de Impacto

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Abdelaziz Aboud Santos

Duas iniciativas de forte impacto viário e urbanístico foram projetadas arquitetonicamente para São Luís pelo então governo Jackson Lago, uma até hoje nem mesmo iniciada e outra com prazo de conclusão para 2010 e estranhamente inconclusa. Refiro-me aos viadutos dos retornos do Calhau e da Forquilha, além da extensão da Avenida Litorânea e urbanização de dezenas de ruas da cidade, de um lado e, de outro, o Projeto Rio Anil.

Relativamente à primeira das iniciativas citadas, o Governo Jackson Lago celebrou convênio de R$ 150 milhões de reais com a Prefeitura de São Luís, dos quais a metade restou depositada nos cofres da municipalidade sem que a cidade tenha tomado conhecimento da destinação última dessa soma gigantesca de recursos.

Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer traçaria mais duas obras para o Maranhão: um museu e um parque
No que se refere à segunda das iniciativas – o Projeto Rio Anil – o maior projeto social, urbanístico e viário então em curso no Maranhão, este constava de
  • A construção de 3.500 unidades habitacionais, boa parte delas entregue aos moradores;
  • A reforma e melhoria de mais 10.000 habitações populares;
  • A urbanização completa dos bairros da Camboa, Liberdade, Fé em Deus e Irmãos Coragem e 25 km de vias urbanas em 13 bairros adjacentes;
  • Espaços de lazer, equipamentos de cultura, postos de saúde e segurança, rede elétrica, de água, coleta e tratamento de esgoto;
  • Construção de avenida com 3.200 metros entre a margem esquerda do Rio Anil e as casas existentes nessa área, aí inclusos ponte e viaduto, enfim, o segundo anel viário da cidade, obra que já deveria ter sido entregue à população e que está por aí caminhando a passos de tartaruga, como caminha tudo que é idealizado para o benefício do cidadão por esse (des) governo que apodrece à medida que chega ao fim.
Ambas as iniciativas – viadutos da Forquilha e do Calhau e extensão da Avenida Litorânea e o Projeto Rio Anil – são parte da solução da tragédia que é hoje o trânsito da Capital.

No entanto, duas outras obras de importância capital para São Luís estavam sendo gestadas no interior do governo. A primeira delas, o Dr. Jackson a definia como o Museu de Arte Contemporânea, para nele abrigar o imenso acervo da coleção de mais de 18 mil gravuras, de Arthur Azevedo, considerado o maior da América Latina, que encontrou no Palácio dos Leões ao assumir o governo pelo voto popular. Era para ser edificado ao lado da Praça Maria Aragão, no centro da cidade, ali onde um velho galpão anteriormente de propriedade da Estrada de Ferro São Luís Teresina enfeia, hoje, o logradouro. Esperteza de terceiros que sempre teimaram em privatizar a coisa pública dele se apropriaram como se donos fossem, até que o próprio Jackson Lago, ainda como Prefeito, resgatou o imóvel para a Municipalidade.

O projeto arquitetônico dessa que seria uma imponente obra para a cidade, tinha a marca do maior arquiteto brasileiro de todos os tempos, e um dos mais admirados nomes da moderna arquitetura mundial, o saudoso Oscar Neimeyer, cujos traços de sua genial arquitetura já era conhecida de São Luís, na rara beleza da Praça Maria Aragão, construída pelo então prefeito Jackson Lago. Neimeyer imaginou uma alça saindo da Praça Maria Aragão e chegando ao segundo pavimento do Museu que morreu antes de nascer, mesmo depois de o Estado ter pago mais de 2 milhões de reais do projeto arquitetônico e do seu detalhamento. Só mesmo a irresponsabilidade do atual governo e a sua maldade intrínseca pode negar aos cidadãos de São Luís obra de tal envergadura. Que coisa!

Outra iniciativa de valor incalculável que estava sendo prospectada pelo governo Jackson Lago era a destinação que imaginava dar ao Sítio Santa Eulália, área de 195,5 ha. que sofreu grande devastação no Governo Cafeteira, agora atravessada pela Via Expressa do Governo Roseana Sarney, tendo hoje áreas assoreadas e degradadas e palco de numerosos conflitos fundiários.

Cabe registrar, por ser de inteira justiça, que o projeto de maior envergadura concebido para essa área, que é de propriedade dos servidores públicos do Estado, é de autoria do Dr. Gustavo Marques, arquiteto de destaque e brilhante pensador de nossa urbe, que merece ser olhado com atenção e carinho. Tal projeto traz uma combinação inteligente entre os aspectos ambiental e o urbano, dando preferência de área ao interesse ambiental - principal destinação do projeto - e concebendo a interessante ideia do Parque e da cidade da Ciência e da Cultura. Na área reservada à preservação ambiental, prevê ações de preservação, reflorestamento, Museu do Mangue, Jardim Botânico, visitação, ciclovias, jardins, concha acústica, viveiro botânico e outras; na cidade da Ciência e da Cultura estão previstos moradia, espaços de lazer, serviços, comércio, centros de pesquisa e ciência, anfiteatro e outras coisas mais.

O pensamento do ex-governador a respeito do Sítio Santa Eulália era bastante audacioso. Na verdade, tudo deveria começar por um amplo entendimento com os proprietários do Sítio sobre a configuração do projeto que estava sendo gestado, qual sejam os funcionários públicos estaduais, em nenhuma hipótese representados pelo Fundo Estadual de Pensão e Aposentadoria - Fepa, que é dirigido por um Conselho consultivo, deliberativo e de supervisão formado por representantes dos três poderes do Estado, Ministério Público e um representante dos servidores públicos, mas pelas organizações sindicais em que se agrupam. Basta ver o que aconteceu agora em que a Justiça devolve aos seus legítimos proprietários – o funcionalismo público - o Hospital do Ipem, como era chamado, depois de ter sido negociado abrupta e imerecidamente pelo Fepa.

Ultrapassada esta fase – a mais importante, mais sensível e mais complexa por envolver milhares de pessoas, de novo Neimeyer seria convidado a imprimir sua genialidade e ousadia, agora nessa área, projetando o Parque Ecológico da Cidade, de interesse do cidadão ludovicence, de um lado, e, de outro, propondo construções no interior do sítio na faixa mais próxima da Avenida Euclides Figueiredo, de grande valor comercial, cujos lotes seriam licitados ao investidor privado para suas edificações de cunho empresarial, dentro do estilo arquitetônico Neimeyer.

Com os recursos decorrentes da aludida licitação, o Parque Ecológico da Cidade seria assim construído com todos os equipamentos próprios a um empreendimento dessa natureza, nos moldes propostos pelo Dr. Gustavo Marques, ao que se poderia, talvez, acrescentar o Centro de Educação Ambiental e o Memorial Ana Jansen, a Rainha do Maranhão. Destaque para o Museu do Mangue, por ter a maior reserva de mangues do Brasil, também presente às margens do Rio Anil, obra que poderá motivar a nossa população, que anda de costas para o Rio, a começar a exigir dos seus governantes a sua revitalização.

Como todos sabemos, injusta e inescrupulosamente cassado pelos Donos do Poder, o ex-governador não teve tempo de levar adiante a ideia da valorização do Sítio Eulália, abandonado há décadas pelos governos que o antecederam e pelo que veio depois.

Nota do editor da Aldeia: Abdelaziz (Aziz) Aboud Santos é economista e ex-presidente do Conselho Regional de Economia (Maranhão) e ex-vice-prefeito de São Luís. Foi secretário da Gazenda e Planejamento nas gestões de Jackson Lago (1934-2011) na prefeitura de São Luís e governo do Maranhão.
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