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Olhar Pra Frente: Todos somos Dutra

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Olhar Pra Frente

Sobre manifesto de solidariedade ao deputado Domingos Dutra


Roberto Rocha, 16 de agosto de 2009

Em janeiro de 1966, em São Luís, um jovem governador tomou posse clamando aos céus que “o Maranhão não suportava mais o contraste de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, a angústia e a fome”. Longe dali, no quilombo Saco das Almas, um menino de dez anos lutava para superar a miséria, a angústia e a fome que lhe estavam prometidos por destino.

O jovem governador tornou-se o oligarca que construiu um império pessoal e familiar de dominação política. As promessas de juventude ficaram ao vento. O menino quilombola afrontou todas as circunstâncias adversas, estudou com sacrifício e tenacidade, fez-se advogado e defensor dos pobres e por estes foi eleito seu representante.

Na semana passada o oligarca, todo poderoso presidente do Senado, apresentou à Mesa da Câmara dos Deputados uma notificação para processar o deputado Domingos Dutra, sentindo-se ofendido com afirmações feitas pelo deputado em um livreto intitulado O camaleão. Nesse livreto Dutra acusa Sarney de ter tramado a queda do governador Jackson Lago e conclui com a tirada de que “Sarney é um camaleão, que periodicamente se transforma em traíra”.

Conheci o deputado Domingos Dutra quando ambos fomos empossados deputados estaduais, no inicio dos anos 90. Dutra integrava um naipe extraordinário de combatentes, ao lado de Juarez Medeiros, José Costa, Vila Nova e Benedito Coroba. Com todos eles aprendi e compartilhei memoráveis lições. Todos honraram seus mandatos.

Hoje eu e Dutra somos colegas de bancada no Congresso Nacional. Acompanho sua trajetória combativa, enfrentando adversários, incompreendido em seu próprio partido que não aceita sua coerência. Mas todos lembram que quando Lula era quase ninguém, no tempo em que não tinha vergonha de vir ao Maranhão, era Dutra quem o recebia no aeroporto e fazia as honras da casa.

Tomamos conhecimento indignados da tentativa de intimidação feita contra o deputado Dutra e de pronto fizemos um manifesto para ser encaminhado esta semana ao presidente da Câmara, Michel Temer. Nele, juntamente com outros deputados, declaramo-nos “subscritores da referida obra, portanto, co-autores e co-responsáveis pela sua publicação.” E acrescentamos que “o cerceamento à livre manifestação é uma violência às garantias constitucionais de um deputado federal, cuja opinião é protegida pelo manto constitucional. Desse modo, na improvável hipótese de que o descabido pleito prospere, considere atingidas as prerrogativas não apenas de um, mas de todos os deputados que ora assinam a presente carta”.

Já assinaram o manifesto vários colegas deputados, que ainda está aberto a outras assinaturas. Como eu, os deputados Cleber Verde e Julião Amin são presidentes estaduais de partidos. Não importa nossas diferenças, não importa se nossos partidos são adversários no plano nacional, o que vale é que, para o que der e vier, daqui pra frente se Sarney tiver que processar um terá que processar a todos.

Bem o disse o deputado Chico Alencar, da tribuna da Câmara, de que “somos todos Domingos Dutra o tempo inteiro”. É esse o sentimento que nos une e que faremos chegar até o Corregedor da Câmara.

Leia também outros capítulos de Olhar pra Frente:
Palavras Cozidas
A Grande e a Branca
Para que serve o governo?
O gigante rubro
Um convite para discutir o Maranhão
O nome da Rose
O biombo está no Senado

Nota do editor da Aldeia: Direto da Aldeia Global publica duas vezes por semana, capítulos de Olhar pra Frente, uma visão de futuro, livro de Roberto Rocha, 2014, 254pp, Ed. 360º, organizado por Manoel dos Santos Neto com ilustrações de Monroe Júnior e prefaciado por Hilda Bogéa e Lourival Bogéa, com os artigos do autor publicados, originalmente, no Jornal Pequeno. 
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