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Para que serve o governo?

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AgA
Com o deputado federal José Vieira (Pros), Roberto Rocha autografa livro em Timon

Sobre o atraso econômico e social do Maranhão


Roberto Rocha, 14 de março de 2004

Dos inúmeros equívocos governamentais no Maranhão e que resultam danosos prejuízos para a população, faz brotar um importante questionamento sobre quem inventou governo e qual a sua verdadeira serventia. Desde o império da cidade sumeriana de Erech, no limiar da longínqua Mesopotâmia, até os dias atuais, inúmeros foram os modos de dominação que o homem desenvolveu neste longo processo civilizador.

O fato é que, sob as mais variadas formas, a humanidade nunca esteve a salvo das usurpações, dos engodos e da exploração de grupos de pessoas que, no exercício desse ente subjetivo chamado governo, distorcem sua finalidade e tripudiam sobre a sorte de seus semelhantes Das repulsivas formas de dominação que se conhece, seja pela força, pelo medo ou pela propaganda enganosa, é esta última a mais difícil de libertação, pois as pessoas ideologicamente dominadas podem, via de regra, inverter valores e relegar os seus próprios interesses. A atual mídia televisiva, nesse particular, transforma-se em uma arma bastante perigosa.

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É dessa forma de dominação que padece hoje o nosso Maranhão e que, sem nenhuma dúvida, lhe é bastante prejudicial. Para essa conclusão, depõem os índices sócio-econômicos oficiais, que refletem as péssimas condições em que se encontram os maranhenses, e que o sistema Sarney-Mirante, apesar de elaboradas tentativas, não consegue esconder. Aqui, conforme dados da FGV, mais de 68% da população vive com renda inferior a R$ 79,00 por mês, o que coloca dois em cada três maranhenses em condições de humilhante indigência. O analfabetismo funcional, entre nós, é disparado o maior do país.

O trabalho infantil e o trabalho escravo denunciam também o nosso vergonhoso primeiro lugar. A mortalidade infantil aqui é a maior do Nordeste e, por conseqüência, a maior do país. Dos cinqüenta municípios mais pobres do país, vinte e quatro deles ficam no Maranhão e temos seis dos dez piores em qualidade de vida, sendo daqui também o maior destaque negativo de todo o Brasil, o município de Centro do Guilherme, com 95,32 % da população vivendo em condições subumanas. Pelos dados oficiais do IBGE, somos hoje, infelizmente, a população de menor renda, ou seja: a mais pobre do país. Fiquemos por aqui, até para nos poupar em nossa auto-estima. Tudo isso, apesar de sermos o Estado brasileiro com a maior riqueza natural.

Diante desse paradoxo, impõe-se, à reflexão, a distante cultura neolítica dos grandes vales fluviais da antiga Mesopotâmia e Egito. Lá inventaram governo como uma necessidade para a produção e a segurança, ou seja: melhorar a vida das pessoas. Tiraram proveito da extraordinária indústria em que se constitui a fertilidade do solo.

Para isso, tudo muito simples, desenvolveram diques, canais, sementes e celeiros que foram fundamentais para a produção e sobrevivência daquelas primeiras comunidades e que, por ironia, é exatamente o que nos falta aqui, oito mil anos depois: produção. Mesmo sendo a agroindústria a nossa principal vocação, o governo da Sra. Roseana, dentre outros desatinos, extinguiu a Secretaria de Agricultura e todos os seus órgãos vinculados.

Com isso, ficamos de fora do “grande milagre do campo” que, nos últimos anos, promoveu grande produção agrícola e levou progresso a todo o restante do país. Foi um prejuízo incalculável para todos nós maranhenses. Naquele governo não se cuidou de agricultura, de educação, nem de qualquer outra coisa útil. Sobraram desídia, desdém e deslumbramento. O governo da Sra. Roseana Murad representou quase uma década desperdiçada com equívocos e desvios lamentáveis, cujos prejuízos estão em curso e são irreparáveis.

O governo José Reinaldo, com quinze meses de empossado e ainda isento de maiores cobranças, já vai se tornando devedor de um projeto que tire o Maranhão do atraso econômico e social a que está relegado, e que promova uma efetiva melhoria na vida dos maranhenses. É para isso que deve servir um governo que tenha um mínimo de compromisso com a população. Negligenciar com isso, é negar o verdadeiro sentido de governar.

Nota do editor da Aldeia: Direto da Aldeia Global publica duas vezes por semana, capítulos de Olhar para Frente, uma visão de futuro, livro de Roberto Rocha, 2014, 254pp, Ed. 360º, organizado por Manoel dos Santos Neto com ilustrações de Monroe Júnior e prefaciado por Hilda Bogéa e Lourival Bogéa, com os artigos do autor publicados, originalmente, no Jornal Pequeno.
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