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Roberto Rocha: A Grande e a Branca

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Olhar Pra Frente, Roberto Rocha

Sobre o affair entre Alexandra Tavares e Roseana Sarney Murad


Roberto Rocha, 29 de fevereiro de 2004

Embora desconheça a origem do affair, também acompanho a disputa, que dizem latente, entre a Sra. Alexandra Tavares e a Sra. Roseana Murad, e que motiva as referências simpáticas de “a Grande” e “a Branca”, respectivamente. Pode parecer foro reservado, mas, pelas funções que exercem, torna-se pública essa interessante competição. Se é que existe. Ao adentrar nessa questão, volto minhas reflexões comparativas para as figuras históricas que em ambas tentam identificar.

Roberto Rocha
Roberto Rocha (E) é candidato a senador pelo Partido do Maranhão e apoia Eduardo para presidente
Com Alexandre, filho de Filipe e discípulo de Aristóteles, “a Grande”, apesar do inegável carisma, está desobrigada de oferecer qualquer semelhança. Melhor seria compará-la, até pela sua condição de consorte, com a própria Alexandra Fiodorovna, que botou ordem na corte de Nicolau II e impôs a sua personalidade sempre altiva, apesar de lhe debitarem um alto preço pela sua crença no tresloucado Rasputin, e a pecha de ter causado a destruição da Dinastia Romanov. Pura injustiça!

Quanto a “a Branca”, numa clara alusão aos engenhos, não é com certeza a comparação que a Sra. Roseana Murard gostaria como resultado do seu deveras engenhoso marketing pessoal. Tenho a impressão de que ela, do muito que leu, se inspirou em uma outra figura histórica, a Grande Catarina, que no século dezoito utilizou um habilidoso marketing pessoal, com grande repercussão dentro e fora da Rússia.

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Convidava intelectuais para grandes festas na corte e conquistava admiradores notáveis, especialmente, na França dos enciclopedistas. Em carta dirigida a Voltaire, que era o seu maior entusiasta e correspondente habitual, a grande Catarina jactava-se da prosperidade do seu Império e do seu povo. Dizia ela: “Não há (na Rússia) um camponês que não esteja em condições de pôr uma galinha na panela todos os domingos.

Há algum tempo, até, preferem os perus às galinhas.” Com essa tão espetacular evidência da “eficácia” das políticas distributivas da “Semíramis do Norte”, como carinhosamente o filósofo do iluminismo a denominou, também Diderot, hóspede freqüente da sua corte, cuidou de divulgar a “grandeza” da Grande Catarina. Embora existindo ainda quem duvide daquelas paneladas galináceas e, sobretudo, de sua isenção quanto ao assassinato de seu marido Pedro, inaugurava-se ali um eficiente marketing, que embora oneroso, porém sutil e refinado, continua ocupando a maior parte das ações governamentais em nossos dias.

Não é com pouco orgulho que leio sobre os festivais monumentais que a ação governamental aqui realiza e que dão conta as colunas sociais de todo o seu esplendor. Outra intrigante coincidência é a presença de ilustres convidados: políticos, intelectuais, jornalistas e artistas de um modo geral, que aqui desembarcam e testemunham a grandeza das festas e a felicidade do povo maranhense. Claro que estou falando do povo que participa desse ambiente festivo.

Por dormirem cedo, tanto os mujiques de lá, como as quebradeiras de coco daqui, vão continuar credores das lisonjas e dos mimos recebidos pelos convidados da corte, tanto de São Petersburgo quanto de São Luis. Cantarina e Roseana excederam no cosmético de suas marcas enquanto muitos de seus governados não davam conta das calorias básicas que o corpo exige. Claro, o marketing consome muito, e pouco sobrou para o verdadeiro sentido da tarefa de governar: melhorar a vida das pessoas. Aqui no Maranhão, mais de 68% de seus habitantes vivem com menos de R$ 79,00 mensais e pouco reclamam. Lá, o Rasputin já não mais protegia a sorte de Alex, que resultou interrompida por bolcheviques mal humorados.

Nota do editor da Aldeia: Direto da Aldeia Global publica duas vezes por semana, capítulos de Olhar pra Frente, uma visão de futuro, livro de Roberto Rocha, 2014, 254pp, Ed. 360º, organizado por Manoel dos Santos Neto com ilustrações de Monroe Júnior e prefaciado por Hilda Bogéa e Lourival Bogéa, com os artigos do autor publicados, originalmente, no Jornal Pequeno.
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