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Flávio Dino: duplicar e triplicar

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Deu no Jornal Brasilturis

O advogado e professor de Direito foi Juiz federal por 12 anos, secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça e assessor da presidência do Supremo Tribunal Federal. Após deixar a magistratura, na política foi eleito como o quarto deputado federal mais votado do Maranhão. Ganhou destaque na Câmara como um dos principais nomes da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), e considerado um dos parlamentares mais influentes do Brasil, com eleição por quatro anos seguidos como um dos melhores do País pelo site Congresso em Foco.

Flávio Dino
O novo presidente da Embratur, Flávio Dino tem Mestrado em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco.Já foi candidato à prefeitura de São Luís e também como governador para o Maranhão, e em seu estado natal segue na vida acadêmica como professor de Direito na Universidade Federal, depois de lecionar na Universidade de Brasília no período de 2002 a 2006.

Ele tem 43 anos, é pai de dois filhos – 16 e 13 anos – tem descendência portuguesa (Braga) e focaliza, nesta sua primeira entrevista, os principais aspectos da sua missão à frente da Embratur.

Brasil Turismo - Entre a designação pela presidente Dilma Rousseff, a posse no dia 29 de junho, e neste curto período de exercício do cargo, qual a sua avaliação sobre a Embratur?
Flávio Dino - Uma autarquia que cumpre um papel de grande importância e que vai completar 45 anos agora em novembro, uma trajetória diferenciada, várias fases vividas ao longo deste período, hoje atuante em parceria com o Ministério do Turismo e setor privado cumprindo este grande papel de projetar nossa imagem no mercado internacional e de ampliar a nossa presença no que se refere ao ingresso de turistas estrangeiros e de divisas para o nosso País. Uma equipe técnica de grande qualidade, uma missão política de altíssima importância, sobretudo considerando que temos sucessos a comemorar e nós temos uma avenida de oportunidades pela frente para que este sucesso se amplie. Isto me motiva muito pessoalmente. Saber que esta missão ela primeiro se situa em um contexto positivo e ao mesmo tempo, tem uma perspectiva tão favorável com a realização deste ciclo de grandes eventos que teremos, com destaque para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Já se considera empolgado com o turismo do Brasil?
Se eu não fosse empolgado e entusiasmado não teria aceitado o convite da Presidência da República. Não encaro nenhuma missão pública como tarefa burocrática. Pelo contrário, encaro com muito civismo, muito patriotismo. E assim será na Embratur. Com muita humildade, acima de tudo. É preciso que quem lidere o processo saiba que liderar não significa ser o dono do processo. Não tenho esta pretensão, muito pelo contrário. Tenho muita disponibilidade para o diálogo, para aprendizado, para saber compreender as outras experiências, o setor de uma grande diversidade, para poder transformar estas justas reivindicações naquilo que o nosso orçamento permite fazer.

Para quem está com projeções bem definidas, quando é que a gente deixa de suspirar e sai desta interrogação dos 5, 6 milhões de turistas ano? O Brasil é tão grande, tem tanto potencial. O que pensa deste assunto?
Passa pela minha cabeça a certeza de que sairemos agora deste que é um bom patamar. Especialmente porque se deu em um ambiente difícil. A perda dos assentos da Varig, agora completamente recuperados: tivemos a grande crise econômica internacional que dificultou a trajetória de crescimento observada a partir de 2004-2005. Com tudo isso, nos fechamos esta primeira década do século 20, com um crescimento na ordem de 25% no número de turistas e de divisas da ordem de 139%, de 2003 a 2010. Fechamos o ano passado com 5,1 milhões de turistas e com US$ 6 bilhões. Se nós, em 2011, compararmos o crescimento de janeiro-maio dos desembarques internacionais, da ordem de 20% e o do ingresso de divisas comparativo ao ano anterior, da ordem de 15, temos a convicção de que neste ano teremos números ainda melhores. Ou seja, seguramente chegaremos ao final do ano de 2011 com os melhores números do nosso histórico. Este é o nosso ponto de partida para os desafios que se avizinham e estes desafios irão propiciar exatamente este salto. É nossa plataforma de lançamento. Os eventos esportivos não são entes metafísicos que caíram das nuvens na nossa história. Pelo contrário, são fruto, produto, resultado e espelhos de uma nação que se afirma no conceito internacional e que, pela primeira vez na sua história, consegue conjugar de modo tão evidente, democracia política, crescimento econômico e distribuição de renda.

Isto expõe um conceito de evolução constante...
Na hora em que imaginamos que a nossa pirâmide social deixou de ser um triângulo e passou a ser um losango, 100 milhões de pessoas na classe média, 40 milhões de novos consumidores, teremos duas grandes oportunidades de altíssima exposição, um ciclo de investimentos planejados capaz de superar nossas deficiências de infraestrutura. Temos os temperos condizentes para atender a todas as exigências. A receita? Trabalho, muito trabalho. Temos investimentos a serem aplicados, R$ 33 bilhões, 80% do setor publico, 20% da iniciativa privada. Vamos investir R$ 12 bilhões em mobilidade urbana. Outros R$ 5,6 bilhões em aeroportos, R$ 5,5 bilhões em estádios, R$ 1,6 bilhão em segurança pública, que já começou. Temos disponibilizadas linhas de crédito para a rede hoteleira de R$ 1,8 bilhão. Temos um povo valente, trabalhador, criativo e imaginativo. Temos expertise na realização de eventos, consolidamos nossa presença entre os dez maiores realizadores de eventos do planeta dentro do ranking da ICCA (International Congress and Convention Association). Com a Copa e a Olimpíada teremos o toque de genialidade para cozinhar o bom prato. Os cozinheiros somos nós, a nação brasileira.

Um dos ingredientes é exatamente a promoção, setor de responsabilidade da Embratur. Como seremos?
A Embratur propaga as virtudes deste prato que estamos preparando. Segundo as diretrizes já estabelecidas e planificadas, com as estratégias já fixadas e muito bem desenhadas, as ações no mercado internacional assim vão continuar. Há uma perspectiva de continuidade da minha parte. Tanto no sentido estratégico como os instrumentos e quanto à equipe, e a partir daí vamos reposicionar a Embratur no que se refere à ênfase. Fazer mais do mesmo e além disso, agregar alguns elementos que, conjunturalmente, se tornam mais importantes. Por exemplo: a América do Sul. Porque, como bem citou o secretário Domingos Leonelli, em nome do Fornatur, na abertura do Salão, nos temos um crescimento da presença entre os países emissores, dos nossos vizinhos mais próximos. Lógico que não vamos excluir os outros mercados apontados como prioritários no Plano Aquarela, mas se nós olharmos o retrospectivo do ano passado, em primeiro temos a Argentina, depois vem os Estados Unidos e a Itália, a seguir o Uruguai, depois a Alemanha, aí vem o Chile, em sequência a França, aí o Paraguai, Portugal e Espanha, a Inglaterra, mas aí vem Bolívia, Colômbia e Peru. E, finalmente, a Holanda. Identificamos que temos uma classificação crescente da América do Sul em nosso mercado e devemos intensificar a promoção nestes países visando uma construção de conceito: a Copa não é do Brasil, a Copa é da América do Sul. Para uma geração inteira será, seguramente, a única oportunidade de vivenciar a realização de uma Copa do Mundo. Após 36 anos (1978, na Argentina), o maior torneio mundial está de volta ao continente. E pela política da Fifa, depois daqui serão Rússia e Qatar, provavelmente Europa e América do Norte. Neste rodízio de continente, para a América do Sul temos que aprofundar e aproveitar este conceito, que a Copa é da América do Sul.

Um assunto recorrente e que trava é o problema dos vistos. Certos grandes mercados ainda não são devidamente alcançados por tal. Como deve ser?
Quando eu era deputado federal, houve este debate sobre o projeto do Cadoca (deputado por Pernambuco) e eu participei do movimento a favor da aprovação e foi na Comissão de Constituição e Justiça. Portanto, tenho pleno saber a partir desta vivência com o assunto. E um comprometimento. Precisamos respeitar atos normativos de outras esferas de governo, inclusive tratados internacionais. Quem conduz este aspecto pelo princípio da reciprocidade é o Itamaraty, não cabe à Embratur, obviamente, ir de encontro à política oficial. Precisamos fazer a jogada certa segundo as regras do jogo. Temos que procurar o melhor resultado, esta é uma linha de ação prioritária.

Turisticamente, o que o presidente da Embratur já conhece do Brasil?
Se eu disser que é o País inteiro, provavelmente algum secretário de Turismo vai dizer: “falta o meu estado...”. Mas, praticamente conheço sim, o Brasil todo, por uma série de atividades profissionais, conheço bem, bastante mesmo, as 12 cidades-sedes para a Copa, e tenho conhecimento daquilo que é o mais importante: da alma do povo brasileiro. A experiência política torna isto interativo. Invocando um pregador lusitano, o padre Antonio Vieira, “o homem tem duas orelhas e uma boca para ouvir mais do que falar...”, é bíblico. O bom político ouve muito, e por isso me tornei um especialista em Brasil, por dever de ofício, como político. Sinto-me à vontade para usar este patrimônio de conhecimentos sobre o Brasil, sobre o que temos de melhor dentro de nós e transformarmos em política pública. Tratar do turismo é tratar de gente, da vida, do fluxo de pessoas, de valores, é tratar do direito fundamental que é o direito de lazer. Garantir as condições materiais para que possamos ter acesso ao “direito à felicidade”, como diz o preâmbulo da constituição americana.

Que venham os turistas então?
Temos que estar preparados e materializados em bem recebê-los. Desde agora, com os Jogos Mundiais Militares, a outros eventos de um importante entorno, como a Convenção Global da Associação LBGT, (Florianópolis, 2012), a Copa das Confederações (2012), o Mundial de Futebol Fifa 2014, a Copa América (2015), e no ano seguinte, com o ápice da festa olímpica. O Brasil vai saber aproveitar o impulso midiático, turístico e econômico, somente com a Copa serão movimentados US$ 111 bilhões. Ser um multidestino e de cooperação continental está em nossos objetivos diretos.
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