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Marcos Fábio: Dos Medos Urbanos

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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
Frase deste filme inspira artigo de Marcos Fábio
Marcos Fábio

“São tempos difíceis para sonhadores”. Essa é uma das frases célebres do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, um verdadeiro poema visual, de Jean-Pierre Jeunet, de 2002, com a bela atriz Audrey Tautou, no papel-título. O filme mais visto em Paris, em todos os tempos. Para quem não viu, é a história de uma moça que, por entre as vicissitudes das vidas alheias, vai construindo um sentido para as vidas – as delas e a sua, enfim. Vai fazendo com que as pessoas assumam e transponham os seus medos, nada mais que isso. E, com essa descoberta, tratando de ser mais felizes, ao seu modo.

Medo. Nós, seres urbanos, somos atormentados pelo medo, o medo que a cidade põe pra fora todos os dias. Medo de ser assaltado, de ser atropelado cruzando a faixa de pedestre, de ser seguido por um desconhecido, de ficar desempregado, de assumir um novo emprego, de não passar no concurso público, de não conseguir a vaga na faculdade, de ficar sozinho, de envelhecer sozinho, de ser abandonado, de o salário não dar até o fim do mês, de aquele dinheirinho da poupança sumir de repente, de bater o carro, de ser batido por um, de não poder mais segurar a prestação do financiamento da casa, de o plano de saúde não garantir a cirurgia agendada, de comer comida estragada na rua, de sofrer algum tipo de atentado, uma bala perdida, uma abordagem da polícia, de não voltar para casa ao fim de cada dia...

Há cinco dias, alguns acontecimentos violentos foram verificados pelas ruas de São Luís, motivados por uma briga de facções dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Fotos de homens mortos e amontoados pelas redes sociais. Ônibus queimados, alguns tiros, pessoas correndo, carros acelerando, helicópteros sobrevoando a cidade. Foi o suficiente para parar tudo, para as pessoas entrarem em pânico, para o transporte coletivo ser recolhido às seis da tarde. O medo nos causa uma catarse. E não adianta dizer que já passou. Todo mundo acha que o cano do revólver está, naquela hora, apontado para a sua cabeça e o único lugar seguro é a casa-casulo. Cidade em pânico. Cidade parada. Medo urbano.

Em 2001, o mundo foi assolado pelo ataque às torres gêmeas. O medo, como um cogumelo de bomba atômica, qual a onda formada pela pedra na água, foi se espalhando para o resto dos países. De repente, estávamos todos com medo. Medo globalizado.

Isso tem solução? Talvez. Terapia, remédios para ansiedade, para depressão, para dormir, ginástica, religião, políticas públicas efetivas, justa redistribuição de renda, respeito, qualidade de vida, Rousseau, Freud, Lacan, Sócrates. Talvez uma Amélie Poulain para nos fazer entender a face mais simples e gostosa da vida. E aí nos ajudar a nos livrar dos nossos medos citadinos.
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