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Uma Ilha que é o laboratório de como resolver a crise financeira que assola e aterroriza o planeta

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Três anos depois de um colapso financeiro devastador, a Islândia é tida como exemplo por manifestantes europeus, economistas reputados e organismos internacionais. Na iminência da derrocada do projeto europeu, o país tem mesmo algo a ensinar?

por João Moreira Salles

O rapaz empunhou o megafone: “Esta é uma mensagem dirigida a todos os meios de comunicação!” Atrás dele, Jaime I, conquistador de berberes, dominava do alto de seu cavalo a Plaza de España, em Palma de Maiorca. O céu estava azul. “Há uma mudança em curso. Em nome dela, estamos nos reunindo em várias partes do mundo.” Eram todos indignados naquela tarde de maio do ano passado e, como outras multidões de jovens em mais de cinquenta cidades espanholas, estavam ali para protestar contra a crise econômica.

Islândia enfrentou e superou crise financeira
Ao fundo, um manifestante começou a escalar a estátua equestre. “Temos o exemplo de um povo que iniciou este movimento soberano já faz tempo. O povo islandês soube agir em favor da justiça social. Eles se negaram a pagar a dívida pública contraída por terceiros e conseguiram punir os responsáveis pelos abusos. Tudo isso graças à união do povo que tomou as ruas. Nosso objetivo é seguir o exemplo deles e, por isso, damos a esta praça o nome de Plaza de Islandia!” O escalador fincou na mão erguida do conquistador a bandeira desfraldada da Islândia, que tremulou sobre a praça. Nas semanas seguintes, os indignados chegariam a quase 8 milhões e gritariam nas ruas: “Todos somos Islândia!”

Três anos antes, em outubro de 2008, o sistema bancário islandês entrara em colapso, levando de roldão a economia do país. Em novembro, 6 mil pessoas lotaram a praça do Parlamento, em Reykjavík, para exigir a renúncia do governo. Eram quatro horas da tarde, uma quase noite de céu carregado. Desprendendo-se da massa, uma pequena multidão marchou em direção à delegacia de polícia, disposta a libertar um jovem ativista preso na véspera. Seguiu-se um acontecimento inédito na Islândia, desde sempre um país mais afeito aos consensos do que aos conflitos.

Jovens começaram a esmurrar a porta do prédio. Espantosamente, a primeira reação da polícia foi apagar as luzes para fingir que não estava. Alguém perguntou:“Onde estão as pedras?” – e lamentou que a ausência delas fosse “típico da gentileza islandesa”. Enquanto a porta cedia aos chutes, de uma das laterais do edifício, cozida à parede, surgia a tropa de choque. De braços entrelaçados, barrando a entrada, os policiais foram xingados de fascistas. “Se conseguirmos invadir e libertar o nosso companheiro, isso significará que o governo acabou!”, urrou um rapaz, incendiando a massa. A fileira de policiais se abriu; do escuro, surgiu o preso, o rosto coberto por um gorro, e se atirou nos braços da multidão. Um manifestante ergueu o punho: “Agora somos franceses!”

Nota do Blogueiro: Veja o extenso artigo publicado, originalmente, na revista Piauí com o título "Islândia, a ilha-laboratório'.
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