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Nem abastecia as cadeias de Bangu com drogas

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Nem da Rocinha seguiu para presídio federal em Campo Grande-MS
por João Antonio Barros
e Pâmela Oliveira

Muito antes de pisar no complexo de presídios de Bangu, o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, já havia fincado seu braço comercial no conjunto de cadeias do Rio. Duas cartas apreendidas segunda-feira na Rocinha, por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mostram que sua quadrilha enviava drogas com regularidade para presos revenderem na Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho (Bangu 4).

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Um comércio tão intenso, de acordo com o relato contido nas correspondências, que credencia a cadeia como entreposto da facção Amigos dos Amigos (ADA), comandada por Nem — que ontem foi transferido para o Presídio Federal de Segurança Máxima, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

As cartas foram encontradas pelos policiais na casa de Johny Wallace da Silva Viana, o Xexéo, administrador dos negócios de Nem e uma espécie de responsável pelo setor de ‘inativos’ (mortos e presos) da quadrilha. Quem escreve as correspondências são homens do bando da Rocinha que foram presos no ano passado durante o ataque ao Hotel Intercontinental, em São Conrado.

Numa das cartas, Técio Matias da Silva pede ajuda depois de retornar do Presídio Federal de Rondônia, em junho. De volta ao Rio, negocia o envio de drogas no lugar de dinheiro. E avisa: “Com 100 gramas de pó ou de maconha dá para arrumar um dinheiro maneiro aqui”. E emenda: “Vai parar a cadeia, vai vender muito quando vier esta ‘paradinha’”.

O modo como a quadrilha de Nem faz para a droga atravessar os muros do presídio é esmiuçado na carta de outro preso, que se identifica como A.R. e está na cela A-3 de bangu 4. Mulheres, namoradas e parentes dos detentos são usadas no transporte até a porta da unidade. Dali em diante, é preciso pagar para “quem vai colocar para dentro”.

Na correspondência, o jovem informa a Johny Viana que já tem o contato das pessoas e que a fonte já foi usada com sucesso por outro detento da quadrilha. Ele também analisa a possibilidade de usar “a mina que traz para o Zulu” (outro preso). E prossegue: “Agora eles estão colocando as coisas tranquilão”.

Negociador de armas de Rondônia
seria procurado de dentro de Bangu
Os homens da quadrilha de Nem mostram nas cartas que os negócios atrás das grades são bem rentáveis e a cadeia pode ser, ainda, o canal para novas oportunidades. Técio Matias diz a Johny Viana que, na passagem pelo presídio federal, fez um contato de “maconha e fuzil”. Na verdade, ele fala num negociador de armas e drogas que conheceu em Rondônia e promete fazer contato, de Bangu, para ativar o esquema.

Já A.R. informa a Johny como ficará a divisão da sua pensão: “Uma semana dá para a minha mãe e minhas filhas. A outra, para a minha mina (namorada)”. As cartas, além de mostrar que o presídio virou uma estica da Rocinha, têm uma curiosidade. Ao lado da assinatura, há as iniciais B.T.V. — abreviatura em alusão a Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, traficante que chefiou a Rocinha e morreu em 2005.

Trechos
Droga na cadeia
"Estava com uma pessoa para entrar, só que o Titica estava com a droga na mão. Ele praticamente me tomou. É um contato do Meno, ele é da Roça (Rocinha) também. Agora eles estão colocando as coisas tranquilão".

Dinheiro ou drogas
“Ele falou que você ia mandar R$ 100 e eu agradeço... Só que pedi para a minha mina ir até você e até o Negão para falar se tinha como me fortalecer um produto. E o Técio falou que você iria mandar o produto no lugar do dinheiro”.

Maconha ou pó
“Vendo essa parada o mais rápido. Arrumo um dinheiro aqui dentro com 100 gramas de pó ou de maconha, dá para arrumar um dinheiro maneiro aqui...Vamos comprar toda vez que prestar contas aqui dentro”.

Nem e mais três bandidos

são transferidos para MS
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi transferido na manhã de ontem para o Presídio Federal de Segurança Máxima, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS). Ele foi transportado em um avião da PF com outros três bandidos: o ex-PM Flávio Mello dos Santos; Valquir Garcia dos Santos, o Carré; e Anderson Rosa Mendonça, o Coelho.

Um comboio com 11 viaturas e 40 inspetores do Grupamento de Serviço e Escolta acompanhou o grupo de Bangu I até o Aeroporto Santos Dumont. Em Campo Grande, os quatro ficarão 20 dias em isolamento, inclusive sem banho de sol.

Ontem, através de denúncia anônima, a Delegacia Antipirataria apreendeu na Rocinha três granadas, 400 munições, um carregador de pistola, coldres, facões, capas do Exército e coletes balísticos numa casa apontada como local de endolação e refino de drogas. Mais cedo, dois homens foram presos acusados de tráfico.

Detidas 160 levando droga para presídios
Somente este ano, 12 mulheres foram presas por agentes da Secretaria de Administração Penitenciária ao tentar entrar com drogas na Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho (Bangu 4), onde estão 886 detentos.

Em todo o complexo de presídios de Bangu, o número de prisões é surpreendente: 160 mulheres em 2011. Também foram surpreendidos inspetores e prestadores de serviço que tentavam levar drogas às cadeias.

A secretaria revela que as unidades são monitoradas por câmeras, possuem portais detectores de metais e são revistadas periodicamente. Não só para impedir a entrada de drogas, mas também a passagem de armas e celulares.

Aliás, telefone é algo que Técio lembra na carta que é possível comprar no presídio. “Vamos fazer um ‘intera’ para comprar um. Quando tiver, vou ligar para você direto”, assegura.



Fonte: O Dia Online
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