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Roraima: a diplomacia do porrete e o ódio que nos plantaram

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Impressionantes as cenas da multidão de brasileiros expulsando centenas de venezuelanos em Pacaraima, Roraima.

É das coisas mais deprimentes que já assisti e o fruto amargo da política absurda que a direita brasileira, há anos, conduz em relação àquele país.

Trabalhamos ao máximo para aprofundar aquela crise. Mais “bonito” era quem mais apostasse no caos na casa vizinha. Aplaudimos toda a convulsão e radicalismo que por lá se plantou.

Sempre, desde que uma comissão de senadores – inclusive o próprio Aécio Neves, a pérola da honradez – foi meter seu nariz nas questões internas de nosso vizinho.

Os refugiados, aliás, eram prova de que lá havia uma “ditadura” e que as levas de migrantes era em busca de “liberdade”.

Não era, era uma fuga das condições desesperadoras de um país sitiado e, ainda por cima, arruinado pela queda a menos de um terço do seu principal e quase único produto de exportação, o petróleo.

E eles vieram aos centos, aos milhares, por onde podiam: a fronteira de Roraima.

Indiferente aos pobres, o Governo brasileiro não cuidou nem dos de lá, nem dos que chegavam.

O governo local quis a solução de “proibir”, o governo federal, a de “liberar”. Apenas isso.

Amparar, assistir, nem pensar.

E como vivemos num caldeirão de ódio, ele ferveu com um incidente de assalto e agressão atribuído a imigrantes, que virou quase um linchamento de centenas de pessoas, que tiveram seus barracos destruídos e seus pertences queimados.

Nada mais triste de que ouvir o Hino Nacional servindo de trilha musical da expulsão de centenas de homens, mulheres e crianças, que só não foram fisicamente agredidas porque o Exército Brasileiro os protegeu.




Nos sites, os ensandecidos vociferam em apoio. O que é fácil e posa de nacionalista barato – embora o nacionalismo deles não resista a achar Miami o paraíso e a endeusar os brasileiros que, tal e qual os venezuelanos, vão para lá à procura de viver melhor – embora não tenham objeções quando o saque a nosso país não é numa venda, mas em jazidas de minério e de petróleo que montam a bilhões.

Não temos governo, esse é o fato incontestável, porque não somos capazes de estruturar minimamente a entrada de alguns poucos milhares de pessoas, nem de dar segurança às cidades que os recebem, sabendo que, no meio deles, vem todo tipo de gente perigosa que existe por lá como existe aqui.

Quando se destroem governos, o que aconteceu na Venezuela e, escala diferente, aconteceu aqui, voltamos à barbárie.

Onde o ódio termina com todas as razões.

Fernando Brito, Tijolaço
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