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Bolsonaro: Os próximos anos serão de pura vertigem

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Bolsonaro é manchete de primeira página na Folha de S Paulo de hoje (domingo, 12/11) – “Mercado já vê Bolsonaro como opção contra Lula” -, uma notícia de estímulo à possibilidade de quê, na falência das alternativas tradicionais, ele pode vir a ser aceito como o candidato antilula do tal de mercado.

Trata-se de matéria de encomenda. Revela até mais as intenções e os interesses de quem publica que o objeto da reportagem. Parece haver muita gente querendo cumprir o papel patético de general von Hindenburg nos trópicos. À diferença, é claro, que Bolsonaro não é Hitler – não tem partido nem projeto histórico, por enquanto.

O antigo político, em passado recente apenas um personagem folclórico guardado em formol, há décadas rodando as estradas das eleições proporcionais, decerto, não deve ser subestimado na capacidade, já demostrada, de ativar e destampar tudo de ruim e perverso. De alguma maneira, o grosso da energia de massas dos movimentos pró-Impeachment caíram por gravidade em seu colo, quando tucanos e consortes da política tradicional – pensando, coitados, que estavam abafando – destamparam o fundo civil autoritário que sempre esteve presente, mesmo adormecido, nas estruturas sociais brasileiras.

Por sua vez, no campo da esquerda, começaram a aparecer análises que, de certo modo, compram o peixe da matéria da Folha e compreendem a nova relação de Bolsonaro com o “mercado” como uma espécie de “banho de loja”. Embora essa versão esteja longe de ser condescendente com Bolsonaro, não deixa de trair alguma ilusão, pouco refletida, do “mercado” como ente de algum resíduo de civilização.

Banho de Loja em Bolsonaro

Meia verdade, por isso tese do “banho de loja” é enganosa, de superfície, até por existir farta experiência histórica. O tal de mercado – já os “conservadores de salão” são meia dúzia de escassa presença política real – não tem o mínimo interesse em “civilizar” Bolsonaro num “cursinho Socila”. Querem-no, para ganhar ou perder, ele como é é pelo que ele agrega em termos de forças zoológicas e disruptivas. Na hipótese da vitória, querem um neofascista no comando do Estado; na hipótese da derrota, querem tropas de assalto na sociedade civil.

Fala-se muito em crise do lulismo, do PT, do PSDB, da esquerda, do capitalismo, do neoliberalismo, etc. Mas, de fato, podemos nos encontrar no limiar. Apenas no limiar, de uma crise do tipo de domínio burguês brasileiro, uma crise do Ornitorrinco, parafraseando Chico de Oliveira. A alternativa de choque de Bolsonaro persiste plano B, mas a postos para, a qualquer hora, virar plano A.

Algo muito sério acontece no Brasil. Os próximos anos serão de pura vertigem.

Jaldes Meneses
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