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Antonio Ladeia explica divergências na economia

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Crescimento e desenvolvimento econômico: um debate conceitual e multidimensional

A discussão sobre desenvolvimento encerra divergências na economia há muito tempo. Tem-se falado em crescimento, em desenvolvimento e, no período mais recente, em desenvolvimento sustentável. O crescimento econômico está associado apenas ao aumento da quantidade do produto, tendo como determinante a acumulação da riqueza e o aumento do poder.

Com o Renascimento, mas principalmente com o advento das grandes navegações iniciadas em fins do século XV, as descobertas marítimas causaram grande revolução nas relações econômicas devido ao importante papel que as riquezas das colônias passaram a desempenhar nas economias dos países europeus.

A busca pelo crescimento econômico tem direcionado os rumos da economia mundial por mais de 400 anos. A história mostra que o crescimento econômico se traduz no desejo de acumular riqueza e está associada ao poder político requerido – a exemplo dos pensamentos mercantilista (1450-1750) e fisiocrata (meados de 1700).

Para os mercantilistas, “a riqueza das nações depende de afluxo externo de metais preciosos”, o que levava à expansão do comércio internacional e, consequentemente, a um maior crescimento econômico. Para os representantes da fisiocracia, a exemplo médico e economista francês François Quesnay (1759), a agricultura é a chave para o crescimento da economia.

O tema crescimento econômico foi também abordado pelo economista clássico Adam Smith em sua obra A Riqueza das Nações (1776), considerada como marco de fundação da Ciência Econômica. Smith defende a expansão dos mercados como fator de crescimento econômico através do aumento do emprego e da renda.

Já o tema desenvolvimento econômico surgiu somente no século XX, tendo sido discutido sob diversos pontos de vista, com destaque para o pensamento do economista indiano Amartya Sem, de que o desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania, incluindo não apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, mas também segurança, liberdade, habitação e cultura.

Nesse contexto, uma região desenvolvida é aquela em que os indivíduos podem desfrutar das liberdades individuais, para atender a seus desejos, associadas ao comprometimento social institucional. Uma atuação mais direta dos indivíduos contribui para a formação de um capital social resultante do clima de confiança estabelecido entre os membros de uma comunidade, já que os contatos sociais entre os membros de uma determinada sociedade facilitam, além das questões econômicas, a disponibilidade dos sujeitos para atender às necessidades da coletividade.

Na modernidade, o termo desenvolvimento sugere um conceito multidimensional, devendo ser tratado sob diversas dimensões: a) a econômica – sociedade do crescimento; b) a política – invenção da modernidade; c) a social – sociedade do bem-estar; e, d) a ambiental – sociedade sustentável.

Sob a dimensão econômica, a preocupação com o desenvolvimento está sedimentada na ciência econômica, o que pode ser percebido nos trabalhos dos economistas clássicos Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo e Karl Max, ao apresentarem o desenvolvimento como um fenômeno imprescindível para a formação e fortalecimento do capitalismo.

Com relação à dimensão política, o termo fora empregado pela primeira vez como elemento de um programa de governo, por Harry S. Truman – presidente dos Estados Unidos da América no período de abri/1945 a janeiro/1953 –, em seu discurso de posse (1949), ao demonstrar preocupação com as regiões subdesenvolvidas, propondo um programa de desenvolvimento baseado nos conceitos de uma distribuição de renda justa e democrática, significando a intenção de os países ricos auxiliarem os países mais pobres. Inicia-se o fim da dicotomia entre colonizados e colonizadores e a visão se volta para um mundo composto de um conjunto de nações – embora umas desenvolvidas e outras subdesenvolvidas.

No que tange à dimensão social, há que se preocupar com melhorias das condições de vida da população, o que amplia o conceito de desenvolvimento. Este fato contribuiu para que governos de todo o mundo, assim como alguns órgãos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) buscassem métodos para medir o desenvolvimento social. Exemplo disso é que, desde 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Penud) acompanha, por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – desenvolvido pelos economistas Amartya Sen e Marbubul Haq (1990) –, o desempenho dos países quanto ao estabelecimento e execução de políticas públicas que visem ao desenvolvimento das pessoas.

Não menos importante que as já mencionadas, há ainda a dimensão ambiental do desenvolvimento – a sociedade sustentável. Santos et al. (2012) enfatizam que, não obstante a atual preocupação de alguns segmentos sociais acerca da questão ambiental no processo de desenvolvimento, essa questão foi primeiramente tratada pelo economista britânico Thomas Malthus, em 1798, em sua obra Ensaio Sobre o Princípio da População, na qual demonstrou grande preocupação com a desigualdade entre o crescimento da população e dos meios de subsistência – a produção de alimentos.

O debate de Malthus é retomado na segunda metade do século XX, pelo Clube de Roma, cujos autores incluem a discussão de novos elementos: aceleração da industrialização, aumento dos indicadores de desnutrição, rápido crescimento populacional, degradação dos recursos naturais não renováveis e do meio ambiente como um todo, abrindo-se um debate acerca da sustentabilidade do modelo de desenvolvimento assentado no crescimento econômico, culminando, como proposta, com o conceito de desenvolvimento sustentável, que busca conciliar o pensamento desenvolvimentista, de que o crescimento e a acumulação são os princípios básicos do sistema, como o ecodesenvolvimento, que tem como foco a prudência ecológica e o conservacionismo.

A partir daí já não se pode mais falar em desenvolvimento sem que seja considerada, atrelada a ele, a questão ambiental, tratando-se, portanto, de desenvolvimento sustentável.

No que respeita ao desenvolvimento econômico regional, as teorias de desenvolvimento apontavam os investimentos e a tecnologia como fatores de crescimento e de desenvolvimento. As políticas de desenvolvimento buscam atrair investimentos acompanhados de tecnologia moderna visando a aumentar a produtividade do trabalho e, concomitantemente, a competitividade regional, negligenciando fatores internos, culturais e sociais, capazes de contribuírem não só para a riqueza empresarial, mas, também, para a riqueza humana. É preciso, portanto, mudanças no sentido de que esses fatores sejam considerados e enfatizados ao se tratar do desenvolvimento regional.

Finalizando, não se pretendeu aqui, em momento algum, negligenciar a importância do crescimento econômico como acumulação da riqueza e aumento de poder, até porque este é condição necessária, embora não suficiente, ao desenvolvimento.

Antonio Ladeia

Nota do editor da Aldeia: O autor, Antonio Eustaquio Neves Ladeia, é economista. mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté-SP e professor da DeVry Brasil | Facimp em Imperatriz-MA. E-mail: Antonio.Ladeia@facimp.edu.br.
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