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Índios ocupam Funai em Campo Grande

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A nomeração do coronel da reserva, Renato Vidal Sant'anna, para o cargo de coordenador regional da CR (Coordenação Regional) da Funai (Fundação nacional do índio) em Campo Grande-MS não foi aceita por lideranças indígenas contempladas pela CR. Eles afirmam que foram ‘pegos de surpresa’ e que a nomeação representa ‘retrocesso aos avanços conquistados’.

Lindomar Terena, da TI (Terra Indígena) Cachoeirinha, em Miranda, distante cerca de 190 km de Campo Grande, afirma que a nomeação, além de configurar uma surpresa, não passou por consulta junto às comunidades, e explica que o cenário fere a convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Líderes indígenas na sede da Funai em Campo Grande-MS. Foto:  MidiaMAx
“Ela aconteceu de surpresa. Eu acho que isso pra população indígena é um retrocesso, visto que a covenção 169, da qual o país é signatário, afirma que tudo que vai interferir nos povos indígenas, eles devem ser consultados, o que nós estamos organizando é que ele não vai assumir”, explicou. Lindomar e outras lideranças pretendem ‘fechar’ a Funai de Campo Grande amanhã, em protesto à mudança na coordenação

Lindomar explicou que lideranças têm reunião marcada no Ministério do Planejamento em Brasília, para discutir o assunto. “O que dá a entender é que eles querem militarizar novamente a Funai, desde lá de cima já havia o interesse de nomear um general, isso pra nós é um retrocesso muito grande. Desde 1980 a Funai vem sendo ocupado por indígenas, então sem dúvida é um retrocesso. Amanhã tem uma reunião às 16h no Ministério do Planejamento para informar que não vamos aceitar essa mudança”.

Cacique Terena em Sidrolândia, distante cerca de 65 km de Campo Grande, Jânio afirma que ‘é uma coisa que deixa a gente chocado’. “Não fizeram uma consulta, que seria o caminho, eu acho que a Funai hoje não é só um cabide de emprego. Hoje está sendo mobilizado, várias lideranças de base diferentes pra fechar a Funai em Campo Grande”, declarou.

Para o membro do Conselho Terena e coordenador regional da Apib (Articulação dos povos indígenas do Brasil), professor Alberto, da aldeia Buriti, em Dois Irmãos do Buriti, distante cerca de 85 km de Campo Grande, a nomeação “representa um retrocesso na tentativa de diálogo com o governo”. "Nós estamos perplexos, estamos tentando o diálogo com o governo, mas até agora não estamos compreendendo. Foi nomeado sem uma consulta prévia conforme diz a OIT. Então, pra nós, pegou todos de surpresa, as comunidades, as lideranças. Não vamos aceitar, é um total desrespeito com as nossas comunidades, com as nossas lidernaças, é um retrocesso no diálogo com o governo. O que a gente percebe é que eles estão querendo nos atropelar cada vez mais. Mas nós vamos mobilizar”, comentou.

Nomeação

A nomeação foi publicada nesta quinta-feira (10) no Diário Oficial da União. O coronel substitui Evair Borges, Terena que atua há 16 anos na Funai. Natural da Aldeia Lalima, no município de Miranda, ele estava na Coordenação Regional desde abril de 2014. Evair firmou que foi ‘pego de surpresa’ com a publicação. “Eu estava em reunião na polícia federal, e quando eu cheguei, como é de costume, olhei o Diário Oficial, e encontrei a minha exoneração e a nomeação de outra pessoa.

O coronel Renato Vidal Sant'anna é da reserva militar. Ele teria atuado, entre outros locais, no comando do 23º Batalhão Logístico de Selva, sediado em Marabá, no estado do Pará. Uma publicação do site do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) de 2004, afirma que o coronel é proprietário de uma fazenda em Marabá, que, à época, teria sido ocupada famílias da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri).

A CR de Campo Grande atende as terras indígenas Água Limpa, Buriti, Buritizinho, Cachoeirinha, Guató, Kadiwéu, Lalima, Limão Verde, Nioaque, Nossa Senhora de Fátima, Ofayé-Xavante, Pilad Rebuá e Taunay/Ipegue.

A sede da Funai em Campo Grande foi ocupada pelos índios durante a tarde desta quinta-feira. O jornal Midiamax questionou o Ministério da Justiça e a Funai sobre a nomeação mas até o fechamento da matéria não obteve resposta.

Izabela Sanchez, MidiaMax
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