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Geddel: É hora de sair...

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Brasília se preparava para uma hecatombe com o início da delação premiada de executivos da Odebrecht, que deveria atingir boa parte da classe política. Mas a bomba “Calero-Geddel” explodiu antes, e parece derrubar mais um ministro do Governo Temer. Geddel Vieira Lima, da secretaria do Governo, apresentou sua carta de demissão nesta sexta. É o sexto ministro a pedir para deixar o cargo desde que Temer foi oficializado em agosto. “Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair”, diz Geddel, em carta endereçada ao presidente Temer.

Após o escândalo revelado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, a situação de Geddel foi se agravando dia a dia, gerando constrangimento para Temer, que procurou relevar a saída de Calero e optou por manter Geddel no cargo. A situação, porém, saiu do controle, e pode inclusive respingar no próprio presidente, com chances de ser citado em investigação pela Procuradoria Geral da República, segundo o jornal Folha de São Paulo.

Calero já havia revelado ter sido pressionado por Geddel a contrariar a decisão do Instituto do do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de proibir a construção de um prédio de 31 andares em Salvador numa região tombada, que poderia fazer sombra a um patrimônio que data dos séculos 16 e 17. Geddel tinha interesse no imóvel pois seria proprietário de um dos apartamentos mais altos. Mas o Iphan concordou com a construção de um edifício de apenas 13 andares.


O ministro demissionário não se contentou apenas em sair do Governo e responsabilizar Geddel pela sua queda. Na noite desta quinta tornou-se público o depoimento do ex-titular da Cultura à Polícia Federal relatando a pressão de Geddel, num episódio que respinga na postura do presidente da República. Temer teria dito a Calero que a decisão do Iphan estava gerando “dificuldades operacionais” em seu gabinete, uma vez que Geddel estava “bastante irritado”.

O Palácio do Planalto negou o teor do relato de Calero. Mas, o que poderia ser um ruído político ganhou proporções grandiosas num momento em que Temer se empenha arduamente para aprovar um ajuste fiscal que pode vir a penalizar a sociedade brasileira por 20 anos.

Com um Governo ainda frágil, oficializado há apenas três meses após o traumático impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Temer vive as agruras de um país que perdeu de vez a paciência com a classe política, num movimento que começou com os protestos de 2013, e se agravou com as revelações da operação Lava Jato.

Embora todos os sinais de intolerância pública estivessem escancarados, Temer arriscou a proteger Geddel quando Calero o acusou publicamente. Deputados aliados do presidente chegaram a fazer um manifesto de apoio ao ministro da Secretaria do Governo, o que aumentou a irritação com a sua figura. Uma foto de deputados gargalhando ao redor de Geddel na última quarta-feira – entre eles, Jovair Arantes, que foi relator do impeachment de Dilma na Câmara – mostrou um tom de escárnio para as denúncias de Calero. Mesmo assim, Temer manteve seu ministro que faz a ponte entre o Planalto e o Congresso em um momento em que a aprovação da PEC 241 tornou-se obsessão. Após a revelação de que a PF tinha um depoimento oficial de Calero, a 'bomba Geddel' explodiu.

Carla Jiménez, El País
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