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Congresso mais corrupto de toda história

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Dilma Rousseff portou-se com dignidade perante o Senado. Falou das suas razões, das evidências, da importância da Democracia, das regras do regime presidencialista, que são as da Constituição Brasileira; falou do combate à corrupção, que ela propiciou plenamente, da crise econômica e dos interesses do povo brasileiro e da sua Nação; mostrou que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Respeitosamente respondeu, por mais de dez horas, a todas as indagações dos senadores. Honestamente. Dilma Roussef foi honesta; ela é uma pessoa honesta. Tenho muitos anos de vida política e conheci muitos políticos; muito poucos com a honestidade de Dilma Rousseff. Mas foi condenada, foi deposta; pelo Congresso mais corrupto de toda a história do Brasil. Pouco importaram a honestidade, a ausência de crime, as razões e evidências, as regras constitucionais, o regime democrático e os interesses nacionais. Falaram mais alto os grandes interesses do capital mundial, aliados aos mesquinhos interesses dos derrotados na última eleição, e o Brasil foi implacavelmente golpeado.

Na política, como na guerra, prevalecem as razões do vencedor. E o mercado vai agradecer; os investidores que venceram vão procurar normalizar a situação econômica que eles puseram em crise para criar o clima de impeachment. A mídia controlada pelo grande capital vai dar boas notícias e a confiança dos empresários vai melhorar. Não tanto a dos brasileiros, a confiança da Nação Brasileira, que sabe que os vencedores de hoje não vêem o Brasil como uma nação soberana, mas como um subestado unido à América do Norte, com residência em Miami.

Para mim, pessoalmente, é o momento mais deprimente de toda a minha vida política; é a negação das razões de luta de toda esta lide de cinqüenta anos: os ideais de democracia, de justiça e de nação soberana. Especialmente demolidora é a negação do caminho democrático para a Nação Brasileira, aquela crença que nos levou a criar o MDB e repudiar a luta armada dos revolucionários. Sim, tudo por água abaixo, a distribuição de renda revogada, os gastos sociais estancados, a Petrobras amputada, o pré-sal internacionalizado, o Mercosul destruído, a Unasul diminuída, o Brasil nos BRICS deslocado, o submarino atômico congelado, o enriquecimento de urânio parado, o Almirante Othon Pinheiro na cadeia, o Brasil enquadrado na sua dimensão menor, tal como foi com Getúlio e Jango, até a próxima tentativa, que não verei mais.

Os rituais foram cumpridos, para disfarçar bem o golpe. Mais respeitados no Brasil, com mais aparato, os rituais do disfarce, do que no caso do golpe do Paraguai. Mas a democracia, mais uma vez, foi gravemente ferida, para não machucar os interesses do grande capital.

Francamente, não sei como suportar mais este golpe. Alguns pontos de emoção grata que suavizam: a presença de Chico Buarque ao lado de Lula na sessão do Senado; o recuo de arrependimento dos golpistas na hora de cassar os direitos políticos de Dilma; palavras de estímulo de leitores e amigos que vou recebendo; a carta do Papa Francisco para a Presidenta Dilma, um reconhecimento à sua dignidade.

Contudo, a depressão. A impotência ante a força maior. A vontade de adesão ao movimento “Our Revolution”, do Senador Bernie Sanders, como último caminho. Como se não houvesse um caminho brasileiro para o Brasil.

Saturnino Braga, Conversa Afiada
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