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Delegado da PF denuncia operação contra Lula

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Ainda sobre o circo e o cerco a Lula

Ainda sobre o circo e o cerco a Lula

Acordem delegados federais! Como sei que muitos só leem o primeiro parágrafo, tenho que, logo aqui dar um recado. Eu não estou contra a Polícia Federal, nem brigando com a categoria. Eu não estou contra a Lava Jato e nem acho que a instituição deva parar de cumprir sua obrigação. Como já disse antes, desqualificar uma operação policial que pode integrar (com louros!) o acervo de qualquer academia de polícia do mundo seria vergonhoso de minha parte. Portanto, como os senhores não são o umbigo do mundo, não se incluam e se o fizeram, por favor “se desincluam”.

O problema está na exploração política de uma dita “grande mídia” que resolveu assumir o coprológico papel de oposição ao governo, por falta absoluta de uma oposição séria, honrada para desempenhá-lo. Noutras palavras, os partidos de oposição, em sua grande maioria, são corruptos. E quando uma suposta “grande imprensa” está a serviço de uma oposição corrupta, a ela se nivela. Como corolário natural dessa anomalia fica claro que a condição de cleptocratas e vira latas a descredencia como guardiã da moralidade.

Li o despacho do juiz Sérgio Mouro. Ele agiu atendendo um insólito e descabido pedido do Ministério Público, que não sei se, de sua parte, agiu provocado pela PF. Mas, fundamentando sua decisão, se é que aquilo pode ser chamado de fundamento, o magistrado busca um precedente rocambolesco numa decisão anterior para deferir o petitório ministerial. Mas, lá está escrito:

“O mandado só deve ser utilizado e cumprido, caso o ex-Presidente, convidado a acompanhar a autoridade policial para depoimento, recuse-se a fazê-lo”.

Pois bem, caríssimo leitor. Bem antes de a Polícia Federal chegar à casa do Lula, no local já estavam algumas equipes de reportagem, o que prova que tomaram conhecimento em tempo hábil do circo no qual se transformou a operação Pedalex - uma proposital mistura que faço das palavras pedalinho com tríplex. Quem, criminosamente, vazou a informação, esqueceu-se de dizer para a porca mídia a palavra “convite”.

Pus convite entre aspas propositadamente. Convite propriamente dito é algo que pode ser declinado, recusado com um simples não quero, não aceito, não vou.

Ora, se o cidadão Luís Inácio Lula da Silva estava impedido de recusar o convite, aquilo não era convite. Portanto, criou-se um eufemismo para justificar o injustificável. Noutras palavras, douraram a pílula. Mas, de qualquer modo, a palavra convite lá estava e não foi repassada para a imprensa e se foi, ela não o utilizou porque politicamente o termo mais forte, mais humilhante, mais ofensivo era o mais conveniente.

Não sabemos se Lula foi convidado ou não, embora o termo convite tenha sido uma impropriedade, um acidente vernacular, fruto da urgência da medida - se é que havia. Na prática, o termo convite soou como verdadeiro falsete. Como dito, o convidado estava impedido de recusar o que lhe fora proposto. Tudo isso para materializar uma condução coercitiva que, em meus mais de 35 anos dedicados à PF, entre erros e acertos, nunca vi. E, do alto ou do baixo de meu humanismo, tratado idiotamente como comunismo (só para ofender os comunistas), me recuso a admitir a tal condução coercitiva em plena democracia, no limiar desse novo século.

Caso houvesse efetiva preocupação com segurança, respeito à dignidade ou qualquer razão nobre, o senhor Lula poderia ser chamado discretamente por um telefonema para depor e se ele, posteriormente quisesse politizar o assunto isso já seria problema dele. Mas, o estranho seria supor que, depois de dois anos sendo bombardeado, que Lula estivesse guardando produto de crime em sua casa ou no sítio que até hoje não se sabe se é dele ou não, embora tenha, pelo seu histórico, condições de comprá-lo.

Também entendo que ter ou não ter condições de comprar não vem ao caso, uma vez que estão em jogo outras questões sobre as quais não posso e não devo me debruçar. O que sei é que estamos diante de um fato cuja prova é eminentemente técnica, que não depende de testemunhas, confissões ou pedalinhos. Até porque, pela lei (que o um juiz conhece mais que eu), a confissão, embora seja considerada a “rainha das provas”, ela só é valida quando coerente com a prova dos autos. De outro giro, a testemunha é conhecida nos meios jurídicos como a prostituta das provas.

Portanto, a Justiça está na dependência de uma prova técnica, que ficarei mais triste que decepcionado se for encontrada. Triste porque isso poderá privar milhões de brasileiros de uma pessoa que ousou tocar na mais contundente e vergonhosa ferida desse país: a miséria. Sem contar outras ousadias como tentar promover a inclusão social, ainda que para fazê-lo possa ter seguido as regras do jogo sobre as quais a imprensa silenciou e silencia. Os impunes e intocáveis que o digam, ainda que tentem passar a ideia de que não há mais intocáveis no Brasil.

Decepcionado? Até certo ponto, sim. No moralismo sem moral reinante a ideia de corrupção ganhou contornos seletivos e nela é apenas destacado o mercantilismo. Não há, propositadamente, a noção de certo ou errado, ética, moral, corrupção das ideias. Tudo é uma questão de cifras e quando ganha contornos de exploração política ou jornalismo barato adquire ares circenses.

É o que vejo nesse circo da caça ao Lula, cujo último episódio o tornou politicamente mais forte. Estivesse eu agora num bate-papo no WhatsApp, de pronto perguntaria: com quantos K você quer meu kkk?

Armando Rodrigues, Jornal GGN

Nota do Jornal GGN: Armando Rodrigues Coelho Neto - Delegado de Polícia Federal aposentado e jornalista, foi representante da Interpol em São Paulo.
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