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Um colunista de O Globo e o axioma nazista

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Hitler, quando jovem, sonhava em ser pintor. Prestou concurso para a Academia de Belas Artes de Viena, mas foi reprovado. Imaginemos, no entanto, que tivesse sido aceito. Vamos imaginar ainda que este lunático revelasse algum talento genuíno. Será que o ambiente artístico, naturalmente mais tolerante, seria capaz de apaziguar um pouco o seu fanatismo reacionário, levando-o, no final, a ser apenas um conservador renitente, mas com algumas luzes e, portanto, incapaz de maiores atrocidades?

Se assim fosse, vamos concordar que ele daria um excelente colunista da mídia hegemônica brasileira. Vindo do meio artístico, mas ferozmente conservador, agradaria seus patrões preservando ainda por cima algum verniz de civilidade. Muitos leitores ficariam irritados, mas talvez milhões de vidas tivessem sido preservadas. Sempre me lembro desta analogia quando leio as colunas de Nelson Motta em O Globo e penso: “que sorte a gente deu”.

O Portugal de Nelson Motta

Nelson Motta é um artista. São de sua lavra importantes obras que sobreviverão exatos cinco minutos depois do seu obituário. Mas é, sem dúvida, um artista, compositor, roteirista, etc. É colunista de uma nota só em diversos veículos da família Marinho. Em suas colunas exercita um velho axioma nazista: “uma mentira repetida mil vezes...”. Na edição de O Globo desta sexta-feira (16), a coluna tem o título “Piada de Brasileiro”. Para falar mal do Brasil e da esquerda, Nelson cita Portugal e informa que “os portugueses estão mais animadinhos – pelo menos mais do que nós, os otimistas bravateiros: Portugal cresceu 0,9% em 2014, com inflação zero. E Dilma ainda culpa a crise internacional. Parece piada de brasileiro”.

O Portugal de verdade

Portugal, segundo matéria publicada também nesta sexta no Jornal do Comércio, tem a terceira maior taxa de desemprego entre os países da zona do euro, 17,8%, só ficando atrás da Grécia, 27%, e da Espanha, 26,8% (no Brasil o índice atingiu agora 8,3%). Os salários dos trabalhadores portugueses estão, há anos, diminuindo de valor real. Entre 2010 e 2014 os salários em Portugal perderam 12% do valor de compra e no setor público a perda atingiu 22%.

Os “animadinhos” dão o troco

Os portugueses estão tão “animadinhos” com esta política que nas últimas eleições os partidos responsáveis por ela (PSD/CDS) viram sua votação diminuir de 50% para 38% do eleitorado, o pior resultado da história destas forças. Apesar da coligação conservadora ainda ter sido a mais votada, terá muita dificuldade em conseguir formar o governo no sistema parlamentarista lusitano, pois não tem mais a maioria e todos os partidos de oposição cresceram. O Partido Socialista aumentou significativamente sua votação. O Partido Comunista teve seu melhor desempenho em 16 anos e o Bloco de Esquerda (que apesar do nome é um partido) alcançou o sufrágio mais expressivo desde sua formação. Com isso, se o PS, BE, PCP e Partido Verde fizerem uma aliança parlamentar (o que tem muitas chances de acontecer) Portugal terá um novo governo. Mesmo assim, Nelson Motta diz em sua coluna que “na semana passada, a aliança de liberais e conservadores que sustenta o governo impôs uma derrota humilhante ao Partido Socialista (...) o povo não foi bobo e preferiu a austeridade eficiente ao populismo irresponsável”. O colunista de uma nota só ainda encontrou espaço para tentar ligar Eduardo Cunha a Lula. Logo Nelson Motta que não faz muito estava quase compondo uma canção de amor para o ínclito presidente da Câmara. Realmente, Joseph Goebbels não faria melhor. Bom, mas é preferível isso a sair por aí de camisa parda matando os outros.

Eleições na Venezuela: Um possível recurso da direita

A coluna Notas Vermelhas não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Não é que temos um “correspondente” na Venezuela? É o amigo Odorico Ribeiro, que mora há 40 anos na pátria do comandante Hugo Chaves e nos manda de lá instigante análise sobre o clima político no país irmão, feita de forma leve e inteligente. Vale a leitura.

No último sábado (10/10), fui com a minha esposa ao Centro Cultural La Estancia situado num parque público aqui perto de minha casa em Caracas. É um lugar bem amplo, conformado por uma casa enorme, tipo colonial, rodeada por um jardim também enorme, com muita grama, flores e frondosas árvores. La Estancia, esse é o seu nome, repito, para quem quiser ver na internet.

Nos espaços interiores havia diversas atividades culturais, com violão e outros tipos de artes.. Eram grupos de pessoas de todas as idades, na maior compenetração, todos participando com muita alegria. Isso faz parte da política cultural do governo bolivariano, é gratuito e aberto a qualquer pessoa.

Exteriormente - além de grupos de estudantes reunidos, dos namorados e de tudo que tem num parque - vi um grupo de capoeira (por certo, o mestre era brasileiro) e um grupo grande fazendo yoga.

Também havia uma feira gastronômica com produtos da região amazônica venezuelana. Muito similar aos nossos produtos amazônicos, parece. Entre outras coisas, provei do “moñoco” e das formigas “culonas” torradinhas e salgadas (um irmão me disse que provavelmente eram a farinha d’água e as tanajuras).

No caso da yoga foi realmente impressionante ver tanta gente junta fazendo essa atividade. Acho que eram quase 200 pessoas. Muita gente mesmo. Nós saímos dali rejuvenescidos. A esperança nos rejuvenesce, com certeza.

Ao sair, pouco a pouco a realidade do acontecer político nacional foi nos lembrando o quanto ainda nos falta para que essa esperança seja realidade.

A oposição venezuelana tem dado um duro golpe na economia nacional, através da sua guerra econômica e financeira, que provocou uma inflação altíssima, um desabastecimento incrível com suas filas intermináveis e um dólar impossível (tudo igual ao golpe no Chile em 1973, quando Pinochet derrubou o Presidente Salvador Allende e montou sua sangrenta ditadura). O objetivo óbvio desse plano é criar um clima de descontentamento generalizado.

Pois bem, com esse plano maldito, essa oposição esteve tranquila e neste ano quase não tivemos violências na Venezuela, pois eles tinham a certeza que o povo venezuelano, com seu descontentamento, lhes daria o seu voto nas próximas eleições para o Congresso no dia 6 de dezembro. E, claro, isso lhes abriria as portas para seus outros planos maléficos. O principal deles, derrubar o Maduro.

Vade retro. Felizmente isso não se está dando. Atualmente, as enquetes, todas elas, dão como vencedor o bolivarianismo, o Maduro. Parece que por aqui a consciência popular atingiu um grau tal, que a sociedade venezuelana não está permitindo mais esse tipo de engano, esse tipo de assalto e de farsa criminosa.

Vocês aí no Brasil dirão que, então, eu tive um sábado cheio de boas vibrações e noticias, que estive cheio de esperança. É isso é certo. Mas é certo em parte. Como eu conheço muito bem a oposição capitalista venezuelana, desconfio que eles já devam estar preparando algo e sua única saída (como sempre) será aumentar a violência.

Ou seja, podemos deduzir até matematicamente que sua teoria é algo assim como: probabilidade de derrota implica numa subida da violência. Ou seja, uma variável (a derrota) é diretamente proporcional à outra (a violência).

Pois é, para ser franco eu não tenho dúvidas. Nenhuma. Com certeza vai se incrementar a violência aqui de novo, apesar das medidas governamentais preventivas, tomadas baseadas nas recentes experiências. Os opositores vão tentar algo e esse algo não me cheira nada bem. Esperemos. Já houve algumas escaramuças. Conheço esse gado. Enfim, aí estamos de novo: capitalismo, fascismo, já não se sabe quem é quem.

A volta do boêmio
Contingências as mais diversas fizeram com que a coluna Notas Vermelhas ficasse muito tempo sem atualização. Peço desculpas aos leitores, agradeço aos que incentivaram a retomada e continuo contando sempre com a colaboração de todos.
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