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Crime de guerra: Israel tenta corromper a história

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Na noite de terça-feira (20), durante o 37º Congresso Sionista Mundial, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, chocou a sociedade internacional com mais uma declaração violenta. O premiê israelense afirmou que, durante a segunda-guerra mundial, foi o líder religioso palestino Haj Amin al-Husseini quem plantou na mente de Adolf Hitler a ideia de exterminar os judeus da Europa. Segundo Netanyahu, o plano inicial de Hitler era expulsar os judeus da Alemanha, mas “mudou de ideia”, após a intervenção de Husseini. “Se você expulsá-los, eles virão todos para cá”, teria dito o líder palestino. Na versão de Netanyahu, Husseini teria proposto “queimá-los”.
Hitler
Foto histórica de Hitler com líder árabe. Foto: Sul21
A afirmação gerou revolta entre palestinos e judeus, que consideram que o primeiro-ministro israelense busca manipular a história para fins políticos. Embora o encontro entre Hitler e Husseini tenha efetivamente acontecido, em dezembro de 1941, ocorreu num momento em que o Holocausto já estava em curso. Para o presidente do comitê executivo da Organização para Libertação da Palestina, Saeb Erekat, “é triste quando um líder do governo israelenses odeia tanto seu vizinho que está disposto a absolver o mais notório criminoso de guerra da história, Adolf Hitler, do assassinato de 6 milhões de judeus durante o Holocausto”.

Violência religiosa

A declaração vem em um momento de escalada da violência entre israelenses e palestinos. A atual onda de agressões começou com incidentes em um local sagrado da cidade de Jerusalém, a mesquita Al-Aqsa, onde, conforme acordos estabelecidos entre as duas partes, são permitidos somente cultos muçulmanos. Segundo os palestinos, Israel estaria restringindo o acesso aos religiosos islâmicos no local, em uma tentativa de alterar o status-quo. O governo israelense nega, mas judeus de extrema direita têm clamado para que cultos judeus sejam permitidos no local, que também é sagrado de acordo com o judaísmo.

Assim, desde meados de setembro, protestos e ataques palestinos se espalharam de Jerusalém para a Cisjordânia, para a Faixa de Gaza e até mesmo para cidades Árabe-Israelenses tradicionalmente pacíficas. A ameaça percebida ao local sagrado mobiliza jovens palestinos agredir israelenses. Agressores em protestos e outros conhecidos como “lobos-solitários” têm usado pedras, facas, chaves-de-fenda e seus carros para atacar judeus aleatoriamente. Desde o começo do mês, sete israelenses foram mortos. Em resposta, as forças de segurança israelense têm respondido com fogo, de modo que mais de 40 palestinos foram mortos, e mais de 1400 ficaram feridos.

Insatisfação

Além do incidente religioso, palestinos se revoltam com o não-cumprimento por parte de Israel dos Acordos de Oslo, de 1993. Esses acordos estipulavam que em cinco anos seus termos seriam aplicados, culminando com a plena independência da Palestina e o fim da ocupação de Israel. Contudo, mais de duas décadas se passaram, e essa realidade parece cada vez mais longínqua.

No começo do mês, em seu discurso na ONU, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, afirmou que além de Israel não completar o processo de retirada de suas forças do território palestino, os assentamentos judeus se intensificaram por toda parte, colocando o processo em risco. Por isso, declarou que estava se desvinculando dos Acordos de Oslo.

Apesar da retórica de Abbas, a mera pressão política já não parece uma solução satisfatória para os Palestinos que se veem cada vez mais acuados com o avanço israelense. Nem a bandeira flamejante da Palestina, hasteada pela primeira vez na sede da ONU, impediu que a popularidade do presidente da Autoridade Palestina desabasse nos últimos meses.

Uma pesquisa do Centro Palestino de Política e Pesquisa do início do mês sugere que dois terços dos palestinos querem que Abbas renuncie. A enquete indica que a maioria dos palestinos já não acredita em uma solução de dois Estados – 57% apoiam uma intifada armada na ausência de negociações. A figura de Abbas é relacionada a ingenuidade política de seguir uma estratégia de colaboração com Israel sem receber em troca o fim das ocupações, mas seu prolongamento.

Do lado israelense, o aumento da violência palestina gera pânico e fortalece a extrema-direita. Em uma enquete realizada na semana passada, por um canal de TV israelense, Netanyahu ficou em terceiro lugar como melhor líder para lidar com a onda de ataques. Na frente dele, ficaram dois políticos de extrema-direita. Ou seja, para preservar sua coalizão, Netanyahu depende da direita mais radical.

A declaração dessa terça-feira, ao colocar a culpa no palestino pelo Holocausto, o primeiro-ministro israelense parece desesperadamente tentar manter sua popularidade com essa ala extremista. E com os extremismos, a paz vai ficando cada vez mais distante.

Luiza Bulhões Olmedo, Sul 21
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