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Fig. 1 – Muros da Memória. Eduardo Kob |
A Modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da Arte, sendo a outra metade, o eterno e o imutável. Houve uma Modernidade para cada pintor antigo: a maior parte dos belos retratos que nos provêm das épocas passadas está revestida de costumes da própria época. São perfeitamente harmoniosos; assim, a indumentária, o penteado e mesmo o gesto, o olhar e o sorriso (…) formam um todo de completa vitalidade. Não temos o direito de desprezar ou de prescindir desse elemento transitório, fugidio, cujas metamorfoses são tão frequentes. Suprimindo-os, caímos forçosamente no vazio de uma beleza abstrata e indefinível, como a da única mulher antes do primeiro pecado. (Baudelaire, O Grafite-2007-P.26)
Rosângela Vig, Obras de Arte
Em meio à monocromia da cidade, o artista, num ímpeto criativo, fez das paredes e dos muros, sua tela e, sem cerimônia, tingiu com sinais de vida, o que antes era concreto inanimado. O grafite artístico emerge como um alento à aspereza urbana, ameniza a frieza do concreto; distrai os olhares perdidos da turba desenfreada entrando e saindo dos transportes; e sobretudo propõe conjecturas. As cores permitem um equilíbrio transitório à mente em constante ebulição pelo estresse da cidade grande e pelas obrigatoriedades do dia. Nesse ponto, o urbano adquire um caráter poético. O imutável é a vida, a Arte está somente de passagem, é fugidia em suas mutações e acompanha a própria evolução da mente humana.
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Fig. 3 – Muro de viaduto na esquina da rua da Consolação em São Paulo, foto tirada em 2013, pichação em meio à Arte. |
Muro de viaduto na esquina da rua da Consolação em São Paulo, foto tirada em 2013, pichação em meio à Arte.
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Fig. 4 – Arte Urbana na Parede. Letras bem elaboradas coloridas e muito grandes |
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Fig. 5 – Arte Urbana na Parede. Belos desenhos coloridos |
No Brasil, cabe destaque para Eduardo Kobra, como referência nessa Arte. Nascido na cidade de São Paulo, o artista começou a se tornar conhecido em 1987 e atualmente tem murais conhecidos na cidade onde nasceu, e pelo mundo 5. Estão entre seus temas, personalidades como Oscar Niemeyer, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Abraham Lincoln e John Lennon.
O artista ainda trata questões como o meio ambiente, em seu projeto Greenpincel, cujas imagens fortes, deixam em evidência seu repúdio por atos contra a natureza, em todas suas formas. A marca registrada de sua Arte é o uso de cores vibrantes, mescladas a formas geométricas, em meio a figuras de celebridades e cenas urbanas. Seus murais, espalhados por cidades do Brasil e do mundo, são inconfundíveis e, mais que proporcionar os sentimentos prazerosos pela veia do Belo, sua Arte questiona de um modo inteligente e induz a pensamentos aprofundados.
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Fig. 6 – Bansky, artista de rua britânico com trabalhos em Bristol, Londres e em várias cidades do mundo |
Vale lembrar que o grafite, como Arte, tem fundamento, trabalha com o intelecto, é belo e ameniza a dureza da vida urbana, diferentemente de pichações (Fig. 7), que não tem nenhuma ligação com a Arte, e que são totalmente reprováveis, por sujarem a cidade e por danificarem patrimônios públicos e particulares.
O grafite viabilizou a artistas populares, de talento indiscutível se destacarem junto às vanguardas contemporâneas e no meio artístico. E, mais que isso, o estilo levou a própria Arte para a rua, por meio de um Belo com sentido intelectual, sobre temas atuais e muitas vezes, contundentes, despertando críticas e provocando discussões.
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Fig. 7 – Pichações |
Notas de Rosângela Vig:
1 Roy Lichenstein – link: http://www.lichtensteinfoundation.org/
2 Keith Haring – link: http://www.haring.com/
3 Michel Basquiat – link: http://www.basquiat.com/
4 Banksy – link: http://www.banksy.co.uk/
5 Kobra – Vídeo de link
Nossos Agradecimentos ao Artista Eduardo Kobra: Website | Muros da Memória | Painéis Green Pincel
Nota do editor da Aldeia: Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.
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