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Daniela Penha, Jornal A CidadeRibeirão Preto, SP. O Ministério Público resgatou quatro adolescentes de uma casa na Vila Tibério, após denúncia de exploração sexual infantil. A operação, na tarde de ontem, mobilizou a Rede Protetiva de Direitos Sociais da promotoria, o Conselho Tutelar e a Polícia Militar.
Duas pessoas, que seriam responsáveis por gerenciar o local, foram detidas. Até o fechamento desta edição, a Polícia Civil avaliava se a dupla seria presa e qual seria a acusação.
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Adolescente do Maranhão, com 17 anos, era explorado sexualmente no interior de SP |
Conta que fez contato com o grupo de moradores da casa pelo Facebook. “Elas diziam que era melhor eu me afastar da minha família e que aqui eu ia me dar bem. Meu sonho era o cabelo e o silicone no peito”.
Há 20 dias, ele desembarcou em Ribeirão. Diz que juntou dinheiro para a passagem. “Se o dono da casa comprasse, sairia o dobro do preço”. Ainda assim, relata que contraiu dívidas com o agenciador dos jovens que moram no local; cerca de 20.
“Ele cobrava R$ 25 de diária, mas como eu deixei acumular, ele dobrou o preço. Devia uns R$ 600”. Como forma de pagar a dívida, o jovem afirma que tinha que entregar de R$ 100 a R$ 200 ao voltar da rua. Os programas não aconteciam na casa.
“Eu ia para a rua Saldanha Marinho, às 18h e voltava só de manhã, se tivesse o dinheiro. Senão, eu nem voltava, porque o cafetão não aceitava”. Ele cobrava R$ 50 por cada programa e chegava a fazer quatro por noite. Decidiu denunciar depois de ser agredido, acusado de roubar o celular de uma das travestis.
“Nós já havíamos recebido denúncias de que nessa casa havia exploração, mas não conseguimos comprovar. Dessa vez, flagramos os três adolescentes”, explicou o conselheiro tutelar João Manuel Belém de Almeida.
Os quatro adolescentes, de 15, 16 e 17 anos, vieram de outras cidades. Além do jovem do Maranhão, havia adolescentes do Ceará, Piauí, e Lorena, São Paulo.
O conselheiro João informou que o grupo seria acolhido e encaminhado às suas cidades de origem.
“A rede protetiva vai atuar tanto no âmbito de Infância e Juventude quanto criminal”, explicou o promotor Naul Felca, que acompanhou a operação.
Travestis negam denúncias de adolescente
Rebeca mora há um ano na casa de onde os adolescentes foram retirados. A travesti conta que veio de Uberlândia também com o sonho de se tornar mulher. “Eu já consegui o silicone no bumbum”.Ela e as demais moradoras do local, negam a história relatada pelo adolescente. “Aqui é nosso. Nós alugamos. Mas temos que pagar água, luz, aluguel e todo mundo precisa colaborar”. Rebeca diz que o adolescente não estava pagando sua parte das despesas.
“Ele estava roubando a gente, nossas coisas”. Admite que as travestis agrediram o jovem, mas justifica. “Ele roubou um celular e demos uns tapas mesmo”.
E frisa que não há agenciadores na casa. “Cada uma trabalha como quer. Pode perguntar para os vizinhos. Aqui nunca teve problema. A gente acolhe quem vem de fora porque sabemos o quanto é difícil ser como somos”.
Na casa, há jovens de todas as idades e lugares. Bianca veio de São Joaquim da Barra também há um ano. Colocou silicone no bumbum com o dinheiro dos programas. “É nosso sonho”.
O adolescente que denunciou as explorações ao Conselho diz que nunca havia feito programa antes. “Eu estava na minha cidade. Terminei o ensino médio”. Conta que seus pais morreram e que ele vivia com uma avó, que o aceitava como travesti. Agora, pensa em voltar para casa e para os estudos. “Não quero mais esse negócio, não”.
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