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Jaldes Meneses, Campo de EnsaioEstá longe de ser um veredicto hiperbólico considerar a reunião de governadores eleitos do nordeste, realizada hoje em João Pessoa, de acontecimento histórico.
Vale à pena recordar que primeira grande articulação desenvolvimentista de governadores do nordeste deu-se em 1958, sob os auspícios do paraibano Celso Furtado. Lê-se nas páginas do segundo volume livro de memórias de Celso, “A fantasia desfeita”, a navegação venturosa de quando e como ele imaginou a Sudene e encontrou sérias resistências nas oligarquias regionais. Essas oligarquias atadas ao passado eram poderosas, dominavam a representação política das bancadas federais e de senadores do Congresso Nacional, quase toda disposta a apresentar o veto à criação da SUDENE. Por outro lado, foi exatamente a partir do apoio dos governadores e, por incrível que pareça, da colaboração da imprensa do Sudeste do país (que apoiou a bandeira motivada pelo argumento de inibir a migração de nordestinos), que Celso, os governadores e o ex-presidente Juscelino Kubitschek conseguiram a vitória. Começava assim o processo político e econômico de modernização do nordeste, não interrompido pela ditadura de 1964, embora, desde o golpe, tenha adquirido a feição dominante de conservadora.
Ontem e hoje, seja nos tempos de revolução passiva da “Era Vargas”ou do "Lulismo", o motivo da simpatia da maioria dos governadores às causas da modernidade e do desenvolvimento é relativamente simples de ser explicado: os governadores são eleitos majoritariamente, precisa apresentar resultados a eleitores de todo o território do Estado. Por outro lado, muitas vezes, as representações parlamentares são paroquiais. Por isso, as bancadas estaduais, no distorcido federalismo brasileiro, são úteis e funcionais ao jogo de barganhas fragmentadas do presidencialismo de coalizão vigente nos corredores de Brasília - uma estrada vicinal, uma quadra esportiva, uma ponte, uma creche, etc. -, reivindicações justas, mas desprovidas de escala.
Celso Furtado, economista paraibano foi o idealizador da Sudene |
As presidências de Lula e Dilma, no plano federal, mudaram a região, cujas taxas anuais de crescimento econômico hoje são superiores às do Brasil. O crescimento econômico coincidiu com o fato das eleições de uma nova safra de governadores progressistas, entre os quais podemos citar o exemplo de Ricardo Coutinho. Encerramos um ciclo político e começamos outro: pela via do sufrágio eletrônico universal, o conteúdo da composição do voto nos grandes centros urbanos foi se aproximando e engolfando o mundo rural. Uniformizamos mais nossas escolhas e preferências, as oscilações de opinião pública e os movimentos de sociedade civil começaram a sobrepujar em definitivo as estruturas atávicas do patrimonialismo, este persistente rebento originário do regime familiar da economia política patriarcal narrada por Gilberto Freyre em "Casa Grande&Senzala””.
Podem-se fazer as críticas (a crítica trata-se de uma necessidade estrutural da democracia, seja antiga ou moderna) que se quiser aos atuais governantes do nordeste, mas, indubitavelmente, renovaram-se as caras das nossas principais lideranças políticas, alterando-se por inteiro a cartografia política regional: praticamente nenhum desses novos governadores foi eleito sob o cabresto do velho patrimonialismo de origem patriarcal, isto na região brasileira em que ele ainda constitui um dos núcleos da cultura política. Em definitivo, o capitalismo e seus conflitos (capital, trabalho e cidadania) chegou e desembarcou na política nordestina. Sejam bem-vindos à Paraíba e bom trabalho, senhores governadores!
Notas do editor da Aldeia:
a) Jaldes Meneses é professor de Teoria da História da Universidade Federal da Paraíba.
b) Tanto Jaldes Meneses quanto Flávio Dino relembraram o economista Celso Furtado recentemente. Jaldes, neste presente artigo e Flávio Dino quando concedeu entrevista ao Observatório da Imprensa da Rede Brasil. Assista:
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