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Falar de 'avô' é o mesmo que falar de amor

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Sebastião Caracas

Escrevi há nove anos, em 2005, em uma máquina de escrever portátil que ainda possuo, uma crônica sobre o que é ser avô. Agora, decidi salvá-la no computador para não despencar feito folhas que caem das árvores levadas pelo vento:

Augusto Cury, psiquiatra e escritor, escreveu:” No mundo há mistérios, no espírito e na mente humana se escondem os maiores segredos do universo, e ainda diz: cada ser humano é um mundo”.

Sebastião Caracas escreve mais um artigo para a Aldeia Global
Nesse universo de mistérios e de segredos não é fácil encontrar uma definição para as relações entre o avô e o neto. Sei e posso sentir que falar de avô é o mesmo que falar de amor.

São muitos os amores. Há o amor puro e verdadeiro, é certo. Fala-se de amor platônico que foi inventado antes de Cristo e continua a existir.

É inegável o amor materno. Creio ser o amor mais puro entre todos os amores. É especial. É nobre. Pode ser distribuído a vontade, mas nunca se esgota, não acaba.

Veja-se quantas mães existem no mundo distribuindo amor, contentando-se apenas em dar, sem recompensa. Talvez, por isso, esteja entre as mais nobres e importantes obras divinas.

A afeição profunda faz parte deste amor. Há o amor instintivo entre homens e mulheres que Deus criou para multiplicar a espécie humana, para criarem juntos novos mundos, para sonharem juntos e viverem juntos.

Nessas manifestações de amor surgem as paixões, os afetos, a meiguice, o carinho, o amor perfeito que todos desejam. Há também o amor a Cristo que todos nós acreditamos.

Conheço uma música, uma linda canção em um CD, de Dick Farney, onde ele nos encanta com a pergunta: quem inventou o amor? Ele mesmo responde: “ não se faz favor nenhum, gostar de alguém. Quem inventou o amor, não fui eu, não fui eu, e nem ninguém”.

Eu queria saber o que havia sido escrito por outras pessoas sobre “Avós”. Procurei, mas não encontrei nos livros, sequer, alguma luz que pudesse clarear minha mente.

Lembrei-me do tempo que eu era criança, longe de casa, noutro lugar,para frequentar o colégio. Eu tinha saudade de minha mãe, de meu pai, dos outros irmãos.

Descobri que havia associação entre saudade e amor. Eu queria escrever cartas de amor e de saudade para todos eles. Na verdade, não sabia escrever nada do que sentia. Lembro-me que era saudade e amor ao mesmo tempo.

Agora, como avô, sinto-me no mesmo estágio. Sei o que sinto sobre os netos. È um sentimento suave, mas não consigo traduzir em palavras escritas. Acho que o amor de avô é mais forte do que o amor que o pai tem pelo filho.

O pai mistura amor com disciplina, com responsabilidade, com austeridade. Faz uma verdadeira salada. Sempre pensa em criar um super-homem, um filho perfeito, uma verdadeira invenção, um exemplo para o mudo, incomparável.

Já o avô não tem compromissos. A sua relação com o neto é livre. Não tem limites. Não precisa exigir nada dele, deseja apenas curtir a satisfação de estar com ele. Quer tê-lo nos braços. Quer ouvir sua voz. Quer alegrar-se com o seu sorriso.

Certa vez ri de meu pai. Ele era austero, sobretudo disciplinador, para manter a ordem numa casa com os seus nove filhos. Não podia ser diferente. Na sua geração o comportamento era aquele. O vi correndo, correndo, atrás de

um neto. O neto era um dos meus filhos. Brincavam como duas crianças. Havíamos ido passar umas férias em sua casa, longe de onde eu morava. Nesse tempo eu ainda na sabia o que era ser avô.

Notei que meu pai estava feliz, mais amoroso. Não teve cerimônia de exibir sua alegria naquele instante. Quão sublime e quanto de espontaneidade, posso lembrar, ao presenciar aquela demonstração de amor.

O amor que eu falo, escrevendo, é terno, é brando, é suave como o orvalho que a natureza leva para regar as plantas no final da madrugada, despertando-as para um novo dia, com a vinda do nascer do sol.

Acho que isso é ser avô. É um presente que vem de Deus.
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