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As ruas de Olinda e os sonhos da oposição nos anos 80

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Luis Nassif

Semana que vem estarei no encontro da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Olinda. Espero encontrar os amigos pernambucanos em algumas rodadas de música.

O convite me trouxe à lembrança encontro da Anpec (Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia) de trinta anos atrás, em Olinda. Presentes, os economistas que, nas décadas seguintes, dominariam o establishment econômico e político brasileiro.

O organizador do encontro era João Sayad, da Fipe-USP. A estrela maior era Maria da Conceição Tavares. No encontro, sindicalistas como Pedro Malan (presidente do Sindicato dos Economistas do Rio), ex-exilados, como José Serra, jovens desenvolvimentistas, como Luciano Coutinho. Todos críticos do governo e do Ministro Delfim, todos portadores do que se supunha a nova utopia.

Nele, pela primeira vez, vi ao vivo e em cores como se montavam modelitos econômicos – que acabavam não se adequando ao figurino da economia.

Em uma das mesas, um economista carioca, acho que o Roberto Fendt Jr., bom conhecedor de mercado exterior, montou um modelito para explicar correlações – acho que entre câmbio e preços ou algo do gênero. Para simplificar o modelo, tirou dele salários, trabalhadores, agricultura, enfim, um strip tease completo. Na mesa, Conceição fez a crítica e repôs todos os setores extirpados. Repondo-os, o modelo não mais fechava.

À noite, a jovem geração se esbaldava dançando. Do lado feminino, a maior pé-de-valsa era Conceição. Do lado masculino, Denisard Alves – acho que Secretário das Finanças de São Paulo – e o Serra. Nas mesas, eu já explorava os conhecimentos do Yoskiaki Nakano e do Alkimar Moura.

Consegui criar um efeito-manada no grupo em relação à música. Localizei um boteco em que tocava o grande Canhoto da Paraíba. Ninguém do encontro sabia de quem se tratava, mas a dica sobre o “gênio do violão” correu como um rastilho. De noite, estava o congresso inteiro no boteco. Mas o grande Canhoto tinha ido se apresentar no interior. Atrasou por mais de dez anos nosso encontro.

Na noite de Olinda, os economistas se preparavam para os anos seguintes. Alguns conservaram a carreira acadêmica. Outros se lançaram à política, se tornaram ministros, confiando no diferencial que seu conhecimento importado tinha sobre o conhecimento provinciano da classe política.

Conceição manteve a linha, Malan debandou, Serra virou explorador de obscurantismo, Nakano se manteve íntegro, Sayad tornou-se burocrata pluripartidário, Luciano tornou a LCA a maior consultoria brasileira, a preferida dos “campeões nacionais.”

Por eles passaram planos Cruzado, Real, o desenho do país dos anos seguintes. A utopia ficou perdida em alguma rua de Olinda
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