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Peça Encaixada

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Miosótis Lúcio

Conversando comigo, as peças provocam a casa silenciosa. Espalhadas por sobre a mesa cuidadosamente preparada, reclamam da minha lentidão em aceitar o desafio.

Concentrada, inicio a tarefa e escolho o critério a ser seguido: cor, tamanho, forma, detalhe miúdo, sombra.
Liberada pelo movimento repetido dos olhos, que vão das peças ao modelo; das cores às formas; das bordas ao centro; a mente vagueia.

Encontra-se com gargalhadas em dia de sol, algazarra infantil, flores do cerrado que se desfazem ao sopro de risos e olhos de festa: cata-ventos de alegria.

Estimulada pela brisa e euforia trazidas por essas lembranças, retomo o quebra-cabeça. Vagarosamente, as peças encontram seus espaços; estímulo dos olhos, que reservam ao tato o prazer de unir pares, agora em número crescente.

Livres mais uma vez, os pensamentos são deslocados a um desafio maior: aprender a amar. Exige selecionar com cautela palavras e gestos, para não esbarrar em dores. O toque precisa ser suave, sutil, para não acordar medos. Falar com o corpo desnuda desejos. Escutar o silêncio destrava línguas. Sorrir espontaneamente alimenta a ternura. Partilhar sonhos renova a esperança.

Reencontro as peças e, o riso entre elas cochichado, revela que sabiam o que acabo de descobrir: o amor chegou, está aí, bem diante de mim.
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