-->

'Só há uma possibilidade de me derrotar: é trabalharem mais do que eu', diz Lula

Publicidade
Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual e Instituto Lula

São Bernardo do Campo, SP – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou há pouco que não se preocupa com os ataques dos quais tem sido vítima nas últimas semanas. “O que mais machuca meus adversários é o meu sucesso”, ironizou, referindo-se, sem fazer citações, a setores da imprensa e da oposição ao governo Dilma Rousseff, que têm usado declarações do empresário Marcos Valério visando a atingir o principal líder petista.

Lula, durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, anunciou novas caravanas pelo país
Em um discurso de aproximadamente 30 minutos, durante ato político de posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgcos do ABC, Rafael Marques, Lula falou muito sobre futebol e histórias da entidade que presidiu de 1975 a 1981 – e reservou a parte mais contundente para o final, ao anunciar a intensificação de sua atividade política na agenda para 2013. “No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país. Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade”, declarou o ex-presidente.



“O que mais machuca os meus adversários é o meu sucesso”, reagiu Lula. “Às vezes eu compreendo a mágoa deles, que governaram este país desde Cabral”, ironizou. “Só existe uma possibilidade de me derrotarem: é trabalhar mais do que eu. Porque se ficar um vagabundo numa sala com ar-condicionado, falando mal de mim, vai perder.’

Rafael Marques assumiu o comando da entidade em lugar de Sérgio Nobre, que se dedicará exclusivamente à secretaria-geral da CUT. Durante o ato, o presidente da central, Vagner Freitas, disse que a “elite quer jogar no tapetão” e acusou setores do Judiciário e da mídia de “querer decidir” em nome do povo. “Se querem colocar a democracia em risco, vamos às ruas para defendê-la”, afirmou. “A elite brasileira não digeriu ainda o fato de o companheiro Lula ter feito o melhor governo da historia deste país. Há uma perseguição contra a democracia.”

Já o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos falou em sentimentos de “mesquinhez, avareza e raiva” em relação a Lula, a quem chamou de “patrimônio da classe operária e da sociedade brasileira e internacional”.

Integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro defendeu, para 2013, “lutas e ações de massa que coloquem em pauta” temas como a democratização dos meios de comunicação e a criminalização da política. E criticou o Poder Judiciário, que “parece ser intocável”.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, também fez críticas ao papel da oposição. “Tentam tirar a luta do plano politico para o plano jurídico. Tentam criminar a politica e os movimentos sociais. mas não vão conseguir”, afirmou.

Crise
Lula também comentou a crise e disse que é preciso “pensar da forma mais positiva possível”. Para ele, tanto Dilma como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm “clareza” sobre o que deve ser feito. “A crise pode ter maior ou menor incidência no Brasil, dependendo das políticas”, afirmou, lembrando de quando, ainda presidente, foi à televisão pedir às pessoas que não parassem de consumir. Se dependesse dos jornais, comentou, ninguém iria às compras. “E as classes C, D e E consumiram mais do que as classes A e B.”

O ex-presidente reservou uma ironia para seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. “Teve um período em que achei que o Fernando Henrique preferia minha vitória à do Serra.” O raciocínio era de que Lula faria um governo fraco e permitiria a volta do próprio FHC, evitando ainda que o ex-candidato José Serra, vitorioso, pudesse “encher o saco durante oito anos”.

Trechos do discurso incisivo e bem-humorado de Lula na posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC:
  • "Ontem me ligou um governador e disse: Não sou corintiano, mas acho que o Corinthians entrou em campo com a síndrome daquela primeira reunião que o sr. fez com o presidente Bush logo após sua eleição (...) e entrou de cabeça erguida".
  • "O que mais machuca meus adversários é meu sucesso"
  • "Como é que eles compreendem que seja exatamente um peão de São Bernardo do Campo, que só tem diploma primário e um curso de torneiro mecânico que mais fez Universidade Federal neste país?"
  • "Como é que eles podem aceitar pacificamente sem ódio que seja um metalúrgico de diploma primário que tenha feito em oito anos uma vez e meia tudo o que eles fizeram de escolas técnicas em um século?"
  • "O milagre das coisas que fizemos foi que acreditamos que não era possível governar só para um terço desse país. (...) Por isso eles não se conformam como é que em oito anos a gente elevou 40 milhões de homens e mulheres para a classe C, a ter um padrão de consumo de classe média baixa, ver os pobres viajarem de avião, ver as pessoas trocarem de carro todo ano. Então eu acho que isso deixa eles muito irritados".
  • "Por que tinha que ser eu, e não eles? Eles governaram antes de mim. Tinham unanimidade na imprensa. Era um pensamento único, não tinha nada contra, era tudo favorável. E por que que não foram eles que fizeram essas coisas? Por que eles não cuidaram dos índios, dos negros, das mulheres, dos pobres? Por que não fizeram as casas que tinham que fazer nesse país? Por que não levantaram a auto-estima?"
  • "Essa é uma coisa que balizou a minha vida: não acreditar em nada, em nada, em nada difícil. Pode ficar certo: não tem nada que eu acredite que a gente não possa fazer".
  • "No dia 22 de dezembro [de 2008] eu fui pra televisão pra convencer as pessoas a comprar. Porque se dependesse das manchetes de jornal, ninguém compraria nada".
  • "O pobre gosta de comprar do bom e do melhor (...) Nós só somos peão porque não temos opção (...) Um dia um cara falou: eu gostava do Lula quando ele andava de macacão. Vai se ferrar, vai você andar de macacão, pô [RISOS E APLAUSOS]. O cara não tem noção o que é um macacão numa fábrica, às três horas da tarde numa fábrica que tem um telhado de Brasilit, trabalhando numa máquina quente (...) Não me peça para gostar de miséria, porque eu não gosto. E nenhum de vocês deve gostar. A gente deve gostar de ter sonhos, de construir coisa melhor, a gente quer uma casa boa, quer um carro bom, quer que os filhos se vistam bem, que os filhos se vistam bem, é isso que a gente deseja". (30min15seg)
  • "A democracia não é um pacto de silêncio, a democracia é um processo de movimentação da sociedade na tentativa de conquistar. E cada vez que a gente conquista uma coisa, a gente quer outra". (34min12seg)
  • "Não se preocupem [com os ataques] porque há uma razão para isso (...) Se eles não me pegaram quando minha barba não crescia, agora que eu tou deixando ela crescer novamente vai ser muito difícil, porque o ano que vem estarei, para a alegria de muitos e para a tristeza de poucos voltando a andar por esse país pra conversar com o povo brasileiro" (38min38seg)
Advertisemen