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Presidenta Dilma manda líderes esticar a corda, ignora provocação de aliados e nega crise

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Apesar das seguidas e visíveis ações dos aliados contra o governo, que não tem garantia de vitória nas matérias que devem ser votadas nesta semana no Congresso, a presidente Dilma Rousseff considera que não há uma crise na base aliada. Para ela, há problemas com as mudanças nas lideranças congressistas e, com o tempo, os aliados se acalmarão.

Ao menos esse é o discurso que os assessores próximos à presidente tentam disseminar, apesar de diariamente partidos anunciarem que reunirão suas bancadas no Congresso para avaliar seu apoio ao Executivo. Segundo relato de um deles, quando a presidente é questionada sobre crise política responde de bate pronto: "Que crise?"

A negação da crise pode se tornar algo ainda mais perigoso para a presidente, já que a pressão dos partidos aliados continua crescendo e não houve respostas claras às reivindicações. Nesta terça (20), por exemplo, o PR reúne presidentes dos diretórios regionais e pode decidir institucionalmente ir para a oposição.

São sete votos a menos para o governo no Senado. E se os deputados do PR seguirem o mesmo caminho, serão 40 votos a menos na Câmara.

- Sempre teve um grupo entre 10 e 12 deputados que queria fazer oposição ao governo", contou um parlamentar do partido sob condição de anonimato.

Também nesta terça, o PSC reúne seus deputados para decidir como atuarão na Câmara. Eles também estão articulados com o PTB. Somadas, as bancadas têm 39 votos.

Na segunda-feira (20), o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) disse que ainda está "tentando entender o que está ocorrendo".

- A gente quer saber a dimensão do nosso espaço. Já foram trocados três ministros e não fomos convidados.

Há pelo menos duas semanas, Dilma passa por embates com os congressistas aliados. Primeiro, teve que se reunir com o vice-presidente Michel Temer depois que 54 dos 78 deputados do PMDB assinaram um manifesto reclamando da relação com o governo e da proeminência do PT nos cargos de primeiro escalão.

Depois, a presidente sofreu sua derrota no Congresso ao ver rejeitada no Senado a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres), um técnico de sua confiança. Após a derrota e o manifesto, Dilma decidiu trocar seus líderes no Congresso, o que gerou novos descontentamentos pela forma e pelas escolhas feitas.

O coordenador da bancada nordestina no Congresso, deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) disse que "a dona Dilma tem que tomar cuidado, porque a relação dela com o Congresso está igual a do Collor". Ele lembrou que um dos motivos que levaram ao impeachment do ex-presidente foi seu desprezo pelos congressistas.

A bancada do Nordeste, que reúne 153 deputados, também está descontente com o tratamento recebido do governo, mas reivindica especificamente a renegociação das dívidas de produtores rurais nos Estados da região e a suspensão imediata das execuções dos débitos promovidas pelo Banco do Brasil e pelo Banco do Nordeste.

Patriota ameaçou "votar contra o governo até resolver essa situação". Ele pretende levar na próxima quinta-feira (22) um ofício reivindicatório sobre as dívidas agrárias da região a Dilma.

O deputado, no entanto, dificilmente conseguiria mobilizar todos os 153 deputados da região, já que alguns deles são do PT e não devem votar contra a orientação do Palácio do Planalto. Esse quadro de insatisfação generalizada faz com o que o governo evite votações complicadas no Congresso. Se depender da área política do Executivo a reforma do Código Florestal, por exemplo, deve ser votada só no segundo semestre.

Reação
Amanhã, a votação da medida provisória 547, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e permite a criação de um sistema de monitoramento e informações sobre desastres, é considerada chave pelo governo para saber com quantos senadores ainda pode contar depois da saída do PR da base aliada e a escolha do peemedebista Eduardo Braga (AM) para liderar os governistas na Casa.

Uma fonte do governo disse que a ordem da presidente é esticar a corda e não dar espaço para as ameaças e pressões dos aliados. Segundo essa fonte, que pediu para não ter seu nome revelado, Dilma não determinou uma ofensiva para conter a gritaria dos aliados, mas está se envolvendo mais nas negociações e aposta que depois de um tempo de acomodação, que pode durar mais algumas semanas, os partidos voltarão a se tranquilizar.

Outra fonte do Executivo disse que não há "pressa para votar nada".

Ao mesmo tempo, Dilma também vai afagar os aliados com recursos, liberando emendas parlamentares já em abril. A decisão é outra tentativa de aplacar parte da revolta dos membros da coalizão, que aguardam a liberação de recursos antes do início da campanha eleitoral em junho.

Outra ação da presidente para se distanciar da ideia de vive uma crise política, é dar mais visibilidade à agenda econômica. Na próxima quinta-feira, por exemplo, ela tem reunião com pesos-pesados da indústria para cobrar mais investimentos privados.

Também nas próximas semanas, Dilma deve anunciar mais uma rodada de estímulos à produção industrial ampliando o programa Brasil Maior, que entre outras medidas cria regimes tributários especiais para setores econômicos estratégicos.

Fonte: R7
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