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Ditadura do espelho

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por Miosótis Lúcio

Aconteceu lá em casa, mas poderia ter sido na sua.

Ao chegar da aula de inglês, Mariana veio ao meu encontro e, com ar de enfado, me entrega uma fotografia em que estamos juntas. Admirada, pergunto por que ela havia tirado do porta-retrato. Ao que me respondeu: “a professora pediu pra levar uma imagem de alguém que a gente ache bonita”. Empolgada, insisto: e o que a professora achou? “Não mostrei pra ela. Todos os meus colegas levaram fotos de modelos profissionais, famosas...”

Este episódio retrata minha carreira meteórica e frustrada de linda – é bem verdade! Mas traz alguns elementos interessantes para reflexão.

Um grande contingente de mulheres está hoje inserido no mercado de trabalho. Atuamos com desenvoltura e competência em empresas públicas e privadas, no meio político e artístico. Conquistamos o direito de ter filhos ou não; estudar, ter uma carreira e mesmo, ser donas de casa. Num relance, podemos enumerar uma lista de grandes conquistas femininas ao longo do último século; porém, quero dedicar atenção a uma casca de banana colocada bem embaixo de nossos pés.

Conciliar vida profissional, trabalhos domésticos e educação dos filhos sobrecarrega a mulher física e emocionalmente. Tempo para lazer é ilustre desconhecido. Depressão e isolamento são queixas recorrentes.

Ali, diante de nós, na televisão, revistas, filmes e em todos os ambientes, se agiganta voraz algoz feminino: corpos nus e bem definidos, perfeitos em curvas e linhas, nos aprisionam a um modelo de beleza muitas vezes inatingível, castrador e dilacerador da auto-estima e velozmente, sem tempo para refletir, nos deixamos oprimir não mais pelos pais, maridos ou irmãos, mas pela mídia.

Temos nos tornado prisioneiras dessa imagem que é exterior a nós e que não contribui para construir uma identidade feminina, mas apenas para nos identificar com o modelo social proposto.

Não precisamos mais queimar soutiens em praças públicas, é chegado o momento de fortalecermos atitudes que estimulem o crescimento de Marianas que se amem, se valorizem e façam escolhas que respeitem sua individualidade.
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